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Tendência de queda das commodities durou pouco

As commodities oscilaram bastante nos últimos dias. Depois de terem caído acentuadamente com a catástrofe que se abateu sobre a economia japonesa, com terremoto, tsunami e ameaça de desastre nuclear, voltaram a subir com a ação militar na Líbia.

Acreditava-se que a quase paralisação da economia do Japão, terceiro maior consumidor de petróleo, comprador de 15% do carvão mundial, 13% do minério de ferro e cerca de 5% de metais como cobre, zinco e alumínio, derrubaria as commodities.

Mas essa reação foi temporária. A médio prazo, a reconstrução das cidades japonesas destruídas vai aumentar as compras de matérias-primas como cobre, aço e zinco, sem falar na demanda por combustíveis alternativos à energia nuclear não só no Japão como em outros países que passaram a reavaliar seus programas energéticos. O gás natural do Reino Unido, por exemplo, subiu quase 15% depois do terremoto, enquanto o urânio caiu 27%.

Na verdade, artigo que acaba de ser publicado na revista “Finance and Development”, do Fundo Monetário Internacional (FMI), elaborado por dois membros do Departamento de Pesquisa do organismo, Thomas Helbling e Shaun Roache, afirma que a elevação dos preços das commodities alimentícias pode ter vindo para ficar. A análise vale também para as commodities energéticas.

De acordo com o artigo, depois de terem ficado nas décadas de 1980 e 1990 abaixo do patamar da época da Grande Depressão, em 1930, em termos reais, os alimentos mudaram o sinal. Desde a virada do século, os alimentos vêm subindo, com exceção do período que correspondeu ao auge da crise internacional, 2008 e 2009. A tendência de alta foi retomada no segundo semestre de 2010 e o índice de alimentos do FMI já está perto do pico anterior, de junho de 2008.

Para os economistas, alguns fatores indicam que a alta é uma tendência e não apenas resultado de fatores episódicos como as enchentes na Austrália, Paquistão e parte da Índia, e a seca na China, Argentina e Europa Oriental.

Uma das mudanças estruturais por trás da elevação dos preços dos alimentos é a melhoria de renda das camadas mais pobres em mercados emergentes e em desenvolvimento, que causou uma mudança de dieta, com o aumento do consumo de proteínas como carne, laticínios, óleos, vegetais e frutas. Segundo o FMI, os mercados emergentes e em desenvolvimento representam três quartos do crescimento global da demanda das principais colheitas desde o início do século.

Outro motivo é a explosão da demanda dos biocombustíveis, causada pela elevação dos preços do petróleo. A demanda de produtos agrícolas para a fabricação de biocombustível compete com a alimentação, principalmente no caso de produtos como milho, cana-de-açúcar e semente de uva. No ano passado, a produção de etanol absorveu 15% da safra global de milho. Nos Estados Unidos, a disputa é maior.

A alta dos combustíveis também te m impacto na elevação dos alimentos porque é usado em equipamentos na agricultura e em processamento, além de influenciar os preços dos fertilizantes.

Os problemas climáticos de 2010 acentuaram a tendência de base de elevação dos preços dos alimentos. Segundo os economistas do FMI, os preços das commodities alimentícias apenas vão se estabilizar se a oferta aumentar. Mas a resposta da produção tem sido gradual. A produtividade não vem crescendo no campo e a saída tem sido aumentar a produção com uma expansão da área plantada, com consequente aumento dos custos, obviamente repassados nos preços.

Se essas avaliações se confirmarem, são evidentes as consequências para a inflação e para a política monetária. A inflação corrente está perto de 6% e deve ultrapassar o teto da meta em meados do ano, mesmo sem a pressão mais forte das commodities, que devem retomar o pique de alta no segundo semestre, quando a reconstrução japonesa estiver deslanchando. Na previsão do Banc o Central (BC), a inflação só deve convergir para o centro da meta no próximo ano, mas não dará para contar com uma eventual colaboração das commodities para isso. Do jeito que as coisas estão, se os preços das commodities não atrapalharem já será muito bom.

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