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Seminário discute rotas do palhiço da cana

Com a redução gradativa das queimadas nos canaviais – conforme exigência da legislação -, o palhiço começa a ser observado por olhares cada vez mais atentos. As vantagens no seu recolhimento, recuperação e aproveitamento têm mobilizado pesquisadores de universidades, gerentes e diretores de usinas, que estão interessados em encontrar a maneira mais produtiva, econômica e eficaz de fazer tudo isto. Esses assuntos foram amplamente debatidos no 1º Seminário sobre Recuperação do Palhiço da Cana-de-Açúcar, realizado no dia 19 de dezembro, na Faculdade de Engenharia Agrícola, da Universidade Estadual de Campinas — Feagri/Unicamp.

O evento demonstrou que o jeito “bom, bonito e barato” de estabelecer a rota mais adequada para o recolhimento da palha depende, entre outros fatores, da realidade e das expectativas de cada usina. Não faltaram, no entanto, revelações a partir do desenvolvimento de experiências e estudos específicos. O professor Tomaz Caetano Ripoli, pesquisador da Escola Superior Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo — Esalq/USP, fez um alerta: “Não tomem a decisão de fazer o recolhimento a granel, pois apresenta um custo muito mais elevado” Ripoli, que realiza uma minuciosa pesquisa sobre o recolhimento da palha para o Grupo Cosan, fez um detalhado levantamento de dados, considerando o total de 140 variáveis, em três sistemas de recolhimento do palhiço: colheita integral da cana-de-açúcar, recolhimento a granel e com enfardadora.

Entre os diversos relatos e trocas de experiências, outras constatações: o desligamento dos exaustores de colhedoras, durante o recolhimento do palhiço, reduz significativamente a quantidade de rebolo estraçalhado, porém aumenta a quantidade de impurezas minerais. Para a realização da colheita integral da cana, os participantes do Seminário observaram que existe a necessidade de considerar, na avaliação de custos, o investimento com a implantação de uma estação de limpeza – estimado em R$ 1,5 milhão – na usina. Para o gerente de motomecanização da Usina São João, de Araras (SP), Humberto César Carrara Neto, já é hora dos fabricantes desenvolverem máquinas adequadas à colheita integral

Desde 2001, a usina de Araras está adotando um sistema próprio de recolhimento da palha, com a utilização de uma aleiradeira Prata 1000, acoplada a um trator (63 CV). As primeiras experiências de recolhimento do palhiço na São João – que foram interrompidas durante alguns anos – começaram em 1989. Segundo o gerente de colheita e plantio dessa usina, João Saccomano, essa trajetória indica alguns caminhos na busca da otimização: o transporte com três carretas; o aumento da densidade por meio da compactação e a utilização de carretas com telas, que são mais recomendadas para a descarga.

Aproveitamento adequado amplia ganhos

Os caminhos do palhiço passam, obrigatoriamente, pela definição da melhor alternativa de seu aproveitamento. A Companhia Energética Santa Elisa, de Sertãozinho (SP), que começou a fazer os primeiros testes para a retirada do palhiço do canavial em 2001, pretende recolher, este ano, 60 mil toneladas. “O objetivo é utilizá-lo na cogeração de energia”, explica Otávio Tufi, gerente de produção agrícola da usina que faz o recolhimento com uma máquina John Deere, com motor de 396 CV. O pesquisador do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Estratégico — Nipe, da Unicamp, Edgardo Olivarez, demonstrou, durante o Seminário da Unicamp, que a palha pode ser usada como biomassa para a produção do bio-óleo – um substituto do óleo combustível e do diesel – por meio do processo de pirólise rápida (degradação térmica).

Além de ser uma excelente fonte para a geração de energia – com um poder calorífico superior ao bagaço -, a palha pode, também, proporcionar ganhos de outras maneiras. O coordenador do Nipe, Luís Cortez, lembra que tanto a palha como o bagaço tem usos não-energéticos, como na produção de papel (jornal), papelão, compensado e ração animal. A Usina Ester, de Cosmópolis (SP), resolveu dar outra destinação ao palhiço, ou seja, vendê-lo para produtores de uva e goiaba da região. Para isto, realiza o recolhimento por meio do enfardamento. “De início, os fardos eram colocados na beira de rodovias e distribuídos gratuitamente. Agora, o palhiço é vendido por R$ 27,00 a tonelada. A demanda é grande”, observa Walter Lima, da Divisão Agrícola, da Usina Ester.

Na hora de fazer as contas para decidir pelo recolhimento e avaliar o melhor sistema, é preciso considerar os benefícios dessa medida para o canavial. Apesar de sua retirada significar perda de proteção natural e o aumento da incidência de ervas daninhas, as experiências têm revelado que ocorre uma melhoria acentuada no controle da cigarrinha das raízes. “Mesmo apresentando custos operacionais semelhantes, é preferível controlar o mato do que combater a cigarrinha que pode comprometer a plantação”, diz Humberto Carrara, da São João. Para o gerente de plantio e colheita da usina de Araras, João Saccomano, outras vantagens do recolhimento do palhiço são a redução da incidência de incêndios, o favorecimento da brotação da soqueira e a diminuição dos estragos causados por geadas em áreas sujeitas às mesmas.

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