A Associação dos Plantadores de Cana do Oeste do Estado de São Paulo (Canaoeste) entra na safra 2015/2016 com maior número de produtores associados. Hoje, eles somam 1,8 mil e devem crescer mais por conta da ampliação do raio de atuação da entidade. Tradicionalmente baseada no cinturão sucroenergético de Sertãozinho e região próxima, ela agora opera também nas regiões de Descalvado e de Guará, Ituverava e Igarapava.
“Estendemos nossas fronteiras”, diz o engenheiro agrônomo Manoel Carlos de Azevedo Ortolan, presidente da Canaoeste. Na entrevista a seguir, ele explica as estratégias da entidade para trabalhar a safra que está para começar.
JornalCana – O número de associados é crescente?
Manoel Ortolan – Chegamos a ter 2,3 mil. Depois houve a encolhida. A cana tem a tendência de concentrar, não só entre as indústrias, mas também entre os produtores. Hoje, principalmente em função da mecanização, ficou difícil para o pequeno trabalhar na cana.
JC – Qual é o perfil do pequeno produtor de cana?
Ortolan – Consideramos que ele produza até 12 mil toneladas. Praticamente 90% de nosso quadro de associados está dentro dessa faixa. E fica difícil porque ele precisa terceirizar o corte e o plantio e, com isso, tende a arrendar a terra ou vende-la e ir para outra região onde possa ter área maior e trabalhar com soja, gado.
JC – Então o encolhimento foi mais pela concentração de propriedades?
Ortolan – Mas há também os que sentiram os efeitos de preço, de pagamento da mecanização, que impacta muito no preço. Na hora que se terceiriza, hoje se cobra o que vale e mais um pouco. Aqui [na região de Sertãozinho] antes as usinas competiam mais entre elas e, com isso, os produtores conseguiam alguma vantagem na colheita e no plantio. Mas com a concentração de grupos, a competição reduziu e as ajudas que tínhamos foram desaparecendo com os custos. Anos atrás, a colheita participava com 30% do preço da cana. Hoje, participa com 40% e até 50% do preço.
JC – Qual a previsão de entrega de cana na safra 15/16?
Ortolan – Entregamos 8,9 milhões de toneladas de cana na 14/15 e deveremos crescer em 10% a oferta na 15/16. Estamos na fase de buscar novos sócios e, assim, a estimativa é a de chegar a 10,5 milhões de toneladas ainda na 15/16.
JC – Haverá ganho de produtividade?
Ortolan – Acredito que a 15/16 será melhor que a 14/15. Na média do estado de São Paulo, o resultado foi de 73 toneladas de cana por hectare (tch). Na região de Ribeirão Preto, a média de tch, devido à seca, ficou abaixo disso. Aliás, estamos indo para a quinta safra em que a produtividade fica abaixo de 80 tch. Dois fatores pesaram muito para isso: condição de clima e colheita mecanizada.
JC – Por favor, explique sobre o peso da colheita mecanizada nessa baixa produtividade.
Ortolan – Ela afeta a produtividade, porque da forma, da velocidade com que foi implementada, por pressão da lei e falta de operadores qualificados, exigiu uma curva de aprendizagem que é longa, mas teve de ser encurtada. E a mecanização gera perdas no arranque de soqueiras, ou deixa soqueiras altas, perde cana no campo na hora da colheita. Temos grupos que lidavam há 15 anos com colheita mecanizada e eles estão bem à frente. Mas a maioria, que veio no atropelo, tem muito a melhorar em termos de colheita mecanizada.
JC – Quando?
Ortolan – Como disse anteriormente, na safra 11/12, quando os problemas começaram, a produtividade girava entre 85 a 90 tch. Temos usinas hoje que trabalham com 98 tch, embora também foram afetadas pela seca do ano passado. Mas não basta mais recuperar a perda. Com a cana não se vira o jogo de uma hora para outra. O estrago feito pelo clima e pela colheita mecanizada, e pela falta de tratos devido a preço, debilitou o canavial. As reformas foram menores. Estamos com um número de falhas grandes em função praticamente por 2014, com a seca, que aumentou o número de pragas de solo e a morte de soqueiras. Para recuperar vai um ciclo de cinco anos para retomar a normalidade, porque vai desde a limpeza do canavial velho ao plantio. Com a tecnologia disponível, seria possível colher 100 tch. Mas para a 15/16 a média da Canaoeste deverá chegar a 75 tch.
JC – Como foram os ganhos de ATR com a seca?
Ortolan – Tivemos um ganho na safra passada, mas não reverteu as perdas com o tch. Em média, o fornecedor perdeu 10 quilos de ATR. Tínhamos um patamar de 143 quilos de ATR, e hoje, com a colheita mecanizada, estamos em 133 quilos de ATR.
JC – Por que?
Ortolan – O sistema de amostragem é o mesmo. Havia um sistema para cana inteira e cana limpa. Tentamos mudar, mas o sistema ainda é o mesmo. Então, hoje a carga vai com palha, o que compromete a análise. Teoricamente aumenta-se a fibra no peso da carga, que é da palha, remunerada como cana. É difícil dimensionar isso. Mas se já temos 133 quilos de ATR e a palha sendo paga como cana, o quanto isso influi na conta? Devemos lembrar, porém, que a safra 14/15 foi maior. Terminamos com 138 quilos de ATR por tonelada.
JC – Quantas usinas são clientes da Canaoeste?
Ortolan – 19.
JC – Como foi a expansão de área de atuação?
Ortolan – Chegamos a Descalvado e região porque a Copercana, coligada à Canaoeste, incorporou uma cooperativa de lá. Vimos que havia espaço com muitos fornecedores que não eram assistidos. Assim como houve espaço para avançar de Morro Agudo a Igarapava. A Canaoeste atua em função da taxa de recolhimento dos produtores. Como na 14/15 tivemos praticamente menos 2 milhões de toneladas, isso impacta no orçamento da associação.
JC – Em relação às usinas, cada vez mais concentradas em grandes grupos. Como manter e crescer o relacionamento?
Ortolan – Começamos um trabalho de reestruturação. Acabo de afirmar contratação de empresa para a Canaoeste se adequar melhor com o rearranjo do setor.
JC – Como está o preenchimento do Cadastro Ambiental Rural (CAR) dos associados? O prazo de entrega vence em 06 de maio, se não for prorrogado.
Ortolan – Nos propusemos a fazer o CAR dos associados. Realizamos a documentação de 1,2 mil dos 1,8 mil associados.