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Transformações marcam história recente do setor

Isolado da concorrência internacional, o setor açucareiro do Noroeste argentino, o mais importante do país, passou por uma profunda transformação nos últimos 15 anos. “A indústria açucareira argentina nasceu protegida (no fim do Século XIX), como um setor de grandes produtores que se apropriavam da renda da atividade. Cresceu amparada (por salvaguardas) durante a década de 30 e o período peronista (do presidente Juan Domingo Peron, que governou duas vezes, entre 1946-55 e entre 1973-74). (O ex-presidente Carlos) Menen não tirou a proteção, mas desmontou a estrutura produtiva do setor”, define a historiadora Maria Celia Bravo, da Universidade Nacional de Tucumán, que pesquisou o setor açucareiro argentino do início do Século XX.

Ela lembra que, a partir de 1991, Menen promoveu uma forte intervenção. Sem tirar a salvaguarda contra a concorrência internacional, desregulamentou a atividade, criou um sistema de cotas interno e uma política de preços baixos para consumo doméstico. Em atrito com os produtores, chegou a dissolver o comando de uma das principais entidades de classe dos engenhos de cana. Neste meio tempo, a Argentina teve, como o Brasil, um programa de promoção do álcool como combustível de automóveis, o Alconafta, mas que logo foi abandonado pelo governo.

Uma conjuntura internacional nada favorável, com queda dos preços do açúcar, levou à redução de 27% da área plantada na região, de 250 mil hectares em 1991 para 183,4 mil em 2001. Centenas de pequenos produtores saíram do negócio, trocaram o cultivo por cítricos (como limão) ou venderam suas terras para os grandes. Houve forte concentração de terras e produção nas mãos dos grandes engenhos que, na maioria, investiram em tecnologia. Isso fez com que a produção de açúcar crescesse, apesar da queda da área plantada. A produtividade subiu de 38,68 toneladas por hectare em 1990 para 63 toneladas em 2005, segundo a Estação Experimental Agroindustrial Obispo Colombres.

Também houve investimentos na produção de álcool, em sua maior parte destinado a usos tradicionais (bebidas, produtos de limpeza, cosméticos) e ao mercado externo. Alguns produtores já se armam para entrar no mercado de etanol como a Atanor, uma das maiores indústrias químicas argentinas, dona do segundo maior engenho de Tucumán, o Concepción, e outros dois no Noroeste; e a Cia. Azucarera Los Balcanes, dona do Florida, o quarto maior de Tucumán, com produção de 143,8 mil toneladas de açúcar em 2006. A Balcanes investirá este ano US$ 20 milhões em suas destilarias e refinarias, frente aos US$ 18 milhões de 2006 e o mesmo valor em 2005.

A expectativa é elevar em 30% a capacidade de produção de álcool da usina Florida, a partir dos 350 mil litros diários atuais. A maior parte desse álcool é vendido internamente para empresas de comercialização de álcool hidratado para uso tradicional. A fábrica ocupa 600 mil m² nas cercanias de San Miguel, ao lado da fazenda Florida onde a Balcanes mantém sua plantação de cana. Desde 1994, a Florida elevou a participação na produção total de açúcar da província de 4% para 10% e se prepara para atingir 175 mil toneladas este ano, dos quais 30% são para exportação.

Os seis moinhos, instalados em um antigo edifício (do final do Século XIX), e grande parte dos equipamentos e tubulações para destilação, adquiridos da indústria paulista Zanini, estão sendo renovados com tecnologia argentina, diz o diretor da área de destilaria e comercialização da Balcanes, Gabriel Sustaita. Segundo ele, a usina também fez contrato com a Satake do Brasil para absorver tecnologia de produção de etanol do milho. “A palavra é flexibilização. Queremos ser flexíveis para poder maximizar a rentabilidade da empresa e aproveitar as opções de mercado, seja produzindo mais açúcar, álcool de cana, aproveitando a capacidade instalada para gerar energia elétrica e aproveitando a destilaria para obter álcool de cereais”.

A usina instalou ainda um equipamento para produção de etanol, visando o exterior. Segundo Sustaita, a Balcanes espera poder elevar suas exportações principalmente para Ásia e Estados Unidos, a partir de um projeto, ainda em negociação, de escoamento do álcool para o porto de Mejillones, em Antofagasta, Chile. (JR)

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