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Tio Sam e o álcool

Mais uma pílula fortificante em nossa secular tendência de “celeiro do mundo” está sendo ministrada de forma catártica na economia brasileira. Mas desta vez, nossa missão não será de alimentar o mundo com grãos, frutas e outras commodities! Vamos alimentar o mundo é com energia.

O Brasil, comparado aos grandes países do mundo, ainda tem uma das maiores áreas plantáveis existentes, solo fértil, abundância em água e muita vontade de crescer.

Recentemente tivemos a visita do presidente dos Estados Unidos, George Bush, ao país. Brasil e Estados Unidos passaram alguns anos distantes por conta de várias divergências políticas (caso da guerra do Iraque, em 2003), e também à prioridade norte-americana em relações com outras partes do mundo (Oriente Médio e Ásia) e às várias disputas comerciais e taxações (caso do aço).

Aparentemente, agora, as relações entre os dois países devem ser potencializadas por meio, principalmente, do comércio do etanol. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, os norte-americanos compraram cerca de 25% dos produtos exportados pelo Brasil em 2002. Em 2006, esse porcentual era de menos de 18%. Este retrato é exatamente o inverso se analisarmos as relações comerciais do Brasil com os vários países da América Latina.

Mas ultimamente os Estados Unidos passaram a se preocupar mais com a região, devido às ascensões de Hugo Chávez e Evo Morales. Além disto, a questão do etanol é fundamental na estrutura energética mundial, com a consciência de que o petróleo cria uma dependência muito grande no Oriente Médio, além do problema de vir a se esgotar em médio prazo.

Mas qual seria o interesse de nós, headhunters, nesta questão, além do macroeconômico? A falta de mão-de-obra especializada, em todos os níveis, para atender à atual e crescente demanda. Atualmente, as usinas já encontram dificuldades pela falta de qualificação profissional em diversas regiões do Brasil. Quando nos deparamos com o fato de que existem aproximadamente 135 destilarias de produção de álcool e açúcar em projeto ou em construção no País, imaginem a situação daqui a poucos anos.

Milhares de hectares de terras produtivas estão sendo redirecionados para a produção de cana-de-açúcar e as pesquisas sobre biotecnologia estão muito avançadas – acredita-se que variedades já estarão disponíveis no mercado em menos de cinco anos. São investimentos enormes, advindos de consórcios nacionais e internacionais. É comum perguntar a um reconhecido fazendeiro: qual é a cultura de sua fazenda? Ele responde: era gado, agora… só cana!

Se formos analisar as estruturas profissionais e financeiras que foram montadas 20 anos atrás, quando tivemos o primeiro programa de incentivo ao álcool, o Proálcool, não encontraremos, certamente, capital profissional local especializado e em quantidade para gerenciar toda esta transformação que está em curso no Brasil.

Serão necessários sofisticados profissionais do mercado financeiro para viabilizar o “funding” em projetos milionários; líderes de projetos e controllers para organizar os investimentos; gestores agrícolas, industriais e logísticos para estruturar as operações: traders e profissionais de trade finance com cultura e experiência internacional para potencializar os resultados comerciais.

Isto tudo sem falar na mão-de-obra básica que pode ser superior a 1.500 pessoas em uma usina de médio porte. Não esqueçamos também da demanda por insumos, fertilizantes, defensivos, máquinas e equipamentos.

Então, como uma de nossas missões nestes artigos é a de indicar tendências de mercado e oportunidades profissionais, pontuamos uma realidade que já é muito mais do que uma tendência. É o Brasil de hoje e do futuro.

(Gazeta Mercantil/Caderno C – Pág. 9) (Luiz Wever – Sócio-diretor da Ray & Berndtson. E-mail: wever@rayeb.com.br Próximo artigo deste colunista em 3 de maio)

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