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Segurar o álcool

O governo fez uma reunião ontem, da qual participaram, pelo menos, cinco ministros, para discutir o risco de desabastecimento de álcool. Chegou a avaliar a criação de um imposto à exportação do produto. Acabou decidindo reduzir de 25% para 20% a mistura do álcool à gasolina. Decidiu também incluir o álcool na lista de exceção da TEC para zerar o imposto de importação. Os produtores vão antecipar a colheita da cana-de-açúcar, mas não garantem o preço de R$ 1,05 acertado naquele acordo feito semanas atrás.

O consumo está alto lá fora e aqui no Brasil por causa da entrada dos carros bicombustíveis. O açúcar, que é o outro lado da moeda do mesmo produto, está também com preço alto porque alguns países como Tailândia e Austrália reduziram a produção.

Há o risco de cair a produção brasileira de cana por causa de uma seca no interior de São Paulo, por isso o governo convocou esta reunião com vários ministros para discutir o abastecimento do mercado interno. Participaram os representantes da Unica, associação que reúne os usineiros. Eles disseram que não têm como manter o preço de R$ 1,05 do acordo feito semanas atrás.

Sendo assim, a resposta do governo foi diminuir de 25% para 20% a mistura do álcool à gasolina, o que vai reduzir o consumo interno em 1,2 bilhão a 1,5 bilhão de litros em um ano. Foi apresentada a proposta de criar um imposto à exportação do álcool, mas não se bateu o martelo nisso. O que ficou decidido foi incluir o combustível na exceção da lista do Mercosul para zerar a alíquota de importação. Mas continua sendo avaliada a possibilidade de uma barreira para desestimular a exportação. Os produtores prometeram antecipar a colheita da cana-de-açúcar. Cana colhida mais cedo produz menos álcool, mas, como o preço está alto, eles farão hoje uma reunião para convencer os usineiros a esta antecipação.

Há duas avaliações no governo: uma mais otimista considera que o que existe é um problema temporário, de entressafra, mas que os estoques vão dar para cobrir esse período; outra considera que é preciso medidas mais fortes para evitar qualquer problema de desabastecimento. Mas uma coisa me foi garantida por duas fontes ouvidas ontem no governo: não haverá a formação de estoque regulador com dinheiro público.

Dólar a R$ 1,99

A preocupação com o álcool é um ponto fora da curva na conjuntura brasileira. Pelo contrário, a queda insistente do dólar está aumentando o temor de que a exportação seja atingida. No mercado financeiro, há previsão de dólar abaixo de R$ 2. Duas outras notícias: o Banco Central vai continuar comprando moeda americana, sem limite para a recomposição das reservas e, no mercado, já se prevê, ainda neste semestre, uma nova melhora na classificação do Brasil pelas agências de risco.

O dólar teve quedas sucessivas no país e vai continuar caindo, segundo as previsões de analistas financeiros. Há bancos prevendo que o dólar bata em R$ 1,99 no fim do ano. A grande razão da queda do dólar é a soma de duas notícias, uma boa e uma ruim: o Brasil está com um risco muito menor e com juros altíssimos. O risco caiu muito e os juros só um pouco.

A exportação está perdendo ritmo. Em janeiro, comparado com o mesmo mês do ano passado, de fato, já se vê uma mudança de ritmo: as exportações cresceram 12,5%, mas as importações cresceram 30%. Isso não muda o fato de que o saldo comercial será altamente positivo no Brasil. O mais pessimista dos analistas está prevendo um superávit de US$ 35 bilhões. Mas alguns setores estão ficando de fora e há uma volta do frenesi de importação.

Superávits altos vão derrubar ainda mais o dólar. A informação de fontes do Banco Central é que não haverá limite para a compra de reservas. Hoje o país está com US$ 60 bilhões e o BC informa que não há um ponto a partir do qual deixará de comprar reservas. O Banco Central sabe que tem um custo, mas acha que vale a pena para criar um colchão de reservas que previna possíveis choques externos. Muita gente achava que, quando zerasse completamente a dívida exposta ao risco cambial, o BC deixaria de comprar. O Banco comprou até agora, este ano, US$ 2,3 bilhões de dívida. A dívida pública sensível à variação cambial era de US$ 13 bilhões no ano passado e, até abril, vai a zero.

O CSFB acredita que o Brasil terá uma melhora na sua classificação de risco (upgrade) ainda neste semestre, e pode ser mais perto do começo do ano do que para o meio. Se houver melhora na classificação de risco, mais dólares de investidores entrarão. A isenção fiscal para os investidores atrai mais capital externo. Esse capital permitirá o alongamento da dívida, que reduzirá ainda mais o risco-país.

Em resumo: algumas boas notícias podem trazer mais dólares que derrubam ainda mais o dólar; queda que pode, eventualmente, ser uma má notícia se prejudicar nossa exportação. Todo mundo que esta coluna ouve informa que: primeiro, o risco não é para já porque há demanda demais no mundo pelos produtos que o Brasil exporta; segundo, setores mais tradicionais não estão agüentando exportar; terceiro, em algum momento, esta conta baterá em redução forte do saldo comercial brasileiro. Para corrigir isso — e muitas outras coisas — há um bom remédio: queda de juros.

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