Mercado

Salto do dólar anima exportadores

Apesar das incertezas que cercam a duração da recente valorização do dólar americano em relação a diversas moedas, inclusive o real, especialistas vislumbram reflexos sobre as exportações brasileiras. E isso mesmo se as previsões de ontem do Banco Central estiverem corretas, a disparada observada não passar de um “soluço” e o dólar voltar a um nível abaixo de R$ 3 ainda neste mês.

Pela escassez de oferta neste momento, alguns produtos agrícolas não poderão aproveitar esse estímulo cambial, segundo observa o economista Fabio Silveira, da MSConsult. São os casos do café, cuja colheita do tipo arábica – o principal exportado pelo país – está no início e do suco de laranja, cuja colheita da fruta está atrasada em virtude de uma florada tardia nos pomares. Mas outros, como soja, açúcar e carnes poderão aproveitar a disparada do dólar para engordar margens na exportação.

No caso da soja, principal item exportado pelo Brasil, as exportações foram muito aceleradas no primeiro trimestre do ano e hoje a oferta está um pouco mais controlada. Mesmo assim, diz Silveira, é possível privilegiar ñesse momento os embarques sem prejuízos ao mercado interno, já que os estoques do grão passaram de 2003 para este ano em um patamar confortável.

Para as carnes, a forte valorização do dólar deve estimular as exportações de carne bovina principalmente de empresas que estão começando a vender no mercado externo, segundo analistas do setor. Empresas com mais tradição no comércio exterior, como o o frigorífico Mondelli, terão ganhos apenas na variação cambial, segundo Antônio Mondelli Júnior, da área de exportação da empresa. Ele afirma que o frigorífico fechou contratos para maio com o dólar médio de R$ 2,90, e, por isso, deve ganhar com a atual valorização da moeda americana. Em contrapartida, diz ele, a alta do dólar também já está levando clientes do frigorífico a pedir desconto em suas compras na moeda americana. O raciocínio é o seguinte: com a valorização, o exportador recebe mais reais por dólar vendido, e, por isso, os importadores pedem preços mais baixos.

De qualquer forma, a volatilidade do câmbio ontem preocupou os exportadores. “Estamos esperando para fechar câmbio amanhã [hoje] porque hoje [ontem] oscilou muito”, afirmou Mondelli Júnior ao Valor.

Com estoques de passagem de açúcar relativamente altos para a nova safra, as usinas comemoram a valorização da moeda americana nos últimos dias e já intensificaram as consultas para exportar o produto. “A alta atual do dólar está compensando a queda do açúcar no mercado internacional”, observou Celso Sturion, trader da divisão de açúcar da alemã Stockler, com escritório em Santos (SP).

Segundo ele, o salto do dólar de R$ 2,92 para R$ 3,14 em uma semana compensa a queda do açúcar branco, que no mesmo período caiu de US$ 225 para US$ 215 a tonelada nos portos brasileiros. Conforme Sturion, há oportunidades de negócios para o Brasil no mercado externo. “Os vendedores estão estimulados”. Desde fevereiro, as exportações de açúcar subiram em relação ao mesmo período do ano passado, em função dos maiores estoques nas mãos das usinas.

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