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UE precisa de uma Dinamarca para biocombustíveis

A sede da Europa por biocombustíveis poderá ter repercussões globais, incentivando agricultores a abrir uma área do tamanho da Dinamarca de matas virgens e de terras abandonadas, segundo um relatório da União Europeia (UE).

Uma área de 4,5 milhões de hectares poderá ser afetada, segundo a mediana de 15 modelos gerados por computador no relatório da UE, que foi divulgado após a Reuters invocar leis de liberdade de informação. O pior cenário pode ser quatro vezes mais grave. Se a terra cultivável adicional for obtida por meio da limpeza de terras ainda não usadas, isso poderá resultar na liberação excepcional de pelo menos 200 milhões de toneladas de carbono – quase o mesmo que as emissões geradas anualmente por combustível fóssil na Alemanha.

O estudo, feito por um centro de pesquisa em Ispra, na Itália, é a tentativa mais abrangente da UE de tentar compreender as complexas interações entre biocombustíveis, agricultura e mudança climática. O comissário europeu de Energia, Günther Oettinger, estabeleceu alguns parâmetros básicos para sustentabilidade de biocombustíveis e prometeu agir com base em qualquer nova evidência de impacto negativo decorrente de mudanças no uso do solo.

“Se for confirmado que realmente existe um problema grave relacionado com o uso indireto do solo, poderemos adaptar a nossa legislação”, disse ele, em resposta a uma investigação da Reuters que apresentou evidências crescentes contra os combustíveis. O bloco está tentando entender o impacto negativo de planos para obter cerca de 7% do combustível usado em transportes a partir de biocombustíveis até 2020, numa iniciativa que poderá abrir um mercado avaliado em US$ 17 bilhões ao ano.

Agricultores da UE estão prospectando essa oportunidade, assim como produtores no Brasil, na Malásia e na Indonésia. Mas uma nova perspectiva científica, conhecida como “mudança indireta do uso do solo”, lança dúvidas sobre as credenciais ecológicas dos biocombustíveis e poderá minar o seu futuro na Europa como uma alternativa aos combustíveis fósseis com níveis elevados de carbono.

A premissa básica a respeito dos biocombustíveis é que plantas, quando crescem, absorvem tanto carbono quanto liberam ao serem queimadas numa máquina – portanto, seu impacto líquido sobre o clima é zero, exceto pelas emissões provenientes do maquinário agrícola. Mas críticos dizem que isso é uma simplificação grotesca. Pelo novo conceito, a realidade é bem mais complexa. Em poucas palavras, se tomarmos um campo de grãos e alternarmos a lavoura para biocombustível, alguém ficará faminto, a menos que aquelas toneladas de trigo faltantes sejam cultivadas em algum outro lugar ou se a produtividade for melhorada. O grão necessário para compensar o déficit poderá vir de qualquer lugar, incentivando agricultores a ocupar novas terras. Queimar florestas para limpar esse solo pode injetar vasta quantidade de emissões na atmosfera, o suficiente para anular o benefício com os biocombustíveis. Para produzir biodiesel equivalente a um milhão de toneladas de petróleo, a UE geraria impacto indireto igual a 341,6 mil hectares de terra. Para o etanol, o impacto é de 386,4 mil hectares.

Dados da UE emostram que a estratégia de biocombustíveis do bloco implica um aumento no consumo para o biodiesel de 6,3 milhões de toneladas de óleo equivalente (Mtoe) entre agora e 2020 e, para o etanol, de 6,08 Mtoe.

Assim, a estratégia de biocombustíveis traria um impacto indireto de 2,15 milhões de hectares no caso do biodiesel, e de 2,35 milhões de hectares no etanol. A mediana dos 15 modelos formulados pela CE implica que a estratégia de biocombustíveis da UE provocará um impacto na mudança do uso do solo de 4,5 milhões de hectares de terra em 2020. Os números usados nesse cálculo estão no extremo conservador da faixa de variação.

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