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Safra terá moagem menor, avalia Agroconsult

A safra de cana-de-açúcar na região Centro-Sul do país deverá encolher 17 milhões de toneladas. É o que prevê a consultoria Agroconsult. No começo de março, ela estimava uma moagem de 617 milhões de toneladas.

Em entrevista ao Portal JornalCana, Fabio Meneghin, sócio-analista da Agroconsult, explica os motivos da queda projetada da moagem na safra 15/16 no Centro-Sul. 

1 – Após quase quatro meses do início da safra da cana-de-açúcar na região Centro-Sul, a Agroconsult mantém sua projeção de moagem de 617 milhões de toneladas para a temporada?

Fabio Meneghin – Reduzimos a nossa projeção de moagem para 600 milhões de toneladas. Os motivos foram os atrasos relatados por várias usinas devido às chuvas da primeira quinzena de julho.

2 – Como está o ritmo da moagem?

Fabio Meneghin – Até 01/08, a moagem estava em 279,3 milhões de toneladas (mmt), praticamente o mesmo nível da safra passada e 10 milhões de t acima da 2013/14, quando foram processadas quase 600 mmt.

Meneghin, da Agroconsult: sobrará cana para a 16/17
Meneghin, da Agroconsult: sobrará cana para a 16/17

3 – A Agroconsult já divulgou, e gostaria que o sr. comentasse, sobre a área de expansão de cana, não de renovação, que tem crescido desde 2008. Como mensurar esse crescimento em localização e hectares? Quantos hectares com cana temos hoje no país?

Fabio Meneghin – Identificamos as áreas de cana em todo o Centro-Sul por meio do projeto Canasat, realizado pela nossa empresa coligada Agrosatélite. O Canasat conta com um histórico de 11 anos de análise de imagens e formação de banco de dados de cada talhão de cana-de-açúcar do Centro-Sul. Desde a safra 2009/10, a área de expansão no Centro-Sul somou 3,8 milhões de hectares. Atualmente a área total de cana na região é de 9,9 milhões de hectares.

4 – Vai sobrar cana para a safra 16/17? Há como estivar o volume a ser bisado? Se sim, quanto?

Fabio Meneghin – É difícil de estimar, por enquanto temos apenas uma ideia. Nossa estimativa é de que a quantidade de cana disponível é bem maior que a moagem, podendo até ultrapassar os 630 mmt. No entanto teremos essa informação após a análise das imagens de satélite em meados de janeiro, quando será possível identificar quais as áreas que ficaram com cana em pé. A partir da adoção de uma produtividade média, teremos uma estimativa de quanto realmente sobrou de bisada.

5 – O fenômeno El Niño, que segundo o sr. fez sobrar 450 mil toneladas de cana no Centro-Sul para a safra 10/11, ainda é uma possibilidade na atual temporada? Se sim, há como projetar perdas em decorrência dele?

Fabio Meneghin – O El Niño está previsto desde o ano passado por vários centros de meteorologia pelo mundo. Há um consenso de que o fenômeno deverá ocorrer este ano com uma probabilidade de mais de 70%. A partir da primavera, seus efeitos sobre o Brasil podem ser de excesso de chuva na região Sul e clima mais seco na região Nordeste. Para São Paulo, Minas Gerais e Centro-Oeste seus efeitos são praticamente neutros. A cana que tende a sobrar na próxima entressafra está mais relacionada à maior produtividade observada atualmente do que as chuvas que o El nino pode trazer e atrapalhar a moagem.

6 – O florescimento afetará a produção canavieira da safra em andamento? Se sim, há como estimar quanto de perda em toneladas? Em regiões canavieiras próximas a Ribeirão Preto, os canaviais ainda de pé estão, em boa parte, florescidos.

Fabio Meneghin – O florescimento é algo comum em algumas áreas do Centro-Sul. Porém este ano ele parece estar mais espalhado pela região. Canaviais do Paraná a Minas Gerais têm algum grau de florescimento nesta safra. O impacto dele não ocorre na produtividade e sim na qualidade da cana. O florescimento impacta diretamente no ATR dos canaviais. Até 01/08 o ATR acumulado no Centro-Sul estava 3,2% abaixo da safra passada. Não sabemos dizer o quanto dessa queda é em relação ao florescimento e quanto é relacionado ao clima mais úmido.

7 – A Agroconsult estima retomada de investimentos em renovação de canaviais?

Fabio Meneghin – Estimamos um aumento na renovação dos canaviais simplesmente por ser um ano com mais chuvas. No ano passado a renovação foi atrapalhada pela mais forte estiagem já observada em mais de 50 anos. É difícil dizer para que nível vai a renovação dos canaviais, mas podemos observar que este ano há uma intenção maior das usinas e de fornecedores a renovarem canaviais mais antigos.

8 – Com a safra 15/16 mais alcooleira, mas com o avanço do consumo do biocombustíveis, há risco de escassez ou de falta do produto no mercado doméstico? Mesmo com a queda nas vendas de veículos?

A moagem no Centro-Sul deverá ficar em 600 milhões de toneladas
A moagem no Centro-Sul deverá ficar em 600 milhões de toneladas

Fábio Meneghin – Há sim uma queda nas vendas de veículos pelo segundo ano consecutivo. Até o primeiro semestre as vendas encolheram 20%. O mercado de veículos voltou ao mesmo nível de 2012. Mesmo assim a frota de ciclo otto continua a subir, gerando mais demanda por combustíveis. O que está levando a um equilíbrio entre a oferta e demanda por etanol este ano é que a demanda per capita de veículos está menor. A desaceleração econômica está levando a menos viagens e menos uso dos veículos. Desta forma, com mais etanol produzido (safra maior e mais alcooleira) o quadro de oferta e demanda deverá passar pela entressafra de forma mais tranquila que o estimado anteriormente.

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