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Safra menor de cana no Brasil influencia mercado mundial

Desde meados de maio, ficou evidente que a atual safra de cana-de-açúcar no Brasil caminha na direção da impossibilidade de atingir as estimativas do início do ano -consequência direta é a redução nas estimativas de produção de açúcar e etanol.

São várias as razões para crer que a safra será mais modesta. A performance 2011 parece ser a soma do que ocorreu nos três anos anteriores.

Um fator foi a renovação de canaviais em ritmo menor que o normal desde 2008, devido à crise global. Outro foi o excesso de chuvas em 2009, o que trouxe compactação de solo com colheita mecanizada e prejudicou rebrota.

Um terceiro foi a seca de 2010, o que fez a cana colhida entre março e agosto do ano passado praticamente hibernar, causando atraso no seu desenvolvimento fisiológico e gerando menor produtividade agrícola na safra.

A safra menor no Brasil é suficiente para anular o impacto do ainda incerto crescimento da produção tailandesa, que pode expandir sua moagem de 95 para 104 milhões de toneladas. E é também bem maior que a liberação pelo governo indiano da cota extra de exportação de 500 mil toneladas de açúcar.

Por esse motivo, a nova realidade brasileira foi a principal causa da elevação do preço mundial, que passou de US$ 0,22 para acima de US$ 0,30 por libra-peso em Nova York, para açúcar bruto a granel na condição FOB. É importante monitorar como o clima vai afetar a cana que sobra para ser moída.

As geadas de fim de junho e começo de julho, as chuvas que atingiram as canas, o florescimento precoce, pestes e doenças e o volume de mudas usadas no plantio de cana de inverno são algumas variáveis que determinarão o volume final a ser produzido.

Neste momento, o Brasil é praticamente o único fornecedor do mercado mundial, e os olhos do mundo se voltam para o andamento da safra na região Centro-Sul.

Os preços relativos de açúcar e etanol indicam a prioridade de fabricação de açúcar e etanol anidro. Não há nenhuma indicação de que haverá falta de anidro para a mistura com a gasolina, devido à produção doméstica e às importações.

O hidratado será a variável de ajuste, via frota flex. O preço do hidratado ao consumidor (R$ 1,4 por litro em varias cidades do interior paulista no inicio de junho) era absolutamente inconsistente com a realidade da safra atual.

Nas últimas semanas este preço evoluiu para o patamar de R$ 1,80 a 2,00 por litro, o que já reduziu a demanda de hidratado, e permitirá manter o mercado abastecido até o próximo ciclo.

Essa é uma situação temporária, já que esforços estão sendo feitos para para ampliar a oferta de matéria prima e recompor o canavial, visando a redução da sua idade média, que hoje ultrapassa quatro anos, para um nível desejável em torno de três.

Até que isso aconteça, a frota flex deverá desempenhar o papel estabilizador do sistema via preço, e os consumidores deverão exercer o seu soberano direito de escolha ao abastecer.

PLINIO NASTARI é mestre e doutor em economia agrícola e presidente da Datagro Consultoria.

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