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Terra deve continuar em alta no longo prazo

A terra é um ativo muito especial e é natural que os países tomem medidas para limitar investimentos, afirma Dung Nguyen, da Universidade de Pittsburgh

O crescente interesse de estrangeiros por terras no Brasil tem chamado a atenção de estudiosos de economia agrícola, que buscam explicar as razões do fenômeno e traçar cenários para o futuro e as possíveis consequências desse movimento. Um desses estudiosos é o professor vietnamita Dung Nguyen, da Universidade de Pittsburgh, que pesquisa desenvolvimento rural e economia agrícola e participa do programa Executive MBA Worldwide, da instituição americana, ministrado, simultaneamente, nos Estados Unidos, República Checa e Brasil.

Para o professor, a valorização dos preços das terras para agricultura no Brasil e em outros países está relacionada a vários fatores, e um dos mais importantes foi o aumento dos preços das commodities agrícolas – um movimento que ficou conhecido como inflação dos alimentos -, antes do início da crise financeira global.

Com a demanda crescente, os preços dos alimentos subiram, gerando um potencial benefício para os produtores com perspectivas de melhorar a oferta, explica o professor, em entrevista por telefone. Esse quadro puxou a valorização das terras, já que países que querem garantir sua segurança alimentar começaram a avaliar a possibilidade de encontrar terras em outros lugares para produzir e satisfazer sua demanda doméstica.

Os preços da energia e dos combustíveis também contribuíram para elevar as cotações das terras para agricultura, diz . “Estou certo de que a demanda por biocombustíveis é um componente importante para a alta dos preços”, afirma o estudioso.

Ele observa que o preço da terra e de qualquer ativo está relacionado ao potencial ganho! do investimento. “Como o preço dos alimentos subiu, como a demanda por etanol aumentou, o preço da terra pode subir e isso explica o investimento nesse tipo de ativo”. Há uma percepção, diz, de que o valor da terra pode aumentar no futuro porque a demanda por alimentos vai exceder a oferta e o preço das culturas vão continuar subindo.

O professor de Pittsburgh afirma que a terra, como ativo, tem uma característica muito especial. “A terra não é apenas usada para produzir, mas também é parte dos ativos que interessam a investidores. (…) Mas é um ativo diferente dos outros. Você não pode usar uma ação para produzir nada, mas a terra você pode usar para produzir algo”, acrescenta. Por isso, é um investimento que atrai tanto os interessados em produzir quanto os que buscam um ativo entre outros.

E quem são os investidores que estão de olho nas terras brasileiras? Segundo o pesquisador, são principalmente investidores internacionais, como fundos de investimentos e he! dge funds, que consideram as terras um ativo e buscam oportunidades em vários segmentos. “O interesse de um estrangeiro não é tanto de ir para o Brasil para produzir os alimentos, mas sim de investir em terras com a expectativa de que estas sejam valorizadas”. E o país é um dos que mais atraem porque, além de vastas áreas de terras, há potencial de valorização com o tempo, acrescenta.

Esse quadro é um pouco diferente do que ocorre na África, onde a agricultura ainda é pouco desenvolvida e falta infraestrutura. “Na África, o interesse de investir seria de alguns países que potencialmente enfrentam a questão da segurança alimentar. Há terras que não são desenvolvidas na África, porque a infraestrutura é ainda muito precária e não há investimento suficiente do governo”, afirma. Assim, avalia, essa seria um aposta atraente para aqueles investidores interessados em desenvolver as terras na África, cultivar lá e levar a produção para seus países.

Apesar de enfatizar que ! não faz previsões, Nguyen afirma que sua percepção é que no curtíssimo prazo as cotações das terras tendem a subir. No médio prazo, podem se estabilizar ou mesmo recuar, mas há fundamentos que indicam valorização num horizonte de tempo mais distante. O pesquisador diz ainda não ver risco de uma bolha no mercado de terras hoje, mas admite que os preços desse ativo refletem um otimismo também existente no mercado de ações.

Definindo a terra como “um ativo muito especial” , o professor de Pittsburgh considera “muito natural” que países cujas terras são alvo de interesse de estrangeiros tomem medidas para limitar esses investimentos. “(…) A terra é um ativo muito especial e está ligada a um sentimento nacional de segurança. A questão da propriedade de terra por estrangeiros tem várias implicações (…) então é natural que os países tomem medidas para proteger a terra”.

Assim, afirma, se os governos decidem vender ou alugar terras para investidores estrangeiros certas con! dições e limitações são necessárias para que essa seja uma política viável. Para ele, além do risco que existe em qualquer tipo de investimento, estrangeiros que aplicam em terras devem estar ciente também dessas limitações.

A questão da aquisição de terras por estrangeiros é um desafio para o Brasil, na análise do pesquisador. Ele observa que uma terra produtiva é atraente para muitos investidores mas ao mesmo tempo há uma grande população local que depende da terra para seu bem-estar. “É um conflito. (…) uma questão que tem de ser vista no contexto do desenvolvimento econômico do país”, conclui.

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