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Safra 65% alcooleira

O extraordinário avanço dos preços do açúcar no mercado internacional vai mudar o perfil da safra brasileira de cana-de-açúcar deste ano, que será mais ‘açucareira’ do que ‘alcooleira’. Em Mato Grosso – contrariando a tendência nacional – as indústrias sucroalcooleiras deverão manter a proporção de 35% para o açúcar e 65% para o álcool (anidro e hidratado), como foi no ano passado. “Os preços do açúcar estão atrativos, porém, a logística não nos permite optar por esta commodity em uma escala maior”, explica o diretor executivo do Sindicato das Usinas sucroalcooleiras de Mato Grosso (Sindálcool), Jorge dos Santos. “Só vendemos [açúcar] para o mercado regional”.

Para se ter uma idéia de quanto o preço do açúcar valorizou, em janeiro de 2009 a saca de 50 quilos estava cotada a R$ 32, tendo se estabilizado em R$ 22 em 2007 e 2008. No final do ano passado, os preços evoluíram para R$ 44 e, atualmente, estão em torno de R$ 68, segundo índices da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz Queiroz/USP).

A expectativa é de que a cotação continue firme pelo menos no decorrer de 2010, uma vez que a Índia – principal consumidor e segundo maior produtor mundial – teve problemas com a safra e só agora começa a se recuperar. Além disso, a Índia ainda vai precisar de mais álcool anidro para a mistura de 10% à gasolina. “Tudo indica que durante o ano o açúcar continuará sendo a vedete deste mercado”, aposta Santos.

Já na safra passada a produção mato-grossense sofreu pequeno recuo devido à crise internacional, com 800 milhões de litros de etanol (hidratado e anidro) e 460 mil toneladas de açúcar. No ano anterior, Mato Grosso chegou a produzir 550 mil toneladas de açúcar e 950 mil litros de álcool.

OPÇÃO – A maior parte das usinas brasileiras é do tipo mista, capaz de produzir tanto álcool quanto açúcar, o que permite ao setor optar pela produção de um ou de outro produto em maior ou menor escala. A opção pelo açúcar é clara em outras regiões produtoras do país.

Em Mato Grosso, as usinas também são de ciclo combinado (álcool/açúcar). No total são 11 usinas em operação. Destas, cinco produzem açúcar e etanol e outras seis, apenas o combustível. “De uma forma geral, o mercado é que define a proporção das safras de álcool e açúcar a cada ano. Hoje o açúcar está bem remunerado e, se tivéssemos uma boa logística, com certeza estaríamos optando pelo produto. Mas como estamos muito distantes dos portos e dos centros consumidores, a saída da produção fica praticamente inviável devido ao alto custo do frete, que acaba anulando a margem que o açúcar teria em relação ao álcool”, explicou Santos.

MERCADO – Segundo ele, as cinco usinas produtoras de açúcar e álcool em Mato Grosso – Barrálcool, Itamarati, Cooprodia, Jaciara e Brenco – estão atentas ao comportamento dos preços no mercado internacional. “Seja para exportação direta, seja para suprir o mercado interno, as usinas devem dar preferência ao álcool no início desta safra”. As seis usinas que produzem apenas o combustível no Estado são a Libra, Cooperb I, Gameleira, Cooperb II, Usimat e Alcoopan. Estas não terão outra alternativa e estarão com a produção 100% voltada para o álcool.

As estatísticas apontam que todas as novas destilarias que surgiram de 2006 para cá foram para produzir apenas o álcool.

“Não acredito em safra açucareira porque a logística é ruim aqui em Mato Grosso. A produção de álcool está mais consolidada. Com o álcool, utilizamos a transportadora na ida e na volta. Ou seja, vem diesel, vai álcool. Se utilizarmos um caminhão exclusivamente para transportar açúcar, sem carga de retorno, o produtor não se sustenta porque a logística consome a rentabilidade”, sentencia. (Veja mais na C2)

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