Usinas

Semente sintética promete mudar dinâmica do plantio de cana

Há mais de dez anos sendo desenvolvida pelo CTC, a semente de cana se aproxima da produção em escala comercial

Semente sintética promete mudar dinâmica do plantio de cana

O sistema convencional de plantio da cana-de-açúcar parece estar com os dias contados. Pelo menos, essa é a expectativa do Centro de Tecnologia Canavieira – CTC, que há mais de dez anos, vem trabalhando no desenvolvimento da cana semente, que promete dar uma nova dinâmica no plantio do canavial.

Hoje temos a cana planta, seguida pela cana soca, com uma perda de aproximadamente 20% de produtividade, depois mais 20%, até que se decida pela renovação do canavial.

Acabar com esse ciclo e manter a produtividade do broto original, é a revolução prometida pela cana semente, que permitirá que o canavial seja renovado a cada safra.

Dados apontam uma estagnação na produtividade da cana nos últimos dez anos.  A TCH oscilou entre 67 e 76,9 toneladas por hectare na última década e, particularmente na safra 2021/22, o rendimento agrícola sofreu forte queda com a série de problemas climáticosseca, geadas e incêndios nos canaviais – que atingiu o Centro-Sul do país.

LEIA MAIS > Capturar e enterrar gás carbônico entra no radar do setor sucroenergético

As projeções indicam que o plantio por meio de sementes artificiais aumentará em 30% a oferta de cana na mesma área.

Em termos comparativos, o plantio convencional, feito com mudas, gerou 69,6 toneladas de cana por hectare em 2021, segundo a Sociedade Nacional de Agricultura.

Já com a semente, devem ser geradas 90,6 toneladas por hectare. Dando fim ao tradicional processo de plantio de cana com “toletes” (pedaços de cana).

Para plantar 1 hectare, é preciso de 15 a 18 toneladas de cana em tolete. Já com as sementes, esse mesmo hectare usará apenas meia tonelada.

Para o CEO do CTC, Gustavo Leite, “o plantio com sementes desenvolvidas a partir de embriões revolucionará o cultivo da cana, proporcionando significativos ganhos econômicos, operacionais e ambientais. Isso se traduzirá em lavouras mais produtivas, com maior competitividade para açúcar e etanol. E a tecnologia também será a base para o desenho de sementes para outras plantas que se propagam vegetativamente, como cítricos, eucalipto e cebola, entre outros – no Brasil e em outras partes do mundo”.

LEIA MAIS > Com adubação biológica, produtor alcança produtividade acima da média nacional em ambiente restritivo

Luís Antônio Paes, diretor comercial do CTC

De acordo com os pesquisadores, as sementes sintéticas, de cerca de 10 centímetros, são capazes de reduzir em cerca de 2% as falhas nos canaviais, ao mesmo tempo em que proporcionam ganhos de 7% em sanidade, pela menor incidência de pragas e doenças – ou seja, a produtividade pode ser 9% maior que no sistema tradicional, o que já corresponde a um ganho de R$ 7 mil por hectare.

Outra vantagem é que o produtor não precisará reservar parte de sua área (15%, em média) para os viveiros de mudas, a produção será naturalmente maior.

Para Suleiman Hassuani, gerente de pesquisa do CTC, a semente sintética é uma tecnologia realmente inovadora. “Ela muda totalmente o conceito do sistema de plantio, ou seja, os sistemas mecanizados que a gente tem hoje, procuram fazer a mesma coisa que o homem faz, só que com máquinas. Já esse sistema não. A gente produz o material biológico em fábricas, hoje ainda em laboratório, e a ideia é levar isso para ser plantada em campo, de uma forma similar ao de uma semente, só que é uma cápsula, que leva o material biológico. Isso simplifica todas as operações e resultando em mais sanidade e produtividade para o canavial”, diz.

LEIA MAIS > Fenasucro & Agrocana 2023 apresentará soluções para transição energética global

Suleiman Hassuani, gerente de pesquisa do CTC

Segundo ele, as novas sementes deverão formar canaviais das usinas parceiras para já ter a visão do cliente antes de ter o seu lançamento comercial. Atualmente, canaviais formados a partir da nova tecnologia já podem ser vistos no CTC, em Piracicaba – SP.

O diretor comercial do CTC, Luís Antônio Paes, também destacou a importância do maior banco genético do Brasil de cana-de-açúcar, mantido pelo CTC na cidade de Camamu, na Bahia.

“O programa de melhoramento genético vem a partir de um cruzamento de variedades. Ter um banco com a diversidade de características de cana é importantíssimo, pois permite mais flexibilidade e facilidade para fazer os cruzamentos e obter aquilo que se pretende”, disse.

Para Paes, a semente sintética é o terceiro pilar de desenvolvimento de tecnologia do CTC. “O melhoramento genético em primeiro lugar; a biotecnologia para proteção da genética desenvolvida e a produção de semente para conseguir ganho de escala e antecipar o uso dessa tecnologia”, afirmou.

LEIA MAIS > Congresso UDOP traz a transição energética com destaque para 1,6 mil profissionais de 12 áreas

Segundo o CTC, a semente de cana, ao lado de novas variedades, poderá trazer ganhos de produtividade ao ponto de dobrar a produção de cana no Brasil até 2030.

Essa matéria faz parte da edição junho/julho (345) do JornalCana. Para ler, clique AQUI!