Trator do MT vai rodar com biodiesel
Produtores vão arrendar fábrica da Bunge em Cuiabá para produzir substituto do diesel. Os produtores de soja do Mato Grosso estão em fase final de negociação para alugar uma fábrica de óleo vegetal da Bunge, que está desativada, na capital do Estado, Cuiabá. O objetivo é construir, num terreno anexo à indústria, uma usina biodiesel de soja, para substituir parte do diesel de petróleo na frota de máquinas cativa, ou seja, nos tratores, colheitadeiras , implementos agrícolas e caminhões que operam “dentro da porteira” das fazendas.
“Temos o diesel mais caro do Brasil e, ao mesmo tempo, o óleo vegetal mais barato do País”, disse o governador Blairo Maggi sexta-feira, em visita à 13 Agrishow Ribeirão Preto, que terminou sábado.
O negócio com a Bunge pode ser fechado quarta-feira, segundo Eraí Maggi Scheffer, proprietário da Sementes Bom Futuro, de Rondonópolis (MT), e um dos idealizadores do projeto. Os produtores pretendem investir R$ 30 milhões na construção da usina para produzir 400 mil litros por dia de biodiesel, ou mais de 120 milhões de litros por ano. Como a capacidade de processamento da unidade da Bunge é de 1,8 milhão de toneladas por dia, seriam usadas mais de 600 mil toneladas de soja por ano, ou 4% da produção do Estado, de 15 milhões de toneladas.
“O diesel tem sido o grande vilão do produtor rural no Mato Grosso”, disse Scheffer. Segundo ele, em três anos o combustível no Estado aumentou de US$ 0,30 para US$ 1 por litro, ou 233%. Além de absorver parte da produção de soja, a usina de biodiesel levaria à redução dos altos custos com o diesel mineral. Segundo Scheffer, o custo de produção do biodiesel em Cuiabá seria de R$ 1,30 por litro. Os agricultores usariam para o biodiesel parte da estrutura própria de armazenagem e distribuição de diesel.
Scheffer calcula que o diesel passou a representar entre 29% e 36% do custo direto de produção da soja, de US$ 400 a US$ 500 por hectare. Ele explica que o consumo do combustível é de até 45 litros por hectare no campo (do preparo do solo à armazenagem do grão) mais 100 litros por hectare no transporte até os portos. Ou seja, consomem-se 145 litros de diesel (a US$ 145) por hectare de soja. “Só o impacto do aumento de preço do combustível em três anos supera US$ 100 por hectare, o equivalente a até 25% do custo direto de produção”.
Segundo Scheffer, a usina adotará o processo de produção contínua de biodiesel. “Teremos grandes volumes a baixo custo, ao contrário do projeto do governo para os pequenos produtores, que é social e político”, afirmou. Segundo ele, a fábrica seria flexível: “Quando o preço da soja subir, usaremos girassol, caroço de algodão ou pinhão manso”.
Blairo Maggi demonstrou otimismo ao relatar o projeto da usina de biodiesel a Werner Santos, presidente da Valtra (Agco), na Agrishow. Santos lhe mostrou um trator Valtra BH-160 e disse: “Há anos usamos este trator com 100% de biodiesel, sem adaptações e sem problemas”.
Garantia estendida
“Trouxemos o trator B-100 para mostrar ao agricultor que ele funciona normalmente com 100% de biodiesel”, afirmou o engenheiro Rogério Zanotto, coordenador de marketing da Valtra. Ele informou que a fábrica, por enquanto, dá garantia para tratores B-5, com mistura de 5% de biodiesel no diesel de petróleo. “Em um ano, deveremos dar garantia para tratores B-20, mas podemos liberar a mistura acima de 20% imediatamente, desde que haja o acompanhamento da fábrica”.
O projeto do biodiesel é liderado pela Cooperativa Agroindustrial do Centro Oeste do Brasil (Coabra), em parceria com a Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja) e a Associação Mato-grossense de Produtores de Algodão (Ampa). Sergio Magalhães, presidente do Sistema Agrishow, estimou na sexta-feira que o evento em Ribeirão Preto movimentou R$ 500 milhões, 34% menos do que no ano anterior. O número de visitantes cairia 18,5%, para 115 mil pessoas.
kicker: Projeto de biodiesel poderá enxugar o mercado interno da soja e contribuir para recuperar os preços da commodity
