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Setor produziu mais açúcar que álcool

O compromisso do setor sucroalcooleiro com o governo federal de produzir um excedente de 1,5 bilhão de litros de álcool nesta safra 2003/04 para garantir o abastecimento do produto no mercado interno, não vai se concretizar. A União das Indústrias Canavieiras do Estado de São Paulo (Unica) informou que a meta foi revista e a produção vai ficar em 1,1 milhão de litros de álcool. “A demanda por álcool foi reduzida este ano, por isso a quantidade foi alterada em nosso compromisso. Não há necessidade de produzir mais”, afirma o diretor-técnico da Unica Antonio de Padua Rodrigues. A produção de álcool no Centro-Sul, até a primeira quinzena de setembro, atingiu 9,2 bilhões de litros, volume 13,3% acima dos 8,1 bilhões de litros registrados na safra passada. Dados da Unica mostram que em São Paulo, o aumento foi de 12,3%, com a produção de 6,3 bilhões de litros, contra os 5,6 bilhões produzidos no mesmo período do ano anterior.

O estoque de passagem será de 300 milhões de litros, quantidade suficiente para abastecer o mercado até 1º de maio do ano que vem, início da safra 2004/05. A produção de açúcar também apresentou melhora em relação à safra passada. “Como o compromisso de produção de álcool com o governo diminuiu, o processamento foi direcionado ao açúcar. O governo se interessou mais pelo açúcar porque gera divisas ao País”, afirma o presidente da Associação dos Produtores de Cana, Álcool, Açúcar e Aguardente de Catanduva (Apac), Antônio Celidônio Ruette. No Centro-Sul foram produzidas 14,5 milhões de toneladas de açúcar, volume 7,4% maior do que os 13,5 milhões da safra 2002/03. Em São Paulo, o aumento foi menor, representando 5,8%, se comparados os 10,8 milhões de toneladas de açúcar produzidas na safra atual com os 10,2 milhões de toneladas do ano passado.

Bactérias aumentam produtividade da cana

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), unidade Agrobiologia, no Rio de Janeiro (RJ), estuda variedades de cana-de-açúcar eficientes na Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN). Trata-se de um sistema natural em que bactérias “do bem” promovem o fornecimento de nitrogênio para a planta sem a necessidade da adubação química. Os estudos mostram que as variedades comerciais RB72-454 (comum na região Noroeste paulista), CB45-3 (comum no Nordeste) e SP70-1143 tiveram os resultados mais positivos nas pesquisas científicas, desenvolvidas pelo laboratório da Embrapa, integrante da rede RioGene, que reúne cerca de 40 pesquisadores no Estado do Rio de Janeiro, dedicados a estudos genéticos. O estudo é importante porque abre a possibilidade de produzir cana com maior rendimento e menor custo, principalmente, em solos com deficiência de nutrientes.

O nitrogênio, essencial para o desenvolvimento da planta, é encontrado no meio ambiente. A composição do ar apresenta 78% de nitrogênio, mas a cana não consegue retirá-lo sozinha. Mas, a natureza não foi omissa e duas espécies de bactérias fixadoras de nitrogênio – a Gluconacetobacter diazotrophicus e a Herbaspirillum seropedicae – que vivem associadas à cultura da cana possuem forte interação com essas variedades comerciais e promovem o fornecimento do nitrogênio para ao vegetal. O entrave é que em muitas variedades de cana, as bactérias não agem na fixação. O grande desafio dos pesquisadores é descobrir as variedades na qual a bactéria possui ação eficiente. “É o mesmo que ocorre com a Aids. Muitos pacientes possuem o vírus mas não apresentam os seus sintomas. Com a cultura da cana, a bactéria está presente mas não faz a fixação”, afirma o pesquisador da Embrapa Agrobiologia, Segundo Urquiaga.

Os cientistas querem chegar ao que acontece na cultura da soja, a eficiência máxima de fixação de nitrogênio. “A soja brasileira é competitiva porque, mesmo cultivada em solos pobres, tem alta rentabilidade, resultando em preços competitivos no mercado internacional. Na soja, o País consegue economia de US$ 2,5 bilhões por ano porque não há uso de adubos nitrogenados. A bactéria fornece todo o nitrogênio que a planta precisa”, diz Urquiaga. Os pesquisadores descobriram também que o grau de fixação de nitrogênio por meio dessas bactérias na cana é da escala de 0% a 70%. “A intenção é descobrir o maior número de variedades que, associadas às bactérias, conseguem o nitrogênio do meio ambiente, para não correr o risco da dependência de uma cultura”, diz. Os cientistas querem chegar pelo menos a 50% da fixação de nitrogênio por meio de bactérias. Hoje é de cerca de 35%. Outro ponto é verificar em que local na planta da cana as bactérias fazem o repasse do nitrogênio. Na cana, as bactérias se encontram nas folhas, colmos e raízes. Na soja, a bactéria Gluconacetobacter diazotrophicus mora próxima à raiz. A Embrapa já está testando no campo as pesquisas com a cana.

Embrapa identifica gene

A Embrapa Agrobiologia realiza trabalho de identificação dos genes presentes na bactéria Gluconacetobacter diazotrophicus, que retira do ar nitrogênio e o transfere para a planta promovendo o seu crescimento. “Estamos garimpando os genes para identificá-los. Já conseguimos seqüenciar 98% dos genes da bactéria”, diz o pesquisador da Embrapa Agrobiologia, José Ivo Baldani. A estimativa é que, em seis meses, o trabalho, realizado em parceria com a Cooperçucar, esteja concluído. A Gluconacetobacter diazotrophicus mantém uma associação natural de nitrogênio com plantas, como cana-de-açúcar, café e batata-doce, entre outras. O nitrogênio é um elemento de nutrição do solo muito utilizado em fertilizantes agrícolas. “Podemos aumentar a produtividade das culturas, diminuir o uso de fertilizantes e patógenos que hoje estão presentes na cultura da cana, por exemplo”, diz Baldani.

Se a planta não retira a quantidade suficiente de nitrogênio do ar, a opção ao produtor rural é o adubo nitrogenado químico feito de derivados do petróleo, cujos preços são cotados em dólar. O resultado é o custo elevado e, consequentemente, o preço final ao produtor também alto, considerando que o quilo do adubo custa cerca de meio dólar, ou seja, US$ 1,443 (R$ 1,44 cotação da última sexta-feira). Com o seqüenciamento dos genes, o potencial de geração de nitrogênio da bactéria poderá ser aumentado, estimulando o seu funcionamento como adubo natural. Os cientistas querem a redução de até 30% da quantidade de fertilizantes nitrogenados aplicados.

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