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Setor de energia quadruplica as emissões em quatro décadas

As fontes renováveis representam 41% da energia produzida no Brasil, por conta do etanol e das hidrelétricas, percentual muito acima dos 10% apurados nos países que integram a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), mas abaixo dos 50% registrados em 1990. As emissões do setor de energia estão em franco crescimento. Segundo pesquisa do Observatório do Clima, divulgada semana passada, entre 1970 e 2013, o segmento quadruplicou a emissão de poluentes globais, chegando a 2013 com 29% das emissões brasileiras.

Se considerados apenas os últimos cinco anos, as emissões da área aumentaram 34%. “A expansão se deve à queda da participação do etanol, ao aumento do consumo de gasolina e diesel, além do incremento de geração termelétrica no Brasil”, afirma Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima. Para ele, essa tendência é preocupante, mesmo quando comparada àquele que ainda é o pior vilão das emissões brasileiras, o desmatamento (que respondeu por 35% do total dos poluentes globais do Brasil em 2013).

No documento entregue ao governo por empresários do Fórum Clima, na semana passada, é proposta uma meta para o país reverter a queda na participação de fontes renováveis na matriz energética e estabelecer a proporção mínima de 50% de fontes renováveis até 2030. Apesar da posição privilegiada – o Brasil tem a produção de cana-de-açúcar mais competitiva do mundo e um dos cinco maiores potenciais hidrelétricos -, o futuro apresenta vários obstáculos.

O primeiro deles se refere à hidreletricidade, que representa cerca de 60% da geração de energia elétrica no país, mas cujos principais futuros projetos estão na região Norte, onde questões ambientais e indígenas são complicadores. Construir hidrelétricas será uma tarefa mais árdua, já que 65% do potencial hidrelétrico está naquela região. “A questão ambiental e indígena exigirá negociação complexa e soluções consensuais”, ressalta Alexei Vivan, presidente da Associação Brasileira das Concessionárias de Energia (ABCE).

O segundo se refere ao setor sucroalcooleiro, que vive uma crise, reflexo de alto endividamento e da política de controle dos preços dos combustíveis, entre 2009 e 2013.

Atentas a esse quadro, as empresas buscam alternativas. A CPFL Energia percebeu que a questão energética e as mudanças climáticas seriam os temas do século XXI, em um cenário de transição para a economia de baixo carbono. O foco passou a ser desenvolver a energia renovável. Em julho de 2013, a empresa abriu o capital da CPFL Renováveis, maior empresa do setor no país, com cerca de 1800 MW de capacidade instalada em 80 usinas, sendo cerca de 1000 MW de parques eólicos, 370 MW de biomassa de cana, 400 MW de PCHs e uma usina solar no interior de São Paulo. “O Brasil pode desempenhar uma posição de liderança nessa área em todo o mundo”, afirma Luiz Osorio, vice-presidente jurídico e de relações institucionais da CPFL Energia. Hoje 93,4% da energia produzida pela empresa é de fontes renováveis.

Além de investimentos em parques eólicos, um dos focos é a energia solar. No segundo semestre do próximo ano, a CPFL deverá dar partida a um projeto de telhados solares em 200 pontos de consumo na cidade de Campinas, interior paulista. “A ideia é testar o impacto na rede e no faturamento, abrangendo residências, escolas e comércio. A microgeração distribuída é uma tendência global e estamos olhando para essa fonte que tem muito potencial no Brasil.”

Reduzir a pegada ambiental é preocupação constante da L’Oréal. Em 2012, a fábrica de São Paulo passou a substituir suas caldeiras que usavam gás natural para produzir vapor para a fabricação de produtos por equipamentos flexíveis, que também podiam funcionar por etanol. Em 2015, o projeto foi estendido para a unidade do Rio de Janeiro. Hoje, 61% das caldeiras usam etanol. A meta é que até 2020 o combustível renovável possa suprir as caldeiras flexíveis.

Já a energia elétrica que abastece as duas fábricas é toda oriunda de contratos no mercado livre de compra de energia de fontes renováveis. “Uma PCH e biomassa de cana nos garantem a eletricidade das unidades”, diz Gerald Vincent, diretor de projetos, meio ambiente e segurança da L’Oréal.

Ser mais competitivo e diversificar a matriz, o que assegura maior flexibilidade para driblar eventuais oscilações de preço. Com esses objetivos, a Dow deu a partida no ano passado em um inovador projeto de cogeração de energia a partir de biomassa em sua unidade na Bahia. “Há uma grande preocupação com a energia, que é um insumo caro no Brasil”, diz a diretora de energia, Claudia Schaeffer.

No início do projeto, se pensou no uso do capim elefante para gerar energia, mas o braço de agronegócios da empresa, a Dow AgroScience, apontou que a cultura era muito recente no Brasil e que seria arriscado apostar nela.

Mudou-se então o foco do projeto para o eucalipto. Em parceria com a ERB (Energias Renováveis do Brasil), a Dow fez uma planta de cogeração de vapor e energia de biomassa de eucalipto, que soma R$ 265 milhões em investimentos. A cogeração fornecerá 25% da energia consumida pela Dow em Aratu (BA), substituindo 150 mil metros cúbicos diários de gás natural e reduzindo as emissões de gases de efeito estufa em 33%.

No fim do ano passado, a Honda iniciou a operação de seu primeiro parque eólico e o primeiro também do setor automotivo. Localizado em Xangri-Lá (RS), com investimentos de R$ 100 milhões, a unidade produzirá energia suficiente para atender toda a demanda de energia da fábrica em Sumaré (SP), que tem capacidade produtiva anual de 120 mil carros.

Fonte: (Valor)

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