JornalCana

“Temos um terço do setor em recuperação judicial”

A afirmação é de André Rocha

Rocha: etanol nunca acompanhou a valorização do petróleo

O otimismo com a cadeia produtiva sucroenergética para a safra 2020/21 impulsionado pela implantação do RenovaBio caiu diante da crise gerada pela pandemia. “Temos um terço do setor em recuperação judicial e que não está tendo acesso ao crédito. Para essas empresas já é complicado. As medidas solicitadas ao Governo ajudariam o etanol manter a competitividade em relação à gasolina e daria mais tranquilidade à cadeia produtiva”, disse André Rocha, presidente da Sifaeg/Sifaçúcar e Fórum Nacional Sucruoenergético, em uma live promovida pelo Sistema Faeg, na última sexta-feira (17), ao falar sobre os impactos do coronavírus no setor sucroenergético.

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De acordo com o executivo, o ano era bastante promissor, com bom consumo nacional de etanol registrado em 2019, com mais investimento em eficiência feito pelas empresas para buscar melhorar o ranking em relação aos CBios e havia uma boa recuperação do mercado de açúcar. “Fomos pegos de surpresa com a COVID-19”, afirmou Rocha, no evento online, que contou ainda com a participação de Alexandre Alves (IFAEG) e Joaquim Sardinha (Associação de Produtores de Cana de Goiás — Aprocana).

A queda do petróleo no mercado internacional também contribuiu para a atual situação do etanol, afetando os preços do biocombustível. “Mas fica até a dúvida se é uma estratégia da OPEP em tirar a competitividade das fontes alternativas de energia desestimulando a produção, não só do etanol no Brasil, seja de cana ou de milho ou de outras fontes. É um verdadeiro ataque aos biocombustíveis e às fontes alternativas de energia”, alertou.

Rocha afirmou que, apesar de sofrer com a volatilidade do preço da commodity, o etanol nunca acompanhou sua valorização. “O preço do petróleo já chegou a 140 dólares. Se fosse pegar pela paridade estaria vendendo o barril de etanol a 100 dólares, mas ele nunca passou de 40 dólares”, disse. Ele ressaltou ainda que outros produtos, como fertilizantes e alguns insumos com preços baseados no petróleo, não sofreram retração. “O próprio diesel pelo preço que a usina compra não caiu da mesma forma que o etanol, quer dizer, tivemos uma queda grande no faturamento, mas não nos custos”, elucidou.

O executivo lembrou que em Goiás, já existe o agravante com a queda do benefício fiscal do etanol anidro representando perda de 20%, conforme lei aprovada no final do ano passado. Como também, com a entrada em vigor, a partir deste mês, do Novo Protege (Fundo de Proteção Social do Estado de Goiás) com valor quase 60% maior do que o valor do ano passado, quando as usinas do Estado já pagaram R$ 300 milhões.

Setor emprega mais de 2,5 milhões de pessoas

Ele reforçou ainda que o País registra mais de 13 milhões de desempregados e seria um caos para a economia se o maior empregador e pagador de impostos, que está presente em mais de 1200 municípios, que emprega, diretamente e indiretamente, mais de 2,5 milhões de pessoas e é abastecido por mais de 70 mil fornecedores de cana, parar. “Temos uma expectativa grande que possamos caminhar com algumas sinalizações agora para ter um pouco menos de desespero”, disse.

De acordo com ele, as novas linhas de financiamento possibilitariam o estoque de dois milhões de litros de etanol por mês evitando a venda do produto a qualquer preço. “Dá um capital de giro para as empresas, a garantia da linha é o próprio produto. Quando o preço estiver acima, vende e já paga o empréstimo”, explicou, reforçando que é necessário o RenovaBio começar em 2020, pois  seria um ano teste para o mercado aprender e no ano que vem, fazer a comercialização dos CBios.

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Ao contrário das unidades do resto do Brasil, onde o mix é em média 55% para etanol e 45% para açúcar, o mix para as usinas de Goiás é 82% para etanol e 18% para açúcar. “Mesmo que as usinas tiveram a oportunidade de travar os contratos de açúcar, há uma quantidade grande de destilarias que podem parar de produzir e o impacto vai aparecer no caixa do Governo Estadual”, disse.

“Eu acredito que são poucos os casos de usinas com tanques lotados, mas não sabemos o que vai ocorrer no final da safra, se vai bisar ou não (a cana), se terá tanque para estocar o etanol, se é possível estocar um pouco no vizinho, elas vão buscar tanque em outros locais e observar. Esperamos que até o final da próxima sexta-feira a gente tenha boas novas”, afirmou.

Doação de álcool 70%

O presidente do Fórum Nacional Sucruoenergético disse também que a opção em ter um produto a mais no portfólio para ajudar no faturamento, como o álcool 70%, não é válida para o segmento, visto que as unidades não possuem autorização da Anvisa para a venda do produto. Houve uma flexibilização para a produção visando a doação para o Sistema de Saúde e instituições, embora tenha sido feito o pedido para a comercialização, não mirando o lucro, mas sim a oferta mais barata do produto para atender a demanda atual.

“Para cada um litro de gel você faz seis litros do hidratado, não ganha dinheiro com isso”, disse, afirmando que o setor já doou mais de 4 milhões de litros, sendo mais de 300 mil litros só pelas usinas de Goiás.

Força Maior

O executivo comentou ainda sobre a venda direta de combustíveis aos postos, afirmando que o maior entrave é o sistema monofásico e também sobre o anúncio de força maior feito por algumas distribuidoras, que foi mal recebido pelo mercado e causou stress entre as partes envolvidas. “Ninguém ganha com isso. Estamos dentro da mesma cadeia. Nós corremos um risco maior, não só cambial, mas de clima, e temos todos os nossos custos e mesmo assim temos que cumprir as nossas obrigações”, ressaltou, comentando que o momento é de renovar os contratos, mas querem adiar a discussão para junho, quando o cenário deverá estar menos nebuloso.

 

 

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