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Socialismo de Chávez já cria distorções na economia

Marcos de Moura e Souza

A política econômica socializante do presidente Hugo Chávez já está gerando distorções na economia da Venezuela. Há desabastecimento e risco de paralisação de produção, além da disparada do câmbio paralelo. Para muitos economistas, essas são consequências previsíveis do intervencionismo de Chávez.

Nesta semana, o governo anunciou que pretende ampliar o tabelamento de preços que vigora há quatro anos sobre 400 produtos e serviços. O objetivo é conter a inflação, que superou 18% no acumulado de 12 meses em janeiro, a mais alta da América Latina.

Desde o início da semana, supermercados do país deixaram de vender carne como reação à imposição de limite de preços – num episódio que traz à lembrança o desabastecimento de carne ocorrido no Brasil durante o Plano Cruzado, quando se tabelaram os preços da carne e de outros itens.

A equipe econômica de Chávez tem recorrido ainda a outros velhos recursos: mantém o câmbio sob controle e restringe o acesso a dólares a empresas para evitar fuga de capitais e a importação de insumos que concorram com insumos venezuelanos; prepara a estatização de campos de petróleo e restringe demissões de funcionários de empresas como forma de manter o nível de emprego.

Outro problema foi anunciado pela unidade da Toyota em Caracas na terça. A empresa disse que que poderá fechar as portas no país porque seus fornecedores não estão conseguindo obter dólares no câmbio oficial para importar insumos para fabricação de peças.

“Nada disso é novo. São medidas que já vimos como começam e como terminam”, afirmou ao Valor o presidente do Ibmec São Paulo, Cláudio Haddad.

No caso da restrição aos dólares para as empresas, Haddad lembra que o Brasil adotou a mesma receita nos anos 50. Assim como naquela época, a Venezuela de hoje proíbe que as empresas no país comprem dólar por um câmbio mais favorável se o objetivo for importar alguns produtos. Entre os quais insumos para fabricação de auto-peças e equipamentos médicos e laboratoriais. A idéia é privilegiar a indústria local.

Um dos problemas é o inevitável risco de perda de eficiência das empresas nacionais que deixam de ficar expostas à concorrência externa, disse Haddad.

Sobre o controle de preços, outro economista, o consultor de Análise Econômica do Banco Itaú, Joel Bogdanski, é categórico: “Todas as experiências terminaram em reduntantes fracassos”. A cadeia de desdobramentos é bem conhecida: desestímulo aos produtores (já que os congelamentos geralmente mantém os preços abaixo do que seria razoável), escassez, filas e com o fim dos controles, uma disparada dos preços (overshooting). “E além disso, cria-se um mercado negro de produtos”, acrescenta ele.

O governo Chávez diz que a atual escassez de carne não é reflexo dos controles de preços, mas de pura má fé dos varejistas ou produtores que retém seus produtos para fins especulativos.

O deputado venezuelano Rodrigo Herrera, disse ao Valor que um dos exemplos dessa má fé foi a descoberta de toneladas de açúcar que estavam escondidas por produtor do país.

Uma saída já estudada pelo governo é ampliar a importação. No caso da carne, Herrera diz que poderia haver uma importação mais intensa de carne brasileira ou argentina. Outra solução é o controle por parte dos conselhos comunais – instituições que têm apoio de Chávez – de eventuais subidas de preços ou estocagem de mercadorias.

Mas até numa economia irrigada pelas divisas das exportações do petróleo como a venezuelana, importar produtos para compensar o desabastecimento têm seu limites. E tem também custos políticos.

“Se a inflação seguir alta e se o desabastecimento se ampliar, haverá um descontentamento social que nem mesmo os programas sociais serão suficientes para conter”, diz o professor da Universidade Símon Bolívar, de Caracas, Marino González.

http://www.valor.com.br/valoreconomico/285/primeirocaderno/Internacional/Socialismo+de+Chavez+ja+cria+distorcoes+na+economia,,,61,4146721.html

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