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Senador francês pró-etanol no Brasil pede cautela em Doha

“Não podemos negociar dentro de um quadro de instabilidade, excitação e nervosismo.” A afirmação é do senador e presidente do comitê de Finanças do Senado da França, Jean Arthuis. Ele se refere às negociações da Rodada Doha, da Organização Mundial de Comércio (OMC).

A posição da França, um dos países mais protecionistas em agricultura, é o oposto da convicção do governo brasileiro, que defende que o momento atual é propício para acelerar as conversas.

O senador francês avalia que a crise imobiliária nos Estados Unidos trouxe uma série de incertezas para o sistema financeiro e que o movimento especulativo dos fundos de investimentos chegou às commodities, dando combustível para a alta do preço dos alimentos. “Não podemos solucionar tudo com abertura total do comércio. Cada povo deve dominar melhor o fornecimento de seus alimentos”, disse Arthuis ontem ao Valor.

Arthuis é o líder de uma delegação de senadores franceses que visitam o Brasil nesta semana com o objetivo de conhecer a agricultura brasileira. O tema da missão é bastante sugestivo: “Brasil, fazenda do mundo”.

Na quarta-feira, eles estiveram na região de Ribeirão Preto, um dos pólos agrícolas mais dinâmicos do país, e conheceram a fábrica de etanol da francesa Louis Dreyfus. Ontem, foi a vez a unidade da Embrapa que faz monitoramento por satélite e da Universidade de Campinas (Unicamp).

A impressão do senador sobre o etanol brasileiro, produzido a partir da cana-de-açúcar, é positiva, apesar do ataque global aos biocombustíveis. “Não acredito que a produção de etanol do Brasil a partir da cana-de-açúcar seja uma razão para a alta dos preços dos alimentos”, disse Arthuis.

Ele afirma que os principais fatores da “agroinflação” são a forte demanda dos países emergentes e a alta dos preços do petróleo. Segundo o senador, o Brasil deve valorizar os biocombustíveis, apesar das possíveis descobertas de megacampos de petróleo. “Temos que ter em mente que essa energia fóssil vai acabar em pouco tempo.”

Depois da visita ao interior do país, Arthuis está convencido de que os agricultores brasileiros têm potencial para dobrar sua produção, porque dominam a tecnologia, são profissionais, além de contarem com as vantagens do clima. Durante o governo Jacques Chirac, Arthuis ocupou o posto de ministro das Finanças entre agosto de 1995 e junho de 1997.

Apesar da preocupação com a alta do preço dos alimentos, o senador defendeu o embargo europeu à carne bovina brasileira. “É normal que as autoridades locais protejam a sanidade do gado e preservem a saúde dos cidadãos”, disse. Ele acrescentou, no entanto, que é uma situação “provisória” que deve se resolver assim que os dois lados concordem com regras sanitárias e de rastreabilidade.

Ao contrário de muitos compatriotas, o senador não teme que os biocombustíveis e a expansão da agricultura brasileira sejam uma ameaça para a floresta Amazônica. “O Brasil tem uma legislação rigorosa e tenho confiança de que o governo vai tomar as medidas necessárias para que as leis sejam respeitadas”, afirmou. “Não fui à Amazônia, mas vi o acompanhamento por satélite da Embrapa.”

Ele ressaltou que os produtores agrícolas estão sob forte pressão para produzir mais alimentos devido à alta dos preços. Arthuis não descarta que “alguns brasileiros busquem seu destino na floresta”, mas ressalta que, por isso, a vigilância do governo é tão necessária.

Questionado se abriria as portas do mercado francês para os produtores agrícolas brasileiros depois de conhecer o potencial agrícola do Brasil de perto, Arthuis desconversou. “A União Européia é o principal cliente do Brasil na área agrícola, o que é um símbolo de abertura e confiança”, disse.

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