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Tecnologia viabiliza aplicação de meiosi para reduzir custos na plantação

Impulsionada pela tecnologia, a técnica criada há 38 anos pelo engenheiro agrônomo José Emílio Teles de Barcelos, volta a integrar o cenário canavieiro 

Pesquisa realizada em 2021 pelo Instituto Agronômico (IAC), com 77 empresas, totalizando mais de 340 mil hectares em áreas de renovação em todo o Brasil (1 de Alagoas, 1 da Bahia, 8 de Goiás, 2 do Mato Grosso, 4 do Mato Grosso do Sul, 11 de Minas Gerais, 15 do Paraná, 3 de Pernambuco, 31 de São Paulo e 1 de Tocantins), aponta que 77% dos produtores pesquisados disseram que utilizaram meiosi (Método Interrotacional Ocorrendo Simultaneamente) representando 26% das áreas de renovação em 2021. Segundo a pesquisa, 53% das áreas de utilizaram MPB (Mudas Pré-Brotadas), para garantir maior sanidade e eficiência de multiplicação.

Segundo os pesquisadores, na maioria dos casos, essas áreas vão gerar plantios sem falhas e com boa brotação que por sua vez irão produzir canaviais mais vigorosos e sadios. Além disso, a meiosi permite o plantio de uma cultura intercalar de ciclo mais curto, agregando receita aos produtores na mesma área e servindo ainda, em muitos casos, como adubo verde, o que propicia ganhos de produtividade nos próximos anos.

Criado em 1983/1984, época em que a internet não havia chegado ao Brasil, não havendo ferramentas como o GPS, o Método Intercalar-rotacional Ocorrendo Simultaneamente (Meiosi), encontrou dificuldades em se propagar pelo país. Como o sistema depende da precisão na marcação das 2 linhas de cana e, posteriormente, dos sulcos nos espaços usados para a rotação de cultura, a falta dessas tecnologias, dificultavam sua implantação.

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Nos anos 90/2000 as tecnologias de posicionamento nas máquinas, ainda não eram acessíveis a todos. Mas recentemente, essas barreiras tecnológicas, vem sendo rompidas e a meiose vai ganhando espaço e se firmando como grande aliada dos produtores trazendo vários benefícios, além da redução dos custos no plantio. Outro ponto importante foi a popularização dos MPBs (Mudas pré-brotadas) que faz com que seja possível levar para novas áreas material de qualidade sem a necessidade de tratamento dos colmos para montagem de viveiros.

Como tudo começou

José Emílio Teles de Barcelos

Para o professor e engenheiro Agrônomo, José Emílio Teles de Barcelos, desde quando foi criado em 1983, a meiosi já trazia importantes apelos em seu favor: rotação de culturas, produção de mudas sadias, economia no transporte de mudas, economia com a produção de alimentos, economia na instalação da lavoura.

“Na época ela também passaria a mensagem de minimizar as ‘cobranças’ da sociedade sobre os impactos da ‘monocultura’ canavieira, introduzindo a produção de alimentos nessas áreas. Tendo ainda apelo ambiental com a cobertura verde e redução da compactação do solo pelas leguminosas (soja, amendoim e crotalaria).

De acordo com o professor Barcelos, no ano de 1983, a Estação Experimental de Cana-de-Açúcar do IAA-PLANALSUCAR no Triângulo Mineiro, onde atualmente está localizada a Fazenda Água Limpa, da Universidade Federal de Uberlândia, foi a primeira área onde o sistema de meiosi foi instalado.  “Na ocasião, as sementes de soja, a plantadeira e o operador foram cedidos pelo Grupo Algar de Uberlândia, em troca pela colheita dos grãos na área plantada”, recorda Barcelos.

O trabalho ganhou uma publicação na edição de março de 1984, da Revista Saccharum (Revista Tecnológica da indústria açucareira alcooleira).

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No período de 1984 a 1990 o professor Barcelos realizou o Mestrado na UNESP-Jaboticabal-SP, tendo como Orientador o professor Dr. Ailto A. Casagrande. Nesse período, no segundo semestre de 1984, a meiosi, como projeto de pesquisa do Mestrado, foi instalada na Fazenda Santa Isabel, no município de Guaíba – SP, de propriedade de Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura. Na ocasião foram estudados tratamentos com cana/soja; cana/amendoim e cana/pousio. No ano de 1990, o professor Barcelos fez a defesa do tema em sua Dissertação de Mestrado.

De acordo com Barcelos, no princípio não houve muita aplicação prática, com o projeto ficando basicamente restrito aos anais do trabalho escrito. “Tivemos uma primeira divulgação na Revista Saccharum, em 1984 e posteriormente o experimento de mestrado foi desenvolvido na Fazenda Santa Isabel (do Dr. R. Rodrigues) e o complemento do plantio da área com meiosi pelos administradores (José Ap. Coelho e José Bício); Eles continuaram plantando-a nos anos seguintes. Até que a Globo Rural ‘descobriu’ e fez uma reportagem em rede nacional”, conta.

“Em seguida levamos a ideia da meiosi à Usina São Martinho. O engenheiro Agrônomo Júlio Campanhão se encarregou de instalá-la e divulgá-la por meio de “dia de campo” e outros eventos. Na Usina Colorado plantaram cerca de 2.500 ha com meiosi em 1993-94 sob orientação do técnico José Mauro G. Ferreira (que havia acompanhado junto conosco a primeira instalação da meiosi em Uberlândia em 1983-84 pelo IAA-Planalsucar)”, explicou.

O sistema também foi implementado pela Cooperativa de Assis – SP, Usina São José da Estiva – SP, e muitos outros (produtores, empresas, cooperativas, usinas, IAC, entre outros). Em 1996, a meiosi foi apresentada em um Congresso Internacional em Miami – EUA.

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O professor Barcelos elencou algumas considerações sobre o sistema:

“A meiosi (com leguminosas e outras culturas) nas áreas de reforma dos canaviais, permite um ganho considerável na produção de alimentos dentro da própria área canavieira; se presta para a multiplicação de mudas de cana no próprio local de plantio, ao mesmo tempo em que contribui para se obter aumentos na produção de alimentos nas áreas canavieiras; promove uma economia muito grande no transporte de mudas de cana para o plantio; promove uma redução nos custos de instalação de uma lavoura de cana, da ordem de 30-35%, em relação ao plantio convencional; facilita a realização do ‘ROGUING’ para eliminar possíveis doenças e/ou misturas varietais nas Linhas Duplas de cana garantindo melhor fitossanidade para todo o canavial. As linhas duplas de cana da meiosi exercem um controle de erosão para a cultura em rotação entre elas”, destacou Barcelos, que vê com muita satisfação o atual processo de expansão da técnica por ele criada há 38 anos.

“Considero que a meiosi, em 83/84, foi um ‘chute’ muito bem-intencionado, que graças a Deus e à participação de muitos em ‘lapidá-la’, vem proporcionando excelentes resultados; o que nos deixa muito feliz”, finaliza o professor José Emílio Teles de Barcelos.

Joacir Gonçalves

 

 

 

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