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Seca eleva os preços agrícolas

A seca que atinge o Sudeste e o Centro-Oeste vem afetando diversas atividades agrícolas — sobretudo as de soja, milho, cana-de-açúcar e a pecuária bovina —, provocando o aumento de preços das commodities no atacado. Segundo o mapa de precipitações acumuladas do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos(CPTEC/INPE), o mês de outubro registra os menores níveis de chuvas nas duas regiões desde 2002. Além da estiagem, este ano há elevação da temperatura média, prejudicando ainda mais as lavouras.

De acordo com o professor Lucílio Alves, pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea/USP), nas regiões produtoras de soja há preocupações especialmente no Oeste e Norte do Paraná e no Centro-Oeste. “Ainda não há informações quanto à perda na produção, nem avaliação do impacto financeiro, apesar de se saber que haverá necessidade de replantio em algumas áreas e atraso no desenvolvimento vegetativo”, afirma, mencionando que os preços da soja no Brasil e nos Estados Unidos registraram alta no acumulado da semana passada. “De um lado, a demanda por soja em grão e derivados segue firme, em um cenário de estoques baixos no mercado spot. As condições climáticas foram desfavoráveis aos trabalhos de campo, atrasando a colheita americana e o cultivo brasileiro e dando sustentação aos preços, mesmo com estimativas apontando safra recorde global”, diz.

Em consonância, Paulo Molinari, analista da consultoria Safras & Mercado ressalta que embora as pastagens e o plantio da safra de milho e soja estejam sofrendo com a estiagem, ainda é cedo para se falar em quebra de produção. “Basicamente não há cortes, mas haverá forte atraso na safra 2015 de boi gordo e atrasos de plantio das safras de verão de soja e milho em varias localidades”, diz.
Segundo Roger Rodrigues, diretor da Aprosoja, há 25 dias que não chove no Mato Grosso, maior produtor de soja do país, o que já prejudica o rendimento agrícola da planta e provoca o atraso no plantio da chamada safrinha de milho do verão. “Em todo o estado, nesta época do ano, o plantio já teria avançado em 30% das áreas, mas hoje não ultrapassa 10%. Fora isso, temos custos adicionais porque estamos refazendo o plantio em várias regiões, reforçando a aplicação de fertilizantes e outros insumos agrícolas”, diz.

O Indicador do boi gordo ESALQ/BM&FBovespa fechou em R$ 135,20 no último dia 21, o maior valor real da série do Cepea, iniciada em 1994. Segundo técnicos da instituição, os aumentos de preços foram resultado da menor oferta por causa da seca, que vem prejudicando as condições das pastagens e a engorda dos animais ao longo do ano. A valorização do boi gordo teve impacto sobre o preço da carne negociada no atacado da Grande São Paulo que também registrou alta. Os pesquisadores do Cepea afirmam que a seca também gera incertezas na produção de café arábica da safra 2015/16. Produtores da Zona da Mata mineira e de Mogiana (SP)consultados pelo Cepea afirmaram que vem restringido as vendas do grão da temporada 2014/15, esperando a elevação de preços. Os volumes negociados caíram 20% em relação ao mesmo período do ano passado. As maiores preocupações dos produtores estão relacionadas às floradas da temporada 2015/16. Nesta mesma época, em outras safras com chuva regular, já eram observadas floradas em todas as regiões, o que não aconteceu este ano.

O tempo seco vem antecipando o final da colheita de cana-de-açúcar na região Centro-Sul. De acordo com a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), 22 usinas e destilarias encerraram suas safras, registrando queda nos índices de produtividade agrícola de 7,2% sobre a safra 2013/2014. Por causa da seca, é esperada uma quebra de 50 milhões de toneladas na região, o que corresponde a 10% da produção total.

Segundo Alberto Figueiredo, diretor da Sociedade Nacional de Agricultura, daqui para frente o campo terá que se adaptar à escassez de recursos hídricos. “Precisamos adotar uma política nacional de recuperação de nascentes, riachos e rios, intensificando as ações de fiscalização para evitar a devastação das áreas, mas também oferecendo assistência técnica e orientação ao produtor, oferecendo compensações financeiras para quem desenvolve ações de preservação”, afirma.

Fonte: Brasil Econômico

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