Mercado

Proibição da queima da cana-de-açúcar apresenta novos desafios aos cortadores

Com a decisão da Justiça Federal em Jaú de suspender as autorizações do governo paulista permitindo a queima controlada de palha de cana-de-açúcar em plantações da microrregião de Jaú (47 quilômetros de Bauru), os cortadores que vão atuar na safra deste ano estarão sujeitos a novos desafios como o aumento do desgaste físico e ao risco da presença de animais peçonhentos nas plantações.

Ao contrário do que ocorre no corte da cana queimada, as plantações de cana verde abrigam um número maior de insetos, cobras e até mesmo ratos. Daí a preocupação com os trabalhadores que estariam sujeitos à presença desses animais peçonhentos nas plantações. A palha verde da cana também exigiria do trabalhador maior desgaste físico para cortá-la.

Para o procurador do Trabalho Luís Henrique Rafael, do Ministério Público do Trabalho (MPT) em Bauru, a mudança não deve trazer prejuízos ao trabalhador rural. “O trabalhador teria este risco, mas isso é eliminado se ele usar equipamentos de proteção individual (EPIs). Ele tem que usar perneira (para proteger do facão), bota (para proteger da picada) e luvas”, diz.

Francisco Paulo Brandão, presidente da Associação dos Plantadores de Cana da Região de Jaú (Associcana), aponta que o maior problema é o grande desgaste físico que o trabalhador teria com o corte da cana verde. “O cortador médio corta de oito a dez toneladas ao dia com a cana queimada. Com a cana crua, ele corta de 2,5 toneladas a 3 toneladas e após 20 dias ele não tem mais condições físicas”, diz.

Para o procurador, este problema pode ser resolvido com pausas para descanso. “É muito mais fácil cortar a cana queimada, que não tem folhas. Realmente o trabalhador vai fazer mais esforço, mais movimentos. Porém, isso também não é o grande fator de risco porque isso pode ser diminuído se houver pausas para descanso”, explica Rafael, ressaltando que será necessário treinar os trabalhadores para evitar os riscos, inclusive de possíveis incêndios nos canaviais.

O procurador lembra que o maior problema, no entanto, estaria relacionado à produtividade das moendas. “A engenharia da moenda é projetada prevendo a queima da cana. Teria que alterar a velocidade, o tempo do motor da moenda, vamos dizer assim, para moer a cana verde. Isso geraria um pouco mais de custo para as usinas”, explica.

Banner Revistas Mobile