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Sem tirar o brilho do etanol

O pré-sal vai mudar a matriz energética brasileira? O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, responde que não. Segundo ele, a participação de cada fonte energética será praticamente igual em 2030, mesmo se considerando que há um movimento de redução na produção de combustíveis fósseis para aliviar os problemas climáticos. “Nós consideramos, talvez infelizmente, que o petróleo, o carvão e o gás natural mantenham a mesma proporção como fonte primária de energia que temos hoje”, afirma. Atualmente, a principal fonte de energia do país vem do petróleo e derivados, seguida de biomassa, hidráulica e eletricidade, gás natural, carvão mineral e urânio.

A exploração do combustível em águas ultraprofundas não inviabiliza o investimento em outras alternativas e não elimina a “matriz mais renovável do mundo”, segundo a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. Aliás, no seminário Pré-sal e o futuro do Brasil, realizado dias 22 e 23, em Brasília, os ministros fizeram questão de destacar ações para ampliar o uso de outras fontes de energia, como a construção de usinas nucleares, o aumento do percentual de óleos vegetais no diesel e novos leilões de energia eólica (vento).

Os pesquisadores do Centro de Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear (CDTN) João Alberto de Mattos e Márcio Dias fazem um alerta. “Levantamento do próprio governo aponta que de 2005 para 2030 o consumo de energia vai aumentar 187%, ou seja, vai quase triplicar. É pegar toda a capacidade de geração do século passado e fazê-la duas vezes em 25 anos. Portanto, não tem que se discutir qual energia é a melhor. Tem que se investir em todas”, destaca Dias. Luciano Pacheco dos Santos, consultor e ex-! diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), concorda. “O governo diz que não haverá substituição de energias, mas a conciliação de todas as fontes. Mesmo assim, a preocupação ainda é grande quanto à estrutura de fonte de energia renovável, sobretudo em um momento em que a discussão do aquecimento global é cada vez mais intensa”, observa.

As autoridades do governo mantêm, a todo momento, o discurso de crescimento sustentado baseado em fontes alternativas de energia. “Somos grandes produtores e consumidores de energia renovável. Não vamos esquecer que no Brasil o consumo de etanol passou o da gasolina e que a matriz de transporte usa cada vez mais o biodiesel. O fato de descobrir o pré-sal não pode deixar de lado outras fontes adequadas ao Brasil”, exalta Dilma Rousseff.

A introdução do biodiesel na matriz energética brasileira é reconhecida internacionalmente como um caso de sucesso em matéria de uso de combustível renovável em larga escala. Os postos de combustíveis brasileiros comercializam o óleo diesel mineral com a adição de 4% do diesel vegetal. Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a nova mistura gera economia de aproximadamente US$ 900 milhões por ano devido à redução das importações de óleo diesel, derivado do qual o país ainda é dependente. Mais que isso. De acordo com estudo feito pela ANP, cada litro da nova mistura diminui em 3% a emissão de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, o que deve levar a uma diminuição anual de 1,2 milhão de toneladas dessas emissões.

Novo ciclo

Lobão destaca que está em fase de conclusão o estudo para a implantação de mais quatro usinas nucleares, sendo duas no Nordeste e outras duas no Centro-Sul do país. Existe um consenso mundial, embora a polêmica ainda seja grande, de que a energia nuclear é uma alternativa economicamente viável e ambientalmente sustentável para se juntar, ou até suceder, aos combustíveis fósseis, como o petróleo e o carvão, ao longo deste século. O Brasil tem a sexta maior reserva de urânio do mundo, com apenas um terço do território prospectado, e não quer ficar de fora desse novo ciclo energético, baseado na energia nuclear. Além disso, o país domina o ciclo completo do combustível nuclear com tecnologia de ultracentrifugação desenvolvida no país.

O ministro de Minas e Energia salienta ainda que, com a exploração do petróleo em águas ultraprofundas, o Brasil reduzirá a dependência de gás natural da Bolívia, podendo alcançar a autossuficiência em dois anos. E, concentrando esforços para manter o título de matriz mais limpa do mundo, diz ainda que vai realizar em novembro mais um leilão de energia eólica. “Não decidimos ainda de quanto vai ser a nossa necessidade inicial. O fato é que todos os anos, daqui para a frente, pretendemos fazer um ou dois leilões para energia eólica”, projeta. Segundo Lobão, já foram recebidos 441 projetos para geração de energia elétrica pelo sistema eólico, pelo qual equipamentos captam a energia dos ventos para movimentar os geradores. Essa oferta pode resultar em um potencial de 13.341 MW, capacidade próxima da que é gerada pela Usina Hidrelétrica de Itaipu.

No caso de hidrelétricas, até o fim deste ano, a Eletrobrás, entre outros projetos, espera concluir os estudos que vão viabilizar a construção de cinco usinas no complexo do Rio Tapajós, no Pará, utilizando o conceito de plataformas submarinas de petróleo. As cinco unidades deverão ter capacidade de geração de 11 mil megawatts (MW). Esse é um dos grandes projetos em estudo pela estatal, ao lado da Usina de Belo Monte, também com capacidade de 11 milMW e energia assegurada de 5 milMW, cujo leilão está previsto para ocorrer até o fim deste ano. Uma corrente de especialistas não tem dúvidas de que, a partir da implantação desse novo conceito de usinas hidráulicas, de energia limpa, o Brasil será modelo para o mundo também nessa área. A expectativa é de que as novas us! inas comecem a gerar energia em 2014.

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