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“Sou favorável ao Proer para o setor sucroenergético”, diz economista da USP

Merlo: política de preços gerou desequilíbrio ao etanol

Edgard Monforte Merlo, economista especializado em macroeconomia e professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP de Ribeirão Preto, é pessoalmente a favor de ser oferecido algum tipo de refinanciamento financeiro para usinas e fornecedores do setor sucroenergético. Na entrevista a seguir, ele explica os motivos desse posicionamento.

O sr. é favorável a um Proer para o setor sucroenergético?
Edgard Monforte Merlo – Pessoalmente sou favorável ao oferecimento de algum tipo refinanciamento tipo do ocorrido com o Proer para o setor (usinas e fornecedores). 
De que forma?
Condicionado a oferecimento de garantias reais dos controladores e com um plano aprovado de reestruturação visando a obtenção de um novo equilíbrio em no máximo dois anos.
Qual o resultado?
O setor ganharia algum fôlego para se reestruturar. Entretanto, a reestruturação deve ser incorporada como uma necessidade inadiável. Isso envolveria, desenvolver novas fontes de receita, como a co-geração e mesmo a redução de área plantada, visando reequilibrar a oferta e a demanda de açúcar e de etanol. 
Por que um refinanciamento é estratégico?
O setor financeiro está avesso ao fornecimento de crédito pois teme não receber os empréstimos, dada a situação financeira do setor de açúcar e de etanol.O setor, nesse processo de reestruturação, deveria se comprometer com níveis mínimos de produtividade e custos a serem atingidos nas lavouras e, quando isso não for possível, com a execução de um plano de desinvestimento e diversificação para evitar a repetição desta grande dependência. 
Fale mais a respeito, por favor
Na realidade o Proer deveria funcionar como uma regra de ajuste de investimentos que combinaria com uma adequação de oferta. Nos Estados Unidos existem os “cinturões” de produção (corn belt, cotton belt, etc). A meu ver, no Brasil deveríamos pensar em políticas semelhantes (definir áreas máximas por estado a receberem estímulo de produção). 
Qual o resultado?
Isso evitaria a repetição da situação atual, onde praticamente se estabeleceu uma grande monocultura que fica muito vulnerável quando ocorre uma queda de preços internacional combinada com um controle de preços interno e situações adversas de clima.
Por que ajudar o setor com refinanciamento?
O setor agrícola possui algumas características interessantes: 
1- é um setor onde predomina um mercado competitivo, ou seja individualmente nenhum produtor consegue influenciar o preço de mercado, ou seja, é um setor tomador de preços (sem capacidade de influenciar o preço de mercado) que é formado nos grandes mercados mundiais. Isto é válido principalmente para o caso do açúcar, que é uma commoditie;
2- quando temos a situação de um pequeno número de usinas em dificuldades, podemos dizer que ocorreu um problema de má gestão. Quando assistimos um grande número de empresas com dificuldades financeiras, podemos dizer que o setor como um todo sofreu algum tipo de choque que levou ao desequilíbrio;
3- no caso do setor de açúcar e etanol, acho que pelo número de empresas em dificuldades ocorreu um desequilíbrio gerado pela política de preços do etanol. O setor de etanol tem de certo modo seu preço atrelado ao da gasolina pois a destinação do mesmo é principalmente orientada para combustíveis. Como no caso da gasolina, nos dois anos que passaram o preço desse combustível foi controlado rigidamente para evitar pressões inflacionárias, começou a ocorrer um desequilíbrio no setor sucroenergético. De um lado o preço dos combustíveis ficou constante e do outro ocorreu um contínuo aumento de custos (pois grande parte dos insumos tiveram reajustes, apertando a margem do setor). Concluindo, essa situação de caos no setor foi gerada pela queda do preço internacional do setor de açúcar, combinado com uma situação climática adversa (seca) e com um preço do álcool que ficou praticamente congelado.
4- no mundo inteiro, devido ao fato do setor agrícola ser um setor que depende dos preços de mercado em um setor competitivo, sempre que ocorrem desequilíbrios o governo acaba intervindo visando a retomada do equilíbrio de oferta e demanda via mecanismo de preços.

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