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Sem desistência

No primeiro semestre deste ano, os produtores de açúcar e álcool tiveram dois enormes incentivos: a disparada dos preços do petróleo, que levou o mundo inteiro a olhar para o álcool como substitutivo ideal para a gasolina, e a forte alta dos preços do açúcar.

Os dois impulsos aceleraram a disposição de investir. No momento, existem em todo o Brasil cerca de 130 projetos de construção ou ampliação de usinas de açúcar e álcool, com maturação prevista até 2014.

A partir de julho, virou a maré do petróleo. Os preços que haviam alcançado os US$ 78 por barril (159 litros) agora estão resvalando para abaixo dos US$ 60.

Lá fora, a gasolina ficou mais barata e já começam a perguntar se essa idéia de queimar álcool nos motores dos veículos em vez de gasolina não é um tanto prematura.

Também em julho, os preços do açúcar atingiram os 18 centavos de dólar por libra-peso (453,6 gramas). De lá para cá, não fizeram outra coisa senão descer a ladeira. Hoje oscilam em torno dos 11 centavos de dólar por libra-peso. A senha para a derrubada foi o anúncio de uma produção maior na Índia e na Tailândia.

Diante do recuo dos preços, o impulso do usineiro do Brasil é destinar mais matéria-prima para produção de álcool, o que, em princípio, tende a derrubar os preços internos. Sintoma de que a perspectiva de maior produção de álcool e de queda de seus preços incomodam o setor é o aumento das pressões para que o governo autorize o aumento da proporção de álcool, de 20% para 25%, na mistura com a gasolina. As estatísticas do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-Esalq) indicam que em junho os preços do álcool hidratado nas usinas, sem impostos, estavam em R$ 0,85 por litro e agora em setembro passaram a R$ 0,75 por litro.

Diante do novo quadro de preços, como vai a disposição de investir? O economista da MB Associados José Carlos Hausknecht não acredita em desistências. Para ele, ainda sobram estímulos: (1) Embora estejam em queda, os preços do petróleo tendem a permanecer elevados. (2) Além disso, o Brasil produz o álcool mais competitivo e mais eficiente do mundo.

Essa também é a opinião de José Vicente Ferraz, diretor-técnico do Instituto FNP, empresa de análises do agronegócio: Somente com o petróleo abaixo dos US$ 35 por barril o nosso álcool perderia mercado para a gasolina, diz. Ferraz acrescenta que, apesar da queda, os preços do açúcar e do álcool continuam em patamares remuneradores para o produtor nacional.

Outro motivo de ânimo para o setor é o acelerado crescimento da frota de veículos flex fuel, que, se de um lado, aumenta o poder de escolha do consumidor entre gasolina e álcool, de outro, amplia o mercado para o álcool.

Existem hoje no Brasil mais de 2 milhões de veículos com essa especificação, que poderão alcançar as 7,9 milhões de unidades em 2010. Enfim, o mercado passou a operar com balizadores de preços do álcool. Eles não podem subir demais porque isso afugentaria o consumidor e não podem cair demais porque a demanda crescente se encarregaria de trazê-los para cima.

Afora isso, antes de provocar derrubada dos preços, um aumento da produção ajudará a empurrar as exportações, que devem chegar a 3,5 bilhões de litros nesta safra, ante os 2,5 bilhões de litros exportados no ano passado, segundo Hausknecht, e tendem a subir nas próximas.

No dia 19 de setembro, em conseqüência dos estragos nas plantações provocados pela estiagem no Sudeste, a União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica) revisou para baixo sua previsão de produção de cana-de-açúcar no CentroSul para este ano – de 375 milhões de toneladas para 370,6 milhões. Ainda assim, a safra deste ano deve ser 9,3% maior do que a do ano passado. A produção de açúcar está estimada em 26 milhões de toneladas, 18,2% maior do que a do ano passado, e a de álcool, de 15,75 bilhões de litros, 10,1% acima.

Se nenhuma novidade vier tumultuar os mercados de álcool e de açúcar, as preocupações em relação aos investimentos acabarão desaparecendo.

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