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Sem-terra ocupam quarta fazenda na região

A região de Andradina teve ontem a quarta ocupação de terra em quase uma semana. Cento e dez famílias ligadas aos MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) ocuparam, de madrugada, cinco alqueires da Fazenda Primavera, em Mirandópolis, cuja propriedade tem 1,8 mil hectares. Há uma semana, o movimento ocupou as fazendas Tapyr, de Suzanápolis, e Timboré, em Andradina. Anteontem, famílias sem terra ligadas ao Sintraf (Sindicato da Agricultura Familiar) ocuparam a Fazenda Primavera, em Castilho.

Na área ocupada ontem havia uma plantação de cana-de-açúcar que foi derrubada pelos sem-terra para o plantio de arroz, feijão e milho. A fazenda pertence ao pecuarista Rubens Franco de Melo e há dois anos foi considerada improdutiva em laudo assinado pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária),que já havia avaliado a área em R$ 6,8 milhões e iniciado o processo de desapropriação. O pecuarista está contestado o laudo na Justiça.

As famílias não pretendem montar barracos dentro da fazenda. Há um ano, elas moram num espaço entre a cerca da fazenda e uma estrada rural que liga várias propriedades à Rodovia Marechal Rondon (SP 300).

Segundo Lourival Plácido de Paula, membro do MST, a ação do movimento tem a intenção de pressionar a Justiça a apressar o processo de reforma agrária. “Nosso principal objetivo é fazer com que os responsáveis pela desapropriação de terra, que ao nosso ver são os juízes federais, olhem para a nossa situação. Não agüentamos mais o Incra dizer que a fazenda é improdutiva, a Justiça iniciar os processo de desapropriação, o fazendeiro apresentar laudo contrário e tudo voltar à estaca zero. Alguma coisa tem que ser feita”, disse Lourival.

Ele não descarta a possibilidade de haver novas ocupações ou manifestações em praças públicas da região. Atualmente, o MST mantém 25 acampamentos entre as cidades de Castilho e Birigüi. Quatro áreas estão ocupadas, sendo que, para as fazendas Tapyr e Timboré, já há decisões favoráveis aos fazendeiros para reintegração de posse. O comando da Polícia Militar da região ainda não recebeu ordens para o despejo das famílias.

Em Castilho ontem, no segundo dia de ocupação da Fazenda Primavera, as famílias preparavam a terra para plantio, apesar de o trabalho ter sido prejudicado pela chuva que caiu na região no início da tarde. O advogado Ignácio Akira Hirata, que representa o pecuarista Otávio Junqueira Leite de Moraes, está tentando na Justiça a reintegração de posse da fazenda. A previsão é que uma decisão seja anunciada no início da próxima semana.

Carta – Em todas as ocupações, o MST está distribuindo carta aberta à população, atacando a existência de latifúndios no país, e creditando a eles a pobreza de parcela da população.

O documento é assinado pelo escritório regional do movimento, que fica no centro de Andradina, e diz que “o latifúndio gera miséria, expulsão da população do campo, causa violência, injustiça e sobretudo exclusão social. A agricultura brasileira vem se transformando hoje em um negócio voltado ao mercado internacional. Esse mesmo projeto é realidade de nossa região, com avanço da implementação da monocultura da cana-de-açúcar”.

Segundo Lourival, a carta e as ocupações pretendem mostrar aos sem-terra e à sociedade que “apenas através da luta será possível fazer a reforma agrária”. “Tudo o que conseguimos até hoje foi por meio de pressão e luta. Ninguém fará nada por nós, se não nos movermos”, disse ele.

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