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Setor volta a falar em desindustrialização

O vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) e diretor da Federação da Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp), Roberto Giannetti da Fonseca, e o vice-presidente da AEB, José Augusto de Castro, alertaram ontem para o efeito de desindustrialização em alguns setores da economia brasileira. Os dois ressaltaram uma inversão na composição da pauta exportadora do país nos últimos anos, com predomínio de commodities em detrimento de produtos manufaturados.

O cenário é especialmente preocupante neste momento, segundo eles, diante da turbulência internacional, em meio à queda do preço de commodities. “Tudo de que o Brasil se beneficiou nestes últimos anos pode agora se reverter”, disse Castro no Encontro Nacional de Comércio Exterior (Enaex), no Rio.

Contestação

Usineiros alegam que commodity exige tecnologia

Em resposta aos comentários de Castro e Giannetti, o presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Marcos Jank, defendeu que há uma larga cadeia de tecnologia por trás das commodities agrícolas vendidas pelo Brasil e que exportar alimentos e energia não é “uma volta ao passado”. “Tende-se a achar que commodity é desindustrialização, o que não é verdade. Isso me deixa profundamente incomodado”, disse Jank, acrescentando que há uma incorporação grande – e cada vez mais sofisticada – da indústria nos alimentos e na energia vendida pelo país. “Para um grão de soja é necessária uma quantidade imensa de máquinas, químicas, processamento”, exemplificou Jank.

Segundo ele, não há sinais de desindustrialização e o Brasil está indo apenas na direção de sua vocação e do que é esperado do país. Ele afirma que houve uma mudança de cenário nos últimos quatro ou cinco anos e que o mundo quer hoje produtos básicos. “Ninguém vai deixar de comer”, alegou.

Jank ainda disse que adicionar valor agregado aos produtos é uma meta, mas nem sempre leva à lucratividade. “A Vale ganha muito dinheiro com minério de ferro e logística, mas talvez não ganhasse tanto com aço, porque há excedente no mundo. Há distorções que beneficiam o produto básico. O manufaturado nem sempre é tão lucrativo”, justificou.

Castro cita produtos como o açúcar – que teve aumento em termos de volume e de preço na última década, passando de US$ 197 por tonelada para US$ 556 por tonelada entre 2001 e 2011. Giannetti ressalta que, em 2000, a pauta era marcada pela exportação de aviões, automóveis, confecções e aparelhos, entre outros. Hoje, aviões, por exemplo, aparecem apenas marginalmente na pauta.

Giannetti destacou que o coeficiente de importação, medido sobre o consumo aparente, alcançou 22,9% no segundo trimestre de 2011. Em 2003, estava em 12,5%. “Em oito anos, quase dobrou. Crescer é bom para a economia brasileira, o que não pode é crescer desta forma acelerada, substituindo produto nacional por importado de forma predatória. Muitas vezes as importações são feitas de forma desleal”, disse.

A AEB mostrou que as exportações de manufaturados estagnaram em toneladas desde 2009, enquanto as de commodities explodiram, sustentando a balança comercial desde 2001. “A gente não pode olhar para o Brasil com a dimensão territorial, populacional, com as questões sociais que tem, e pensar que a gente vai continuar exportando soja em grão, em vez de óleo e farelo; exportando algodão em vez de vestuário; carne in natura em vez de cortes especiais embalados. O mesmo serve para a área de minério”, afirmou Giannetti. “O Brasil tem de exportar valor agregado. Não é uma coisa contra a outra; é a commodity mais o produto manufaturado”, finalizou.

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