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Série traz novos detalhes políticos do setor no Nordeste

O Jornal do Commércio publicou uma série de reportagem sobre os antecedentes do golpe de 64. Com o auxílio de farta documentação histórica, o JC mostra o impacto, no plano econômico, do avanço dos trabalhadores, que ganhavam força com a sindicalização das ligas camponesas. O material especial também ajudar a clarear a importância da revolução cubana, realizada no final de 1959. Está sendo repassada a limpo ainda, antes disso, a importância que o governo de JK acabou tendo sobre o Nordeste açucareiro. Leia abaixo mais três novos textos da série. A cada dia o Jornal Cana vai reproduzir um texto da séria do Jornal do Comércio (PE).

NA TRILHA DO GOLPE III

Usineiros queriam tirar Celso da Sudene

Na mudança do governo JK para Jânio e depois Jango, a UDN queria trocar o comando da Sudene, por considerar que ela se aliava aos trabalhadores contra seus interesses. Os grandes do açúcar me consideravam um intruso e aguardavam a primeira oportunidade para me excluir. Um membro do clã, Renato Ribeiro Coutinho, dirigia a Federação das Indústrias de Pernambuco, dizia de público que era preciso tirar esse comunista da Sudene, conta Celso Furtado, em seu livro de memórias.

Com o golpe, os usineiros colocaram em prática o plano. Quando Miguel Arraes foi preso, no IV Exército, estava reunida lá toda a corte de políticos que nos havia combatido, a começar pelo ex-governador Cid Sampaio, rememora. Para se ter uma idéia do ódio que o governante despertava, quando assumiu, no início de 63, o JC transcreveu um artigo em que Assis Chateaubriand tratava do discurso de posse de Arraes e o chamava de débio mental. O artigo foi publicado quatro vezes no JC, a princípio um jornal concorrente dos Diários Associados. Celso Furtado, após o Golpe de 64, culpou principalmente Cid Sampaio por seu afastamento da Sudene.

NA TRILHA DO GOLPE IV

Francisco Julião e Fidel Castro tinham acordo desde 1961

Em seu livro A Ditadura Envergonhada, o jornalista Elio Gaspari conta que Fidel Castro tinha pressa em alastrar sua política, pois temia ser invadido pelos EUA, e para isso contou com a colaboração do deputado federal pernambucano Francisco Julião, líder das ligas camponesas.

A guerrilha brasileira entrara em seus planos antes mesmo da derrubada de Goulart. Em 1961, manobrando pelo flanco esquerdo do PCB, Fidel hospedara em Havana o deputado Francisco Julião. Antes desse encontro, com o olhar e a cabeleira de profeta desarmado, Julião propunha uma reforma agrária convencional. Na volta de Cuba, defendia uma alternativa socialista, carregada no slogan ‘reforma agrária na lei ou na marra’. Ele acreditava que a guerrilha era o caminho para se chegar a ela, explica.

Segundo o escritor, em 1963, Julião e Luis Carlos Prestes estiveram simultaneamente em Havana e foram recebidos em separado por Castro. Julião já havia remetido 12 pessoas para cursos militares lá.

O jornalista Wandeck Santiago, autor de uma biografia do líder das ligas camponesas, revela que em 1960 Julião já havia visitado Cuba com Jânio Quadros. Cuba era o País socialista que mais tinha motivos para atraí-lo. Ficava no mesmo continente americano e tinha largo cultivo de cana e muitos camponeses vinculados a essa atividade.

A publicação traz inclusive uma rara observação de Miguel Arraes sobre Francisco Julião. Ele foi mais um dos anunciadores do movimento do campo do que organizador. Denunciou a emergência do problema, mas a organização das ligas era menor do que a própria expressão que o movimento alcançou no Brasil. A falta de meios, de condições e até mesmo de quadros que pudessem se dedicar à organização foram as principais causas para tais obstáculos. Porém, é indiscutível que Julião foi um dos grandes profetas do problema rural e agrário brasileiro, opina Miguel Arraes.

Celso Furtado, no seu livro de memórias, conta como Julião impressionou Guevarra. O então superintendente da Sudene, Celso Furtado, em 1961, quando participava da conferência da Organização dos Estados Americanos (OEA), em Punta del Leste, no Uruguai, conversou com Che Guevara e disse que teve a impressão de que ele fora influenciado por Julião.

A conversa encaminhou-se para o Nordeste e logo pude dar-me conta de que ele havia absorvido a visão mítica que Francisco Julião transmitia a interlocutores que tudo ignoravam da região. Ele imaginava as ligas camponesas como vigorosas organizações de massa, capacitadas para por em xeque qualquer iniciativa da direita, visando modificar a relação de forças em benefício próprio. Superestimava Julião como líder e como organizador e subestimava as estruturas de poder enraizadas secularmente no Nordeste, avaliou Celso Furtado.

Falecido aos 84 anos, no México, de infarto, Francisco Julião ainda chegou a promover uma enorme polêmica em 1986, ao assinar o Pacto da Galiléia, com o candidato a governador José Múcio Monteiro. Julião apoiaria Monteiro, em troca ele promete dar 10% das terras das usinas para a reforma agrária. Miguel Arraes era candidato do PMDB e Múcio pelo PFL.

JK ajudou usinas, mas avanço criou ambiente para reclamações de sindicatos

O governo de JK acabou tendo um grande impacto sobre o nordeste açucareiro, embora pouco se fale sobre essa relação. Em 1955, JK é eleito e procura estimular o avanço do capitalismo, acelerando o processo de industrialização. O forte crescimento econômico estimulou o aumento da capacidade de produção das usinas e a necessidade de expansão.

Para aumentar a capacidade de produção industrial, as usinas necessitam de mais cana e passaram a expandir os canaviais para áreas então destinadas a cultura de subsistência dos trabalhadores rurais. Foi nessa época que desapareceram os sítios de moradores nos engenhos de fogo morto. Os canaviais se expandiram pelas propriedades entregue aos foreiros, arrendatários que cultivavam produtos consumidos no mercado local e regional, conta Manoel Correia de Andrade. Os usineiros também passaram a exigir dos trabalhadores cinco dias de trabalho semanal, impedindo que eles fizessem culturas suplementares.

Na avaliação de Manoel Correia, o problema do governo JK, assim, foi que o seu populismo abriu caminho também para que os grupos dominados, no sentido de organização sindical. Os sindicatos se fortaleceram. As notícias de propaganda de rádio de pilha e facilidades de comunicação levaram os trabalhadores a consciência de situação de miséria.

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