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Setor sucroalcooleiro do Brasil tem pausa após grande expansão

O setor sucroalcooleiro do Brasil fez uma pausa na sua forte expansão dos últimos tempos, enquanto os investidores curam a ressaca das restrições ao crédito e da temporada de chuvas.

O setor, que acumulou enormes dívidas nos últimos anos, foi atingido em cheio pela crise do crédito. Além disso, neste ano os canaviais sofreram chuvas excepcionais, o que prejudicou a produção de açúcar e etanol e impediu as usinas de aproveitarem a alta nos preços internacionais do açúcar.

Cerca de 70 novas usinas previstas antes da crise jamais sairão do papel, mesmo que alguns grupos consigam recuperar o acesso ao crédito, disse Plínio Nastari, presidente da consultoria Datagro, que realizou na segunda-feira uma conferência sobre o açúcar e álcool.

“A produção brasileira de cana cresceu em média 13,5% ao ano entre 2006 e 2008, o que é muito mais do que a taxa que consideramos sustentável em médio prazo, de 7,5% a 8%”, disse Nastari.

“Embora os preços atuais já sejam suficientes para cobrir os custos de produção, não devemos ver novamente o ritmo de crescimento na capacidade instalada do setor que vimos entre 2005 e 2008.”

Ele disse que as restrições ao crédito no final de 2008 e começo de 2009 devem afetar a atividade mais duramente do que crises anteriores, contribuindo para uma maior consolidação do setor. Isso abriria caminho para a entrada de novos atores e para uma “mudança estrutural”.

Estima-se que quase metade do setor tenha ficado próximo da falência, especialmente as empresas que já estavam muito endividadas e que sofriam com os preços baixos do açúcar e do etanol nos anos anteriores.

Na atual temporada, 23 novas usinas entrarão em funcionamento, e outras 15 estão previstas para 2010/11. Em 2008/09, 30 usinas entraram em operação.

O Brasil tem cerca de 300 usinas, a maior parte delas antigas, ineficientes e ligadas a empresas familiares. Muitas delas devem acabar sendo absorvidas por grupos maiores e mais profissionalizados, com mais capital do que os atuais proprietários.

Embora nas últimas semanas o açúcar esteja próximo da sua maior cotação em quase três décadas, as chuvas no centro-sul impediram as usinas de aproveitar ao máximo a colheita.

“Esta é a temporada mais difícil em quase 30 anos pelo menos”, disse José Carlos Toledo, presidente da Associação de Produtores de Bioenergia, que reúne usinas do oeste paulista.

“Este é um setor de capital intensivo, que cresceu mais do que deveria. Esperávamos mercados (internacionais de etanol) que acabaram não acontecendo”, disse. Entretanto, ele acredita que o pior da crise já passou, especialmente com relação ao preço elevado do açúcar.

Na opinião dele, o crescimento anual de 13% no setor não deve se manter, porque “as empresas não irão investir sem uma expectativa de sucesso”.

Nastari acrescentou que, em longo prazo, as concessões ambientais e a disponibilidade de água irão restringir novas usinas. Portanto, o preço dos atuais ativos deve subir, segundo ele.

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