Estima-se que atualmente, as áreas de agricultura irrigada do país correspondam a menos de 20% da área total cultivada. Essas áreas, no entanto, são responsáveis pela produção de mais de 40% dos alimentos, fibras e cultivos bioenergéticos.
Com cerca de 6% de área produtiva irrigada, o Estado de São Paulo inicia uma caminhada para consolidar esse sistema. Através de sua Secretaria de Agricultura e Abastecimento, o governo estadual vem trabalhando na construção de um plano estadual de irrigação.
O projeto piloto está sendo desenvolvido no Pontal de Paranapanema, quando em janeiro deste ano, o secretário de Agricultura visitou a Associação do Sudoeste Paulista de Irrigação e Plantio na Palha (ASPIPP), em Campos de Holambra, onde foi discutido o atual cenário da agricultura irrigada de precisão e os desafios dos recursos hídricos no Estado. Na ocasião, foi firmada a criação de um grupo de trabalho a fim de ampliar o percentual de áreas irrigadas.
Durante participação na 1ª Reunião do Grupo Fitotécnico de Cana, promovida pelo IAC, Alberto Amorim, da Assessoria Técnica da SAA/SP, mencionou que a Secretaria está estruturando dois Fiagros para captar recursos e disponibilizá-los para iniciativas privadas interessadas em investir nesse setor. Empresas líderes na produção de equipamentos de irrigação demonstraram interesse em dobrar a área irrigada no estado.
A meta ambiciosa da Secretaria é atingir 15% de área irrigada até 2030. Para alcançar esse objetivo, o grupo de trabalho encarregado da construção do plano de irrigação está revisando regulamentações, resoluções e parâmetros para a concessão de outorgas, construção de barragens e preservação ambiental. Essas medidas visam adaptar-se às mudanças climáticas e garantir uma reserva hídrica para enfrentar períodos de estiagem.
No evento, Júlio César Naves Batista da Silveira, supervisor de produção agrícola da Usina Alta Mogiana, destacou a crescente importância da irrigação no estado nos últimos anos. Ele ressaltou que, apesar da cultura da cana-de-açúcar ter sido menos afetada no passado, as condições climáticas recentes evidenciam a necessidade de implementar sistemas de irrigação.
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Ele lembrou que há alguns anos, segundo dados da ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico), a região apontava um déficit de no máximo 200 mm, porém de 2014 a 2018, último levantamento que realizado, mostrou um índice mais acentuado, apontando a necessidade de se falar em irrigação.
Silveira enfatizou a relevância da estabilidade na produção agrícola para evitar flutuações nos custos operacionais das indústrias agroindustriais. Ele compartilhou os resultados positivos alcançados pela Usina Alta Mogiana desde a implementação de um novo sistema de gestão de irrigação, incluindo um aumento significativo na produção, mesmo em períodos de precipitação reduzida.
“Em 2018 tivemos uma mudança na gestão de irrigação da usina que surtiu resultados já na safra de 2019 e 2020 e mesmo com menores precipitações, alcançamos a marca de 102 toneladas por hectare. Em 2021, devido a pior precipitação dos últimos 12 anos, caímos para 89, mas à medida que as chuvas foram melhorando o crescimento voltou a ser exponencial e chegamos a 91. Nesse ano, maravilhoso para todos, conseguimos chegar a 114 toneladas por hectare, o que demonstra a importância da irrigação”, informou.
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No entanto, Silveira ressaltou que a viabilidade de projetos de irrigação depende de três pilares fundamentais: disponibilidade de água, energia e questões fundiárias. Ele explicou que muitas usinas precisam arrendar terras devido à falta de áreas próprias próximas a recursos hídricos adequados.
De acordo com Silveira, após um meticuloso trabalho de mapeamento, a Usina Alta Mogiana identificou cerca de 50 mil hectares de terras aptas para irrigação. Atualmente, a empresa já possui 11.000 hectares de áreas irrigadas viabilizadas, demonstrando o potencial e a importância estratégica da irrigação para o aumento da produtividade agrícola em São Paulo.
A próxima reunião do Grupo Fitotécnico de Cana IAC será nesta terça-feira (23), a partir das 13h30. O evento será realizado no Auditório principal do Centro de Cana IAC em Ribeirão Preto-SP. Inscrições podem ser feitas pelo https://www.npct.com.br/PROGRAMACANAIAC