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Sygma estuda motor 100% etanol

Oliveira, da Sygma: “Programa só será atrativo para outros segmentos, além do sucroalcooleiro, se o governo criar incentivos”

A empresa brasileira Sygma Motors, que atua no desenvolvimento de motores de combustão interna, conjuntos híbridos e novos sistemas de propulsão, e a australiana Orbital, especializada em sistemas de gerenciamento de motores, assinaram um acordo com a intenção de criar uma joint venture para fornecer sistemas de conversão eletrônica de motores diesel para etanol.

A nova empresa, chamada Neo EMS, fará inicialmente a conversão de motores já existentes no segmento de ônibus, caminhões e tratores. Em paralelo, as duas empresas vão desenvolver um n! ovo sistema, batizado de Flex-DI, que será aplicado às novas gerações de motores, concebidos para rodar exclusivamente com etanol. O Flex-DI é uma evolução dos sistemas de injeção utilizados nos motores a gasolina, que a Orbital desenvolveu para a Índia e Taiwan.

Segundo o diretor da Sygma, Manoel de Oliveira, a Vale Soluções em Energia (VSE) contratou a Sygma Motors para apoiá-la no desenvolvimento de motores para a geração de eletricidade a partir do etanol e do gás natural. A VSE e a Scania, da Suécia, também fecharam um acordo de cooperação tecnológica para o desenvolvimento no Brasil desses motores. Um sistema de primeira geração PFI (Port Fuel Injection) foi instalado em um motor Scania e apresentado pela VSE ao Comitê Olímpico Internacional (COI), este ano, a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Previsto para ser concluído em 2012, o projeto da Orbital e da Sygma já absorveu 150 mil horas de engenharia e um investimento da ordem de R$ 70 milhões. “Trata-se de um sistema eletrônico que será aplicado aos motores movido 100% a etanol, sem aditivos e com a mesma eficiência de um motor a diesel”, comenta Oliveira. “Ao contrário dos motores a diesel, no Flex-DI o combustível é injetado diretamente na cabeça do cilindro e misturado com o ar, num sistema “aerosol”, ou seja, em partículas minúsculas, permitindo que a queima seja de 100%.”

A pulverização do combustível no Flex-DI é muito mais fina e, portanto, a queima é mais eficiente. A economia de combustível, nesse caso, segundo o presidente da Orbital, Terry Stinson, gira em torno de 10% a 15% e pode chegar a 50% em motores navais. O projeto já despertou o interesse de algumas montadoras no Brasil e está sendo apresentado para as indústrias de açúcar e álcool.

O diretor da AP2X Consultores e ex-presidente da Santaelisa Vale, Anselmo Lopes Rodrigues, disse que o custo de operação do motor 100% etanol em relação ao diesel é bastante atrativo para os produtores! de açúcar, porque o etanol utilizado na frota das empresas não terá a incidência de impostos. Ele estima que o preço de custo do litro do etanol gire em torno de R$ 0,80 e o do diesel, por volta de R$ 1,90.

“Existe um mercado enorme para a utilização desse motor na indústria de cana-de-açúcar, algo superior a 60 mil motores, envolvendo não só a frota de caminhões e de tratores das usinas, mas também os motores estacionários, usados para irrigação, as colheitadeiras e os geradores de eletricidade no campo.”

A Scania está testando um novo motor em São Paulo, em dois ônibus da prefeitura, que funcionam no ciclo diesel e usam etanol misturado com um aditivo especial. O consultor técnico da Única na área de meio-ambiente e tecnologia, Alfred Szwarc, disse que a experiência da montadora sueca em São Paulo já demonstrou que o consumo volumétrico de etanol em relação ao diesel chega a ser de 40% a 50% maior. “Isso mostra que precisa haver um diferencial de preço que compe! nse, embora as vantagens ambientais sejam infinitamente superiores no caso do etanol.”

Oliveira acredita que o programa do motor a etanol só será atrativo para outros segmentos, além do setor sucroalcooleiro, se o governo criar incentivos para que esse combustível seja competitivo com o diesel em termos de custos.

O consultor da Unica disse que a entidade tem acompanhado com grande interesse a evolução de vários projetos de motores a etanol, todos ainda em fase de desenvolvimento, mas que a expectativa é que o produto esteja no mercado num prazo de dois a três anos. Além da Sygma Motors/Orbital e da Scania, empresas como Bosch, Delphi, Fiat Powertrain Technologies e MWM International estão envolvidas em projetos de desenvolvimento de motores movidos a combustíveis renováveis.

O setor sucroalcooleiro, segundo Anselmo Rodrigues, tem demonstrado bastante receptividade ao projeto de uma nova geração de motores desenvolvidos para rodar com 100% de etanol. “Na década de 80, com o programa do Pro-Álcool, as usinas investiram na compra de caminhões a álcool, mas o resultado da experiência não foi bom porque os motores duravam pouco e a manutenção era alta. Hoje temos um etanol com menos nível de corrosão e uma tecnologia mais avançada.”

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