A transição energética já é uma realidade. Até 2030 o consumo de etanol deverá superar o da gasolina, segundo projeção da StoneX, apresentada durante o seminário “A Energia do Futuro”, promovido nesta terça-feira (22) pela consultoria, onde uma equipe de analistas e consultores apresentaram um panorama sobre as principais mudanças e oportunidades no mercado brasileiro de energia renovável.
A economista e consultora Sênior em gerenciamento de riscos na StoneX, Lígia Heise, destacou no evento as oportunidades para o setor sucroenergético, que coloca o Brasil na posição de protagonista desta transição.
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“O acordo climático de Paris acelerou a transição energética que nós vivemos hoje no mundo e nós destacamos que o Brasil largou na frente nessa transição energética. Ele já é e pode continuar sendo protagonista. Na década de 70 tivemos uma resposta ao choque de petróleo com o Proálcool. Então hoje, temos um mercado de etanol bastante consolidado com mais de 50 anos de experiência, com total capacidade de aproveitar esse momento e exportarmos não só o etanol como a tecnologia”, disse.
De acordo com ela, essa realidade brasileira provavelmente vai significar uma coexistência de veículos elétricos com veículos a etanol, ou seja, veículos híbridos.
“Além disso, destacamos também o fortalecimento das práticas ESG e a valorização da economia circular. Atualmente as empresas que adotam práticas sustentáveis, têm sido cada vez mais valorizadas no mercado, inclusive conseguindo linhas de financiamento mais interessantes, mais baratas, pois a sociedade valoriza cada vez mais isso”, afirma.
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A valorização do etanol foi destaque no evento. Segundo os consultores, o carro elétrico exige um investimento alto, fabricação de motores que tem uma pegada de carbono elevada, gasta-se para ter energia, matéria-prima para fazer os motores, e também o próprio abastecimento do carro elétrico dependendo da matriz energética do país, é feito através de uma energia gerada por uma fonte que não é limpa.
Nesse contexto, com os programas de descarbonização dos países, a consultoria entende que o etanol vai conquistar espaço com o desenvolvimento dos carros híbridos.
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“Ainda temos o crescimento do etanol de milho e do etanol de segunda geração. No caso do etanol de milho a gente teve no Brasil a primeira planta sendo inaugurada a menos de 10 anos, então é algo muito recente, diferente dos Estados Unidos. Porém, mesmo sendo recente, a expansão é muito acelerada. Temos muitas plantas principalmente no centro-oeste e recentemente foi anunciado um projeto no Rio Grande do Sul”, ressaltou Lígia.
A consultora citou ainda o RenovaBio tendo um papel importante nessa expansão do etanol. “O mercado de CBIOs vem ganhando relevância junto às usinas. A título de exemplo no passado nós tivemos por uma boa parte do ano o CBIO sendo negociado a R$ 30,00 resultando mais ou menos em quatro centavos por litro de etanol de receita extra para o produtor. Ontem, nós já tivemos negócio de CBIO a R$ 172,00, o que representa uma receita extra de aproximadamente R$0,20 centavos. Um estímulo bastante relevante”, elucidou.
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“Nós podemos ver a evolução do consumo de gasolina e do etanol desde 2010 e a nossa projeção é otimista, digamos para o lado da produção do etanol”, completou.
Ligia ainda afirmou, que a consultoria acredita que até o final de 2030, o etanol passará a gasolina em termos de consumo total somando anidro e hidratado. E essa visão está justamente amparada pelas metas do programa de descarbonização que temos como compromisso assumidos na COP21. “Então, o RenovaBio e os estímulos que o seguiu devem prover para aumento da produção de etanol. Além disso, não vemos investimentos relevantes em expansão de capacidade de refino no Brasil e tem toda a questão da segurança energética”, analisa a consultora.
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Na avaliação da consultora da StoneX, o biogás e biometano, embora ainda um tanto incipiente, deverão ganhar cada vez mais espaços no setor sucroenergético. Ligia apresentou uma linha do tempo apontando os principais investimentos realizados pelo setor.
“Em 2012 nós tivemos uma planta da Coopcana no Paraná começando a produzir biogás, mas ainda em volume relativamente pequeno. Em 2018 tivemos uma primeira planta da Adecoagro no Mato Grosso do Sul. A primeira planta em escala comercial foi inaugurada pela Raízen, em Guariba – SP. Ano passado, bem recente, tivemos mais uma planta que foi da Usina Cocal com biogás e biometano. Ainda no ano passado, tivemos a Adecoagro começando a fazer biometano, e esse ano fevereiro foi a vez da UISA anunciar um projeto grande para produção de biogás e biometano no Mato Grosso. A Raízen, que mais uma vez anunciou uma nova planta, dessa vez de biometano, investimento bastante relevante em Piracicaba – SP, com inauguração prevista para o ano que vem. E agora nesse mês nós temos a Tereos inaugurando a produção de biometano na Usinas de Cruz Alta, em Olímpia – SP”, lembrou.
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Ligia comentou ainda sobre a frota agrícola, com tratores e caminhões rodando com biometano sendo que a tendência é que a utilização em escala comece a crescer em volume não só nessas usinas, mas também novos investimentos surjam, lembrando da questão do programa recém-aprovado do governo metano zero.
“Eu quis trazer aqui para vocês alguns exemplos práticos para mostrar que essa transição energética, seja ela no lado dos combustíveis, quando falamos do biometano, biogás, seja da geração distribuída, ela já é uma realidade com os projetos desses grupos maiores, e que brevemente deverão ser realidade entre os grupos menores também. O biogás e biometano estão aumentando a sua relevância na matriz energética brasileira e nós temos desafios: temos a questão financeira, pois são investimentos altos, mas a tendência é que o desenvolvimento tecnológico e os programas governamentais tornem esses investimentos mais acessíveis”, finaliza a consultora.