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Térmica a diesel abastece Noronha

Marcelo Corrêa, presidente do grupo Neoenergia, assistia ao show de Roberto Carlos com a esposa no dia 12 de junho de 2007 quando soube que um incêndio destruía a usina termelétrica de Fernando de Noronha. Além de não esquecer que o acidente acabou com o romance daquele Dia dos Namorados, Corrêa guarda na memória que por um triz a ilha não virou cinzas. Bastava o fogo ter alcançado os tanques de diesel. Felizmente, em menos de 20 horas, o trabalho dos bombeiros e de um vento bastante favorável apagou o incêndio.

Na semana passada, Corrêa inaugurou uma nova estação termelétrica em Noronha, a usina Tubarão, com 4.500 kW. Mais uma vez, porém, ela será movida a diesel, combustível que, além de ser um dos mais poluentes, impõe riscos de acidentes à ilha que ganhou da Unesco (órgão das Nações Unidas para educação, ciência e cultura) o tí! tulo de Patrimônio Mundial Natural. Hoje, por causa principalmente da usina termelétrica, a emissão per capita de gás carbônico, responsável pelo efeito estufa, é de 50,3 toneladas por ano, montante superior ao emitido pelos americanos.

Corrêa, Ibama e a administração da ilha sabem que a geração a diesel está longe de ser ideal para o paraíso ambiental. Ninguém, porém, conseguiu encontrar outra solução energética que substitua parte significativa da queima do combustível fóssil em menos de uma década. É o que aponta um estudo elaborado pelo governo pernambucano em parceria com Ibama, Agência Nacional de Energia Elétrica, Petrobras e Neoenergia.

“Pesquisamos muito, mas chegamos à conclusão que não há como garantir a energia elétrica de uma ilha que tem mais de 3 mil habitantes, vive do turismo e está a mais de 500 quilômetros de continente sem um sistema a diesel”, diz Corrêa, presidente do grupo responsável pela distribuição de energia em Pernambuco, além da geração em Noronha.

O relatório final do estudo para o caso de Noronha aponta que a introdução de novas fontes de energia menos poluentes depende de uma matriz energética de segurança, que não dependa das condições climáticas para funcionar. É o caso da usina Tubarão, movida a diesel. A ilha depende de energia elétrica até para ter água potável. Isso porque a água doce que sai das torneiras de Noronha vem da praia do Boldró. Um complexo sistema movido a energia bombeia e dessaliniza a água do mar.

Hoje, quase 100% da energia da ilha é gerada pelo diesel. Apenas 20 das 180 pousadas de Noronha esquentam a água do chuveiro com energia solar. Uma torre eólica já chegou a prover 6% da necessidade de energia da ilha, mas um raio paralisou seu funcionamento.

Em outros santuários ecológicos, o grupo Neoenergia encontrou alternativas. Em Morro de São Paulo (BA), ilha próxima do continente, cabos submarinos substituirão a queima do diesel neste ano. No arquipélago pernambuca! no, os mais de 500 quilômetros inviabilizam essa operação. Em Abrolhos (BA), conjunto de ilhas quase inabitado, placas solares vão gerar energia.

Em Noronha, a partir de agora, novas alternativas serão aos poucos implantadas. Por meio do uso dos biocombustíveis e das energias solar, eólica e das ondas, a expectativa é que em dois anos 20% do consumo energético da ilha seja gerado por fontes limpas e renováveis. Em seis anos, deve-se alcançar 45%. Só em duas décadas é que se prevê chegar a quase 100%. “A eliminação completa do diesel vai depender do avanço da tecnologia. Hoje isso é impossível”, diz Gustavo Araújo, coordenador do grupo de trabalho responsável pelo estudo da matriz energética da ilha.

Depois do incêndio, o primeiro passo foi reconstruir a usina termelétrica erguida por imigrantes americanos na década de 50 com sistemas mais modernos, um investimento de R$ 10 milhões da Celpe, concessionária controlada pelo grupo Neoenergia. Os novos geradores, por exemp! lo, podem utilizar biodiesel em até 20% do total de óleo consumido. O nível de poluição é controlado nas chaminés. A empresa não informa em quanto a nova usina poderá reduzir a emissão de gás carbônico, mas diz que o início das operações já mostrou que o consumo de diesel está menor para uma geração maior de energia.

As inovações também visam evitar incêndios. Novos hidrantes podem fazer a detecção e a extinção automática de fogo. Os quatro geradores passaram a ficar separados por compartimentos anti-fogo. E, para não contar mais uma vez com a sorte de que o vento esteja na direção correta em caso de incêndio, a distância entre geradores e tanques de diesel passou de 1,5 metros para 14 metros.

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