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Setor sucroenergético: entre o drama e a esperança

Para seguir em pé, o combalido setor sucroenergético agarra-se à esperança de que boas notícias virão da nova composição do governo federal. São tantas as dificuldades vividas nos últimos anos, especialmente no período mais recente, que a expectativa de que a nomeação da ministra Kátia Abreu para gerir a agricultura nacional é um dos poucos alentos que surgem no horizonte daqueles que investiram e investem na produção de açúcar e etanol.

O drama vivido pelas usinas que ainda se mantêm em pé, muitas das quais em situação financeira delicada, se reflete por toda a cadeia de fornecedores do setor, provocando a quebra de empresas anteriormente muito sólidas, causando desemprego e prejudicando seriamente a economia de muitas localidades. A situação é tão séria que municípios inteiros têm vivido uma crise econômica nunca antes enfrentada, em razão da grande presença de usinas e outras empresas ligadas ao segmento sucroenergético que, ou já quebraram, ou encontram-se em estágio falimentar.

Por mais notória que seja a posição favorável ao setor externada pela ministra Kátia Abreu, é preciso muita coesão e proatividade de gestores e líderes do mercado para estimular soluções urgentes aos problemas do setor. Quando uma indústria tão essencial ao desenvolvimento sustentado de um país passa por situação como a atualmente vivida pelo segmento sucroenergético, a busca por soluções deixa de ser uma atividade de gestão e passa a ser uma iniciativa política e social, que depende da exibição e publicidade nacional de todas as dificuldades enfrentadas.

Será necessário, portanto, muita mobilização para sensibilizar os brasileiros das condições dramáticas que vêm sendo enfrentadas pelos empreendedores desse setor, na busca de despertar a necessária atenção das autoridades brasileiras para que adotem medidas eficientes e urgentíssimas destinadas a reverter o quadro negativo há tempos estabelecido.

Sem certezas de que as boas notícias passarão a fazer parte do cotidiano, o setor inteiro torce pelas novas iniciativas, ou por medidas já há muito esperadas, como a retomada da cobrança da Cide (Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico) sobre os combustíveis de origem fóssil, ou a abertura de novos mercados externos que sejam potencialmente consumidores do etanol, como é caso dos Estados Unidos

Como tudo isso depende de fatores que extrapolam o campo de atuação empresarial, e enquanto não se concretizam os tímidos acenos da parte das autoridades governamentais para viabilizar um cenário melhor, resta aos gestores e empreendedores do setor sucroenergético e de seus fornecedores melhorar ainda mais a gestão empresarial, tributária e de recursos humanos e financeiros, tornando a administração o mais eficiente possível. Como parece óbvio, é necessário adotar medidas ainda mais severas que permitam reduzir custos, calibrar o faturamento e equalizar as dificuldades financeiras. Neste momento, é interessante às empresas poder contar com assessores que apontem caminhos mais certeiros em direção à saída desse cenário de crise.

 Aos olhos de uma pessoa que observa de fora, pode parecer que estamos deliberadamente jogando fora um patrimônio construído ao longo de 40 anos – desde a criação do Proálcool (Programa Nacional do Álcool) –, que demandou vultosos investimentos e o emprego de muito conhecimento para que fosse consolidada uma alternativa econômica e ambientalmente viável de substituição da dependência dos combustíveis derivados do petróleo. Quem sabe a lamentável crise na Petrobras, que possivelmente exigirá revisões de investimentos na exploração do pré-sal, faça o governo e demais autoridades voltarem sua atenção às necessidades do setor sucroenergético? Isso, é claro, antes que seja tarde demais.


*José Osvaldo Bozzo, consultor tributarista e sócio da MJC Consultores, formado em Direito, iniciou carreira na PwC. Foi também Sócio da BDO e da KPMG e professor de Planejamento Tributário na USP – MBA de Ribeirão Preto.

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