A ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, disse que o etanol foi o produto mais prejudicado com a crise provocada pelos preços baixos do petróleo e a COVID-19. “O setor (sucroenergético) pegou uma tempestade perfeita e até o momento o etanol foi o maior prejudicado com a crise”, afirmou ao participar de uma live promovida pela XP Investimentos, na última quarta-feira (8).
Tereza Cristina reconheceu as externalidades do segmento, ressaltando que o setor emprega muito e que tem sua peculiaridade, citando o corte do canavial na época certa e alguns processos da produção. “É um setor que precisa da intervenção neste momento, de uma ajuda do Governo e isso está sendo estudado pelo ministro Bento (Albuquerque, de Minas e Energia) e eu participei somente de algumas reuniões, porque represento só um elo da cadeia que é o produtor de cana, mas a gente tem trabalhado e discutido e tem muitas ideias”, disse a ministra.
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Ela citou a suspensão temporária da cobrança do PIS e Cofins e a revisão da Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE), medidas que ajudariam no atual contexto, porém advertiu que o Presidente Bolsonaro não “gosta muito de aumentar impostos” e que estudos estavam sendo feitos para ajudar o segmento, principalmente em relação à estocagem do etanol, visto que a demanda continua baixa e a safra em curso, com volume do produto aumentando.
“É um setor de vanguarda, que faz o dever de casa muito bem. Tem o RenovaBio que é um grande programa, moderno e que o Governo tem que apostar nele porque é muito bom”, alegou, comentando também que o setor foi muito solidário e contribuiu com o combate a disseminação do coronavírus, com a doação de álcool 70% às instituições de saúde.
Ajuda ao agro
Na oportunidade, Tereza Cristina falou também sobre as medidas econômicas anunciadas durante a semana pelo Governo, para ajudar produtores rurais afetados pela pandemia. Entre as decisões, está a prorrogação das parcelas de financiamentos e recursos para estocagem e comercialização. Também haverá ajuda para os produtores afetados pela seca.
“As medidas vão permitir que os agricultores tenham mais prazos e liquidez para honrar com os seus compromissos financeiros e tranquilidade suficiente para auxiliá-los em suas tomadas de decisões”, disse.
Exportações
Durante a live, a ministra afirmou também que, até o momento, não ocorreu nenhum prejuízo com as exportações devido à crise geopolítica e sanitária. “Muito pelo contrário, nestes três meses de 2020, tivemos aumento das exportações em várias cadeias e a valorização do dólar fez com que os produtos exportados tivessem um valor muito bom, o que é muito bom no curto prazo”, disse. Porém, ressaltou que é preciso avaliar como ficará o cenário a partir de agora, visto que muitos insumos são importados, o que pode encarecer os produtos na próxima safra, fazendo com que os custos aumentem.
A responsável pela pasta da Agricultura também contou que o Brasil tem sido demandado por outros países que buscam produtos agrícolas e estão preocupados com um possível desabastecimento pós-pandemia. A ministra disse ainda que diante do atual cenário, algumas medidas sanitárias, que muitas vezes tornam os processos mais demorados ou eram usadas até como barreiras comerciais, “estão sendo deixadas para trás”.
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Segundo Tereza Cristina, no primeiro trimestre de 2020, as exportações brasileiras do agronegócio somaram US$ 21,39 bilhões. A participação do setor agropecuário no total das exportações brasileiras foi de 43,2%, superior aos 42% registrados em 2019.
Só em março, as exportações do agro totalizaram US$ 9,2 bilhões e as importações do agronegócio alcançaram US$ 1,28 bilhão (12,3%). O saldo comercial da balança ficou em US$ 8 bilhões, com a participação do agro nas exportações totais brasileiras em 48,3%.
Os três produtos responsáveis pelo incremento das exportações do agronegócio foram soja em grão (US$ 3,98 bilhões), açúcar (US$ 441 milhões) e carne bovina in natura (US$ 555 milhões).
Plano Safra 2020/2021
A ministra afirmou que estão trabalhando para uma antecipação do Plano Safra 2020/21, mas há uma demanda grande no Ministério da Economia por conta da pandemia e não seria fácil antecipar o programa agora. “Seria bem-vindo porque traz previsibilidade aos produtores para essa safra próxima, cujo o plantio começa em setembro”, afirmou.
Normalmente, o Plano Safra é lançado em junho, mas a antecipação do dinheiro traria previsibilidade ao mercado e aos produtores. “Isso está sendo discutido há um bom tempo, mas precisamos bater o martelo”, disse, explicando que estão pedindo um recurso maior para a subvenção ao seguro rural, que tem valor de R$ 1 bilhão nesta safra.
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Soja e Milho
A ministra alegou ainda que a pandemia não afetou o andamento da safra brasileira de grãos e a produção foi de 251,8 milhões de toneladas, ante 251,9 milhões de toneladas estimados, uma queda de aproximadamente 100 mil toneladas. Os dados foram divulgados oficialmente ontem (9), no 7º Levantamento da Safra da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Com área total cultivada estimada em 65,1 milhões de hectares, a soja e o milho impulsionaram o bom resultado, com produção de 122,1 milhões de toneladas e 101,9 milhões de toneladas, respectivamente. Sobre o milho, a ministra fez uma consideração, citando que a oferta de milho pode crescer nos EUA, visto que o consumo do grão pelos fabricantes de etanol tem caído, diante da queda na demanda do biocombustível provocada pelo coronavírus. “Se os EUA não fizerem etanol de milho nesta safra, terá um excedente de milho lá”, observou.