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Frustração agrícola contamina economia

A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) prevê que a participação do agronegócio no Produto Interno Bruto (PIB) cairá 0,4% neste ano. A expectativa é de que a participação do setor agropecuário na economia brasileira, que atingiu o pico de 30,58% em 2003, feche em 26,44% em 2006, a menor taxa dos últimos 13 anos.

“A queda da atividade agrícola já contamina a economia como um todo”, declarou Ricardo Cotta, superintendente técnico da CNA. “Se não fossem os resultados negativos desse setor produtivo, é provável que a economia brasileira cresceria bem mais neste ano”, acrescentou Cotta.

Segundo o superintendente técnico da CNA, a economia teria condições de crescer até 3,8% se o ritmo do agronegócio brasileiro não tivesse desacelerado neste ano. A estimativa do Banco Central é de expansão de 3,53%. Pelas projeções da CNA, o PIB do agronegócio cairá R$ 10,25 bilhões: de R$ 537,63 bilhões no ano passado para R$ 527,38 bilhões neste ano, recuo de 1,9%. Se a estimativa se confirmar, este ano será o segundo período consecutivo de queda do PIB do setor. Entre 2004 e 2005, o recuo foi de 4,66%. Cotta calcula que o PIB do agronegócio registrará perda somada de R$ 36,5 bilhões em 2005 e 2006.

O baixo dinamismo do agronegócio resulta sobretudo, segundo afirmou, da valorização do real diante do dólar e dos gargalos logísticos.

“O câmbio, sem dúvida, é um problema sério que tem impacto no bolso do produtor, já que a maior parte dos preços dos produtos agrícolas é cotada em dólar”, afirmou Cotta. “Os preços ao produtor também estão em queda devido aos problemas de infra-estrutura que encarecem o custo dos fretes.

De acordo com a CNA, os custos dos fretes nos últimos dois anos aumentaram 36% em média, de US$ 88 para US$ 120 por tonelada. Apesar da queda na participação do PIB, a contribuição do agronegócio ainda é grande na economia. Segundo o coordenador do Departamento de Comércio Exterior da CNA, Antônio Donizeti Beraldo, nos Estados Unidos o agronegócio responde apenas por 15% do PIB. A agropecuária, que responde por 27,8% do agronegócio, deve puxar a queda do setor no Brasil. A previsão é de que a pecuária perca R$ 2,8 bilhões, e a agricultura (grãos e outros) outros R$ 3,25 bilhões. Juntos representariam queda de 3,99% no PIB da agropecuária.

Com isso, a participação da agropecuária no PIB nacional passaria de 8% para 7,4%. Para Cotta, o baixo dinamismo do agronegócio deve desestimular a produção para a próxima safra. A expectativa é de uma perda de 10% na safra 2006/07.

“Os alimentos estão contribuindo para segurar a inflação, mas o desestímulo vai reverter a contribuição que a agricultura está proporcionando ao controle inflacionário”, disse Cotta.

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