Mercado

Secretário de Bush diz que Brasil erra ao exportar álcool

Um graduado diplomata americano afirmou ontem que o Brasil não tem condições de exportar etanol em grandes volumes sem prejudicar o abastecimento do mercado doméstico, numa resposta dura às pressões que o país tem feito para que sejam removidas as barreiras tarifárias que encarecem o álcool brasileiro nos Estados Unidos.

“Pelo que os especialistas brasileiros nos dizem, o Brasil não será capaz de atender sua demanda interna”, disse o secretário-assistente do Departamento de Estado dos EUA para a América Latina, Thomas Shannon. “Focar no mercado externo neste momento parece refletir um entendimento sobre o mercado brasileiro que está no passado, e não no presente ou no futuro.”

Os EUA cobram uma tarifa de 2,5% e uma taxa adicional equivalente a US$ 0,14 por litro nas importações de etanol. No ano passado, quando a demanda americana pelo produto explodiu e os preços subiram muito, o Brasil exportou grandes volumes do combustível para os EUA, apesar dessas barreiras. Mas esse desempenho não deve se repetir neste ano, porque a produção americana cresceu e os preços do álcool estão caindo.

O Brasil vendeu no ano passado 1,7 bilhão de litros de etanol para os EUA, seis vezes o volume exportado no ano anterior e o equivalente a dois terços das importações americanas. Outros 500 mil litros foram vendidos para o mercado americano por países da América Central que têm acesso preferencial aos EUA e processam o etanol brasileiro.

As dificuldades que o Brasil poderá ter no futuro para ganhar dinheiro exportando etanol e ao mesmo tempo atender às necessidades do mercado doméstico são reconhecidas por empresários e especialistas do setor, mas esta é a primeira vez que um funcionário americano toca nessa questão numa tentativa de desqualificar as reivindicações brasileiras nesse campo.

Shannon, que acompanhará o presidente George Bush em sua viagem pela América Latina a partir de hoje, repetiu ontem que não há como discutir agora as tarifas. “Esta é uma questão que depende do nosso Congresso e não está madura para qualquer tipo de resolução neste momento”, afirmou. A taxa de US$ 0,14 acabou de ser renovada pelo Congresso e deve permanecer até o fim de 2008.

Eliminar essa barreira é difícil porque a indústria de etanol goza de crescente prestígio político nos EUA. Ela está se expandindo em Estados que terão papel-chave no processo de seleção dos candidatos que disputarão as eleições presidenciais de 2008. Além disso, o fim das tarifas permitiria que produtores estrangeiros fossem beneficiados por subsídios criados para estimular a indústria americana.

A taxa de US$ 0,14 foi criada em 1980 com o objetivo de compensar créditos tributários que as refinarias americanas recebem para misturar o álcool à gasolina. Os créditos incentivam as refinarias a comprar etanol e assim estimulam a produção doméstica do combustível. Se essa taxa não existisse, o álcool produzido em lugares com o Brasil se tornaria ainda mais competitivo e o benefício iria diretamente para as usinas estrangeiras.

A principal associação que representa os interesses da indústria do etanol nos EUA também reagiu ontem contra as pressões do Brasil contra a tarifa. “Expandir o mercado para o etanol é um objetivo admirável”, afirmou o presidente da Associação dos Combustíveis Renováveis, Bob Dinneen, num comunicado. “Mas nenhum esforço para encorajar a produção de etanol no hemisfério ou pelo mundo deveria exigir que os contribuintes americanos pagassem a conta.”

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