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TI, o novo etanol brasileiro?

O etanol, como está na moda designar o velho álcool etílico, não é um sucesso novo no Brasil. Quando ainda na década de 70 o etanol era chamado de álcool, a crise do petróleo motivou o governo brasileiro a promover estudos econômicos e a desenvolver tecnologia para produzir o combustível em larga escala.

As usinas de açúcar e álcool foram subsidiadas e os automóveis movidos a álcool, logo se tornaram uma unanimidade nacional. Pouco a pouco a tecnologia foi melhorando e o programa se consolidando, até que, em meados dos anos 80, a lei da oferta e da procura fez com os produtores preferissem exportar açúcar, a vender álcool subsidiado no mercado interno.

As sucessivas disparadas do valor do barril de petróleo acabaram motivando as montadoras a inventar o carro flex. Atualmente, com as constantes crises no Oriente Médio e o aquecimento global, o biocombustível vem ocupando lugar de destaque no cenário mundial.

O Brasil hoje, por sua atitude visionária há três décadas, está em posição de vontade e pela sua política atual na mesa de energias renováveis. Mas, apesar do sucesso, o etanol não deveria ser o único item estratégico na pauta brasileira de exportações. Pensando em longo prazo, o Brasil deveria buscar tornar-se um provedor estratégico de ativos de maior valor agregado.

A tecnologia da informação (TI), fundamental no desenvolvimento do programa brasileiro de biocombustíveis, poderia ser esse ativo de alto valor agregado. Você sabia, por exemplo, que o Brasil é o oitavo no setor de TI global e que continua crescendo acima dos números da média mundial?

Apesar de já sermos relevantes no contexto mundial de TI, ainda existe muito espaço para crescimento. Em todo o mundo, só o mercado de serviços gira em torno de US$ 1,2 trilhão. Em 2006, por exemplo, a Índia foi responsável por US$ 30 bilhõesdos US$ 40 bilhões movimentados somente em serviços de software sob encomenda.

Quando comparamos as condições da indústria brasileira de TI com a indiana, damos-nos conta de que temos enormes vantagens estratégicas, as quais não estamos aproveitando. Da mesma forma que no caso do etanol, também em TI, o Brasil plantou há mais de trinta anos as raízes de suas vantagens competitivas. As empresas globais de software de gestão de negócios só criaram coragem para chegar ao Brasil no início dos anos 90.

Isso propiciou o desenvolvimento de empresas brasileiras de software de gestão (como por exemplo Datasul e Totvs) que nada ficam a dever às globais SAP e Oracle. Essas empresas, hoje ricas e com ações listadas em Bolsa, são um fenômeno brasileiro, sem equivalência no mundo. Também a inflação galopante exigiu dos bancos o desenvolvimento de softwares sofisticados para a proteção contínua dos ativos financeiros.

Tudo isso fez surgir um profissional brasileiro, especializado em tecnologia de informação, que é mais que um simples programador de informática. Enquanto os indianos são apenas ótimos na produção barata de componentes de software, os brasileiros entendem melhor os processos de negócios e agregam valor desde o desenho do software, até sua adequação à cada circunstância do negócio.

De quebra, o Brasil está quase que no mesmo fuso horário que os americanos e nossa cultura de negócios é muito mais próxima da deles. Estas vantagens brasileiras são para indianos, russos e chineses desafios a serem superados.

Pouco a pouco o governo brasileiro se dá conta da vantagem competitiva que temos à mão. TI começa a ser vista como um item estratégico para o desenvolvimento do País. Recebendo a devida prioridade por parte de nossos governantes, rapidamente estaremos diminuindo o “gap” no volume de exportações, que hoje nos separa dos outros países incluídos no BRIC (Brasil, Rússia, Índia, China) e que deveria abranger também a Coréia do Sul.

A Brasscom, associação de empresas de TI criada para fomentar a exportação de software e serviços de TI, acredita piamente no potencial brasileiro. Sabemos, porém, que será necessário o envolvimento do governo, dos empresários e da própria sociedade, para melhor explorar o potencial de TI, a ponto de nos motivarmos a remover alguns obstáculos. (Antonio Carlos Rego Gil)

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