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Sob pressão, grupo Odebrecht vende ativos

Cresceu nos últimos meses a pressão de vários bancos sobre o grupo Odebrecht para tomada de medidas que lhes garantissem um conforto para o elevado volume de crédito que as instituições tinham com o conglomerado. Em conversa com o Valor, vários bancos credores da empresa manifestaram descontentamento em relação à lentidão em tomar decisões de venda de ativos ou de uma busca de parceiros para reduzir sua alavancagem financeira.

A dívida líquida da Odebrecht, no fim de 2014, estava na faixa de R$ 63 bilhões, conforme balanço da empresa. O montante bruto, consolidado, beirava R$ 90 bilhões. Os números de 2015 ainda não foram divulgados. No entanto, devem ser superiores devido ao impacto cambial, refletindo sobre a alavancagem de todas as empresas controladas do grupo.

A preocupação dessas instituições – apenas quatro delas são credoras de mais de R$ 45 bilhões – ganha dimensão por causa da demora em substituir o presidente da holding, Marcelo Odebrecht, preso há mais de nove meses. E, na avaliação desses bancos, o bastão foi transferido a um executivo que tinha passado para o conselho, dando uma impressão de transitoriedade na gestão do grupo.

A Odebrecht, todavia, descarta essa avaliação. Primeiro, de que haja risco de não pagamento das dívidas das empresas. Em segundo lugar, de que não esteja negociando a venda de ativos. E, por último, de que não esteja tomando nenhuma medida de mudança no modelo de gestão.

Em entrevista, ontem, o presidente da empresa, Newton de Souza informou que a Odebrecht está negociando a venda de vários ativos no Brasil e no exterior. Ele foi efetivado em dezembro no cargo, com o afastamento definitivo de Marcelo Odebrecht do comando do grupo, devido ao envolvimento na Operação Lava-Jato.

Os recursos da venda serão usados para equacionar o perfil de endividamento e reforçar a posição de caixa das companhias da Odebrecht. A expectativa do conglomerado, um dos maiores do Brasil, é arrecadar R$ 12 bilhões, informou Souza. Segundo o executivo, há negociações bastante avançadas e outras em andamento de vários ativos. “Esperamos até o fim do ano alcançar essa meta de venda”, afirmou.

O grupo está presente em 15 áreas de negócios, que vão da engenharia e construção a petroquímica, operação de rodovias, metrôs e aeroportos até estaleiros, saneamento, óleo e gás até gestão de arenas esportivas.

Os negócios à venda, inclusive o controle de algumas empresas, como a Odebrecht Ambiental, incluem o projeto da hidrelétrica de Chaglla, já concluída, e a Rutas de Lima, ambos no Peru, a participação na hidrelétrica de Santo Antônio, de 28%, uma mina de diamantes e um bloco de exploração de petróleo, em Angola, além de alguns negócios da áreas de infraestrutura da Odebrecht Transport. O grupo negocia também venda de ativos imobiliários da sua controlada Odebrecht Realizações Imobiliárias (OR).

Para vender a Odebrecht Ambiental foram contratos os bancos Bradesco, BTG e Itaú BBA. O executivo disse que as negociações ocorrem com vários interessados no ativo, considerado por ele de primeira qualidade no setor.

Souza, descarta, no entanto, se desfazer da participação na petroquímica Braskem. “Isso está fora de cogitação, pois é uma empresa âncora do grupo”. A Odebrecht tem 50,1% do capital votante e 38,3% do total da companhia. E disse que o grupo também não tem intenção de exercer seu direito de preferência na compra das ações da Petrobras, colocadas à venda – 36,1% do capital total.

Ao mesmo tempo, a companhia está resolvendo um problemão – a grave situação financeira da Odebrecht Agroindustrial, que opera o negócio de açúcar e etanol. Tem uma dívida muito elevada – em torno de R$ 13 bilhões – para receita menor que R$ 3 bilhões. Segundo a diretora financeira do grupo, Marcela Drehmer Andrade, as negociações estão na fase final, que conta com assessoria da Virtus BR Partners. Os principais credores da empresa, há mais de um ano totalmente controlada pelo grupo, são Bradesco e BNDES.

Os principais entraves já foram removidos, disse. O acordo prevê um prazo de carência para o principal da dívida de três anos e mais dez de alongamento. A executiva, que evitou detalhar os termos do acerto, informou que a Odebrecht está aportando capital – ativo mais dinheiro. Está sendo reincorporada a geradora de energia à base de bagaço da cana, avaliada em cerca de R$ 2 bilhões. O montante em dinheiro não foi revelado, mas o Valor apurou que é da mesma ordem. A previsão é encerrar toda a operação em algumas semanas.

Ao mesmo tempo, negocia o endividamento da Odebrecht Óleo e Gas (OOG), que foi afetada pela crise do setor de petróleo e da Petrobras, sua maior contratante. Seu passivo passava de R$ 12 bilhões no fim de 2014 (último balanço) – mais de R$ 10 bilhões em bônus e “medium term notes” (MTN).

Marcela apontou que a OOG foi afetada pelo cancelamento em setembro de um contrato com a Petrobras referente à prestação de serviços de um navio-sonda, o ODN Tay IV, afretado à estatal. O navio era usado como garantia de bônus com vencimento em 2022. As negociações envolvem detentores de bônus perpétuos e outros donos de títulos de dívida (“bondholders”). Essa operação com a PJT Partners.

No ano passado, mesmo como alvo da Lava-Jato e da crise do país, que levou à escassez de obras no país e à retração na economia, a Odebrecht conseguiu elevar seu faturamento em 23%, para R$ 130 bilhões, ante o desempenho de 2014. O crescimento é atribuído ao aumento de operações no exterior expansão das exportações a partir do Brasil de produtos petroquímicos.

O balanço, com suas demonstrações financeiras, será divulgado no fim de abril, disse a diretora. Segundo ela, a participação do exterior respondeu por 61%. Em 2014, eram pouco mais de 52%. Além das exportações da Braskem, favorecida por queda do petróleo e câmbio, houve forte contribuição da divisão Latin America Investimentos e da área de engenharia (construção e montagens industriais).

A alavancagem financeira ficou nos mesmos parâmetros do ano anterior, disse a diretora, quando a dívida líquida era de R$ 63 bilhões. “Houve uma ligeira melhora em relação aos 3,7 vezes, em dólar, na relação dívida líquida sobre Ebitda”. Marcela apontou o impacto do câmbio, mas lembrou que efeito do dólar também beneficiou o resultado operacional – lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda). Esse índice deve ser puxado pelo Ebitda da Braskem (R$ 9,2 bilhões.

A Odebrecht, informou Souza, iniciou a reorganização e enxugamento do seu portfólio de negócios, que deverá ser encolhido com a venda de ativos. A partir de hoje, Construção e Engenharia passa a contar com três unidades, ante cinco até agora. Ficará com uma divisão de infraestrutura no Brasil, outra no exterior e uma terceira, de plantas industriais.

“Estamos iniciando a reestruturação a partir de engenharia e construção”, afirmou. Todavia, ele descarta um agrupamento de negócios em três ou quatro áreas, uma expectativa da mercado. “Não vemos vantagens nisso”. Outra decisão, que começa na holding, é a criação de um comitê de governança e compliance.

Sob orientação de advogados, Souza se eximiu de falar sobre os acordos de delação premiada e de leniência que o grupo está fazer com órgãos federais de Justiça.

Fonte: (Valor)

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