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Terceirizadas de CCT buscam novos mercados

As empresas prestadoras de terceirização do corte, carregamento e transporte – CCT, buscam novos nichos de mercado. Assumir o ciclo completo da produção, com plantio, corte, carregamento e transporte até a unidade fabricante é uma das apostas, embora incipiente. Outra investida é junto à área de renovação da safra 2003/04 da região Centro-Sul.

São alternativas para a retomada de um segmento da cadeia sucroalcooleira que cresceu na segunda metade da década de 1990, em meio à crise do setor, e atualmente vive o declínio. Apenas na região de Ribeirão Preto – SP, estima-se em 12 o número de prestadoras terceirizadas que fecharam as portas de 2001 para cá.

A derrocada escora-se na verdadeira predação vivenciada pelos próprios prestadores. Para conquistar contratos, muitos reduziram os preços a ponto de comprometer a qualidade. E essa, por sua vez, é a essência da existência da terceirização do CCT. “Não podemos contratar colhedoras que mais pisoteiam do que recolhem”, observa um dos 12 técnicos e gerentes agrícolas consultados.

A gestão das reformas acendeu a luz no fim do túnel para as terceirizadas. A intensa temporada de chuvas, que apenas na região de Ribeirão Preto foi ininterrupta durante 23 dias de janeiro, atrasou as práticas de renovação de canaviais. Como resultado, o plantio só foi possível a partir de fevereiro. Não bastasse isso, muitas das áreas degradaram-se, com erosões, e obrigou as empresas a refazer as operações de plantio.

O retardo no processo gerou inquietação entre os executivos das unidades. De uma hora para outra – uma vez que as condições pluviométricas não soavam tão desastrosas – eles tiveram de decidir para onde remanejar a frota própria de máquinas e de caminhões: nos trabalhos antecipados de corte e transporte ou nos tratos culturais e no plantio? Os veículos dos prestadores de serviços surgiram como alternativa.

Estima-se que ao menos metade do plantio de renovação, que chega a 20% dos canaviais paulistas, será efetivado pelas empresas terceirizadas. “Se fecharmos os contratos previstos, colocaremos 50 caminhões para prestar serviços na safra 2003/04”, diz Carolina Frederico, diretora da Riversul Serviços Gerais Ltda, de Cravinhos – SP. Seu entusiasmo é partilhado pelos executivos das demais cerca de 20 prestadoras com sede nos municípios próximos a Ribeirão Preto.

Se confirmadas as previsões, ganham também os fornecedores de máquinas e de caminhões das regiões Norte e Nordeste, cuja safra terminará em meados de março. Logo em seguida, sem descanso, eles começam a chegar à Centro-Sul para reforçar as frotas terceirizadas.

Idoneidade é principal requisito na escolha do prestador

A adoção das prestadoras de serviços terceirizados em CCT pelas unidades produtoras é uma estratégia mais necessária do que econômica. Geralmente, os contratos rezam pagamento pela tonelada entregue na fábrica dependendo a distância.

Conforme apurado junto a unidades que receberam propostas de terceirização, os preços do transporte da tonelada de cana-de-açúcar oscilam entre R$ 77 – se a distância é de até cinco quilômetros da planta industrial – a R$ 100, no caso de até 20 quilômetros. Até aí tudo bem porque, somados aos custos trabalhistas e de desgaste e de manutenção dos veículos, eles coincidem com os despendidos pelas unidades.

O problema se complica no quesito idoneidade. Apesar de assumir toda a responsabilidade trabalhista e de qualidade do serviço a ser prestado, as fornecedoras, muitas vezes, se deparam com o descontrole da situação. É o caso, por exemplo, de determinado motorista autônomo, incluído no contrato de prestação do serviço, trocar de hora para outra o prestador por um serviço mais atraente.

Há outros inconvenientes que tornam o fabricante refém da situação. Um deles ocorre quanto o caminhão de terceiro está com peso acima do permitido, e a Polícia Militar autua. O “pepino” costuma sobrar para a fábrica – e não só em termos legais, mas com a perda temporária, mas essencial, da carga da matéria-prima.

Os empresários do ramo de terceirização afirmam que só fica nesse mercado quem é idôneo. No caso dos motoristas autônomos contratados para determinados serviços, também chamados de quarteirizados, é comum a prática de cláusulas de retenção. Ou seja: a cada atraso na entrega, determinado percentual é retirado de sua remuneração.

O registro profissional dos funcionários – que tira a responsabilidade trabalhista das fábricas é tido como principal fonte de economia na terceirização – é uma das exigências que os fornecedores atestam providenciar e de fácil checagem pelo setor administrativo da unidade.

Janir Reis Matos, ex-gerente agrícola da Companhia Albertina, de Sertãozinho – SP, e atual diretor de empresa prestadora de terceirização de CCT, reconhece que o mercado patina, mas tem chances de dar a volta por cima. Essa saída atende pela gestão completa da planta.

Transbordo e trator circulam com bitolas no mesmo espaçamento

O sistema de produção completa, em fase embrionária em unidades do interior paulista, consiste de contrato firmado entre a fábrica, o dono da terra e o prestador de serviço. O terceirizado passa a ser remunerado conforme o ganho de produtividade proporcionado por hectare. “Essa alternativa permite à unidade desmobilizar o sistema e, assim, conseguir economizar”, observa Matos.

A terceirização dos serviços tem posturas bem diferentes entre os técnicos do setor. A Usina Corona – ex-Bonfim, com sede em Guariba – SP, adquirida pela Corona BNT, controladora também da Tamoio, tem os serviços de reboque, carregamento e transporte 100% terceirizados. “Foi uma estratégia porque a estrutura existente não era capaz de tocar duas fábricas”, diz Francisco José Erler, gerente da Divisão Automotiva.

A Usina Açucareira Guaíra, de Guaíra – SP, aposta 100% na gestão própria de CCT. Investe em tecnologia para evitar o pisoteio das soqueiras e introduziu uma técnica que por meio de ajuste do cabeçalho, fez a bitola do transbordo de 2m80 metros ficar em 1m40 metro, igual à bitola do trator. “Sendo assim, transbordo e trator circulam no espaçamento 1m40, o padrão da companhia”, explica Paulo Reis Junior, gerente agrícola e de transportes.

A Usina Alta Mogiana, de São Joaquim da Barra – SP – opera CCT 100% por conta própria, mas terceiriza o plantio de 1 mil hectares. Há mais de dez anos, a Destilaria de Álcool Serra dos Aimorés – DASA -, de Serra dos Aimorés – MG, terceiriza em 100% os serviços de plantio, corte, embarque e transporte de sua matéria-prima.

Sidney Aparecido de Oliveira, da Usaciga, de Cidade Gaúcha – PR, explica que não aplica a terceirização devido à “falta de empresa deste perfil, instalada em nossa região, com suporte técnico e operacional e ainda com disponibilidade de recursos materiais para assumir um compromisso de grande porte”.

Elder Fávero, da Usina Caimann, de Campestre do Maranhão – MA, diz que atualmente a companhia terceiriza 50% do carregamento e transporte, mas pretende reduzir a terceirização ao máximo em virtude dos custos.

José Adael Manhaes, assessor da diretoria da Usina Sapucaia, de Campos dos Goitacazes – RJ, diz que a companhia terceiriza há anos seus serviços “com sensíveis vantagens de custo e administrativas, uma vez que se evita a ociosidade de máquinas e de funcionários”.

Para João Martins de Freitas Filho, gerente da Divisão Agrícola da Usina São João, de Araras – SP, “as operações de CCT, principalmente a colheita manual, não podem ser terceirizadas por gerar passivo trabalhista”. A terceirização, explica, “pode ser uma boa opção quando feita dentro da legalidade trabalhista e fiscal, caso contrário as multas e indenizações podem comprometer todo o ganho conquistado”.

A Companhia Energética Santa Elisa, de Sertãozinho – SP, já utilizou a terceirização, mas agora retoma para si determinadas funções. A companhia, conforme sua assessoria, prefere não analisar a terceirização da produção completa sob a ótica da generalidade.

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