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Tentativa da Esalq para unificar as perquisas de biodiesel no Brasil pode ter dificuldades

Unificar o esforço das pesquisas desenvolvidas no país voltadas à produção de biodiesel, além de centralizar a definição de estratégias no campo da energia baseada em fontes alternativas são os principais objetivos do Pólo Nacional de Biocombustíveis de Piracicaba. O protocolo de intenções assinado nesta sexta-feira (16) na cidade paulista pelo presidente Lula faz da Esalq – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz a coordenadora do projeto. Ligada à USP – Universidade de São Paulo, a Esalq tem longa experiência na condução de pesquisas sobre o álcool combustível. Porém, essa tentativa poderá encontrar dificuldades já que algumas manifestações de desagrado foram publicadas na imprensa do Rio de Janeiro e do Nordeste, lugares onde também são desenvolvidas pesquisas sobre biodiesel.

A notícia surpreendeu e foi comentada no Diário do Nordeste pelo autor da primeira patente nacional de um combustível derivado de óleos vegetais, Expedito Parente, da Tecbio e Nutec, com a reivindicação de uma unidade de pesquisa similar, “com a mesma verba” no Nordeste, e outra na região Norte. Embora não exista ainda definição alguma sobre verbas para o Pólo Tecnológico que será sediado no Interior Paulista. Anteriormente, o Jornal do Comércio do Rio de Janeiro publicou que o Secretário Estadual de Energia, Petróleo e Indústria Naval do Estado do Rio de Janeiro, Wagner Victer, considerou “um equívoco” o fato do núcleo de coordenação do Projeto do Pólo de Biocombustíveis de não incluir a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) no projeto. Victer descreveu o lançamento do Pólo Tecnológico como uma “Paulistização” do governo federal.

Piracicaba é conhecida como Pólo Sucroalcooleiro e centraliza boa parte da produção de açúcar e álcool do Sudeste. Porém, até o presente, nenhuma pesquisa sobre biodiesel realizada pela ESALQ pode atestar tradição dessa escola nesta área de pesquisa.

Na Universidade de São Paulo, Campus de Ribeirão Preto, o LADETEL – Laboratório de Desenvolvimento de Tecnologias Limpas, onde é executado o Projeto Biodiesel Brasil tem desenvolvido um novo processo e tecnologia de produção de biodiesel à base de álcool de cana. Esse laboratório também avalia a mistura do biodiesel em diferentes proporções ao diesel de petróleo. Os pesquisadores têm utilizado 11 variantes de óleos em testes e ensaios: soja, amendoim, girassol, algodão, milho, canola, mamona, pequi, macaúba, babaçu, dendê e óleos provenientes de fritura utilizados por restaurantes. Os óleos usados são cedidos pela rede de lanchonetes Mcdonalds e pelos restaurantes universitários da Esalq, da USP (campus de São Paulo, Ribeirão Preto e São Carlos) e da Unesp – Universidade Estadual de São Paulo (campus de Jaboticabal). A fonte mais usada é o óleo de soja por ser o mais abundante. Porém, os pesquisadores defendem o incentivo governamental ao cultivo da maior variedade possível de oleaginosas.

O LADETEL que produz o biodiesel fornecido aos seus parceiros, como a empresa América Latina Logística – ALL, movimentando locomotivas na malha ferroviária sul empregando B-25, a PSA Peugeot-Citroën, movimentando veículos com a mistura B-30 e fabricantes de geradores de energia elétrica utilizando o biodiesel puro (B-100), ganhou nesta semana, o apoio do maior fabricante e exportador de motores a diesel do Mercosul, a International Engines South America. A empresa que já tem experiência prévia nos Estados Unidos com biodiesel metílico, realizará pesquisas e testes conjuntos com o LADETEL empregando biodiesel etílico em sua linha de produção e também oferecerá assistência tecnológica a empresas transportadoras que usem o biodiesel brasileiro. A eficiência do combustível alternativo vem sendo testada pelos pesquisadores do LADETEL e da UNESP de Jaboticabal também em equipamentos agrícolas, como tratores da montadora Valtra com a qual é mantida a parceria desde o ano 2000. Os testes incluem análises de consumo, durabilidade e emissão de poluentes. Os pesquisadores avaliam as misturas B-20, B-50 e B-100 nesses tratores.

Outras universidades têm realizado testes em carros com biodiesel à base de óleo soja. Uma delas é a UFPR – Universidade Federal do Paraná, que utiliza o biodiesel produzido pela indústria mato-grossense – Ecomat (Ecológica Mato Grosso) em um carro modelo Golf diesel 1.9 turbo, cedido pela Volkswagen/Audi, de São José dos Pinhais. Esse é um dos veículos-teste em avaliação no âmbito do Probiodiesel e sua avaliação é dividida entre a UFPR, o Tecpar – Instituto de Tecnologia do Paraná e a Rede Paraná Autotech.

O óleo de fritura da rede Mcdonalds também “abastece” outro projeto de pesquisa, ou seja, uma parceria da Coppe – Coordenação de Programas de Pós-Graduação em Engenharia e da Escola de Química, ambas da UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro. São 25 mil litros de óleo empregados como matéria-prima para a produção de biodiesel. O combustível é testado em veículos cedidos pela Volkswagen. Óleos residuais também são transformados em biodiesel na Universidade Estadual Santa Cruz – UESC – em Ilhéus, BA. Esta última universidade tem uma planta piloto doada por uma universidade da Alemanha e utiliza metanol no seu processo, como a Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Dos cinco centros de produção de biodiesel (etílico ou metílico) no Brasil, aqueles que produzem o biodiesel metílico – TECBIO/NUTEC, UESC da Bahia e a UFRJ/COPPE não estiveram presentes no evento, não sendo possível verificar se foram convidados para o lançamento do Pólo de Biocombustíveis da ESALQ em Piracicaba. O responsável pelo LADETEL e o Presidente da ECOMAT, produtores de biodiesel etílico, estiveram presentes e manifestaram ter aceito o convite para o lançamento, porém não tinham o conhecimento detalhado do que o Pólo pretende, uma vez que não foram consultados ou informados previamente.

A inauguração oficial do Pólo, com a presença do presidente, na última sexta-feira (16), é fruto de uma proposta que nasceu em Piracicaba depois de uma visita do ministro da Agricultura Roberto Rodrigues resultando em um pré-projeto apresentado a Lula em outubro de 2003. A iniciativa do governo demonstra que o Pólo será o centro decisório e gestor da Política Nacional de Biocombustíveis e, para o diretor da Esalq, José Roberto Postali Parra, a expectativa dos pesquisadores da instituição é a criação de uma sede que ainda deverá ser construída. A localização já foi até definida, seria na Fazenda Experimental Areão.

Outra perspectiva que se abre, e desejada pelos pesquisadores da ESALQ, é a destinação de recursos para financiar projetos de pesquisa, ainda que não se saiba se o Pólo terá o poder de indicar os projetos que devam ser financiados ou mesmo a sistemática de avaliação desses projetos. A primeira ação efetiva do pólo, de acordo com Parra, será a formação de uma comissão gestora. A intenção é reunir membros da universidade, do governo e do setor produtivo. As empresas, aliás, serão chamadas para patrocinar projetos de pesquisa que deverão ser definidos.

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