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George Soros ataca no campo

O megainvestidor George Soros mudou. O homem que já especulou contra o Banco da Inglaterra, contra quase todas as moedas da Ásia e contra o próprio Brasil, em 2002, agora está investindo no agronegócio nacional. Esse senhor de 76 anos, cuja fortuna é estimada em US$ 7,2 bilhões, acaba de adentrar o time de bilionários estrangeiros que está apostando no etanol brasileiro. Assim como Bill Gates, dono da Microsoft, e os meninos do Google, Larry Page e Sergey Brin, Soros se entusiasmou com o combustível verde. Ele participa do projeto de construção de três usinas de açúcar e álcool em Mato Grosso do Sul. Valor do empreendimento: US$ 900 milhões. Juntas, as três unidades irão processar 11 milhões de toneladas anuais e produzir 1 bilhão de litros de álcool. Além do etanol, a empresa do financista húngaro, a Adeco, atua também em algodão e café no País. “Quando tudo estiver funcionando, o faturamento das operações no Brasil poderá ser igualar ao da Argentina”, conta Marcelo Vieira, o principal sócio de Soros no Brasil. Calcula-se que as operações rurais do megainvestidor na Argentina já alcancem um faturamento de US$ 30 milhões.

A trajetória de Soros no agronegócio é recente e começou na Argentina. Em 2001, o financista seguiu seu faro de especulador e começou comprar terras portenhas em meio a crise econômica que assolava o país. Rapidamente, Soros se tornou um dos maiores proprietários individuais de terra da Argentina. No ano seguinte, junto com outros investidores americanos, Soros adquirou por R$ 53 milhões a Pecom Agropecuaria, empresa agrícola do grupo Pérez Companc. Ali nascia a Adeco. Hoje, a empresa destina mais de 100 mil hectares para pecuária de corte e leite, soja, milho, trigo, arroz e girassol. São mais de 200 mil toneladas de grãos por ano. Não demorou muito para empresa argentina notar o desempenho do agronegócio no país vizinho. Em terras brasileiras a Adeco aportou em 2004 e, desde então, tem avançado no mundo rural com o mesmo apetite de Soros nas Bolsas de Valores mundiais. As primeiras aquisições foram na Bahia e Tocantins, onde 27 mil hectares produzem essencialmente algodão e café.

“Investimos nas culturas em que o país é mais competitivo”, explica Leonardo Berridi, diretor-geral da Adeco no Brasil. “Por isso, temos um plano de expansão no algodão e café para os próximos cinco anos”. A grande tacada da Adeco, no entanto, aconteceu apenas em fevereiro de 2006. A empresa de Soros se associou com a Usina Monte Alegre, pertencente à família Vieira, de tradicionais cafeicultores mineiros. Instalada no Sul de Minas, a unidade tem capacidade de moagem anual de 1 milhão de toneladas de cana-de-açúcar. Na aquisição da usina, parte dos acionistas da família se tornaram sócios da Adeco e passaram a atuar na gestão da empresa no Brasil. Entre eles, Marcelo Vieira. Engenheiro mecânico, com mais de 30 anos na indústria do açúcar, Vieira é considerado um novo tipo de líder do campo. Foi ele quem liderou um pequeno grupo de cafeicultores mineiros a investir no chamado café gourmet. O engenheiro fundou a Brazil Specialty Coffe Association (BSCA), em 1991, entidade que trabalha a imagem do café nacional no exterior. “Ele é um empreendedor moderno, que está mudando a cara do setor”, conta Luiz Hafers, ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira. Na cartilha de Vieira, a Adeco precisa investir em áreas de grande potencial de produtividade e alta tecnologia. Mas não é só isso. “Temos uma grande preocupação na produção sustentável, sócio-ambientalmente correta”, conta Vieira. “Utilizamos plantios direto e fazemos aplicações racionadas de defensivos”, explica Leonardo Berridi, diretor-geral da Adeco no Brasil.

Vieira continua a frente das operações no setor sucroalcooleiro no grupo. Ele é quem vai cuidar da expansão do grupo em Angélica, no Mato Grosso do Sul. O plantio de cana foi iniciado este ano com a formação de 900 hectares de viveiros que irão abastecer 6 mil hectares no ano que vem. A montagem industrial começará em 2007 e o primeiro ano de operação será em 2008. Já a unidade mineira de Monte Alegre, que opera com capacidade parcial, deverá chegar a plena carga em dois anos. Quando atingir a carga total, as quatro usinas do grupo irão moer mais de 12 milhões de toneladas no Brasil. O foco na bionergia ganhou força nos negócios da Adeco. No fim de setembro, a empresa de Soros anunciou em Nova York que a construção de uma usina para produção de etanol a partir de milho – tal como é industrializado nos EUA.

Serão processados 500 mil toneladas do grão, provenientes de 50 mil hectares, o que deve gerar uma produção de 200 mil metros cúbicos de etanol. Também foi aventado a possibilidade de se construir usinas de álcool na Argentina. Embora o poder de Soros aumente no agronegócio latino-americano, sua participação pessoal na gestão dos negócios é pequena. “Ele é um acionista e vê com grande entusiasmo o projeto”, conta Vieira. “Ele não se envolve diretamente nos negócios da Adeco”. Pelo jeito, nem os rurais nem os urbanos. Hoje, Soros dedica boa parte de seu tempo a filantropia. Por meio da Soros Fundations Network, o financista criou o “Open Society Institute”, que atua no mundo todo em projetos de educação, saúde e cultura. As iniciativas sociais de Soros costumam ser encaradas com uma certa ironia. Do mesmo modo, é paradoxal que o financista que tenha sentenciado, em 2002, que o Brasil quebraria por conta dos juros estratosféricos fosse ainda ganhar dinheiro com o agronegócio nacional. É, o mundo dá voltas.

US$ 900 milhões é o investimento nas três novas usinas da Adeco

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