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Seca no RS: o pior está por vir

O Rio Grande do Sul vive hoje uma crise incomparável. A cada dia mais municípios declaram Estado de Emergência, com alguns beirando a calamidade (até o final do dia 22/02, 65% do Estado gaúcho havia declarado situação de emergência). A base da crise se encontra na forte seca que se abate sobre o setor agropecuário, somando-se a algo semelhante já ocorrido no verão anterior. As perdas são enormes, chegando a mais de 50% na soja em muitas regiões, a 100% no milho do tarde, a 70% no feijão, a 20% no arroz (nesta cultura os estragos só não são maiores porque o sistema de irrigação sustenta a produção), com localidades já não tendo mais água para beber; projeção de 50% de perdas na atividade leiteira nos próximos meses; sem falar na uva, outras frutas, hortigranjeiros e fumo. É uma crise estadual que merece ser tratada como tal pelo governo gaúcho. As perdas em valores são astronômicas, e aumentarão ainda mais, indicando que 2005 será um dos piores anos na economia gaúcha em geral e no Noroeste do Estado em particular. Para piorar as coisas, os preços dos produtos estão muito baixos neste momento (a soja, por exemplo, perdeu 50% de seu valor de uma safra para outra, tendo como complicador perdas por enfrentar um preço defasado pela sobrevalorização do real). De forma direta, o Estado gaúcho já perdeu cerca de R$ 6,0 bilhões (R$ 5,0 bilhões apenas com as perdas na soja, milho, feijão, leite, fumo e arroz). Perdas irreversíveis mesmo que volte a chover!

A este valor devemos somar ainda as perdas no preço do trigo. Com o preço atual de R$ 18,00/saco a perda de receita gira ao redor de R$ 203 milhões, já que o preço mínimo oficial, não honrado pelo governo, é de R$ 24,00/saco.

Além disso, necessariamente temos que adicionar o efeito multiplicador destas perdas para o conjunto do agronegócio, ou seja, o complexo industrial, de serviços e financeiro que encontramos a montante e a jusante da produção primária, incluindo a distribuição. Sem falar no fato de que as próximas safras serão feitas com menor tecnologia, pela falta de capital no meio rural, comprometendo a produtividade e, mais uma vez, a geração de renda. Ou seja, a crise tende a espalhar seus reflexos negativos para os próximos anos. Neste contexto, o quadro já se transforma em filme de terror. Afinal, haverá falências, inadimplências, menos investimentos, forte desemprego e menos capacidade de produção nos anos seguintes, mesmo que o clima venha a auxiliar. Este quadro justifica o título deste artigo na medida em que ainda estamos vivendo a causa de um grave problema futuro.

Isto requer uma reação da sociedade gaúcha, dos governos federal, estadual e municipais, no sentido de criar mecanismos de crédito facilitado para as futuras safras, assim como um sistema de prorrogação de débitos no longo prazo. Não adianta prorrogações de curto prazo pois não há fôlego do sistema produtivo para honrá-los. O que se precisa é construir ações positivas para o pós-seca, dando tempo aos produtores rurais de se recuperarem sem serem massacrados por juros elevados, falta de crédito, fiscalizações inoportunas (como as relacionadas à transgenia) e outras ações que somente penalizam a economia estadual. O momento é de sensibilidade e soma de esforços!

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