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RS pode plantar até 350 mil hectares de cana

O mês de agosto será decisivo para saber se o Rio Grande do Sul poderá ser beneficiado pela grande demanda do setor sucroalcooleiro. Até o dia 15, o Ministério da Agricultura deve bater o martelo sobre a inclusão ou não do Estado no zoneamento agrícola da cana-de-açúcar voltada para produção de etanol. A expectativa é grande, tanto por parte dos produtores como da indústria, pois caso o Estado seja qualificado como área propícia para o plantio de cana poderá alavancar a produção de etanol, e em pouco tempo tornar-se auto-suficiente no combustível.

A previsão de área cultivada chega a 350 mil hectares – contra os parcos 35 mil hectares cultivados hoje – que permitirá uma produtividade de 5 a 6 mil litros por hectare, um volume expressivo que desoneraria o Estado do pagamento dos cerca de R$ 1,3 milhão pagos para São Paulo e Paraná pela importação de 99% do álcool que consome. “Esses 350 mil hectares correspondem à área potencial para plantio, a qual poderíamos alcançar em até quatro anos. E a tendência é de um avanço rápido da cultura”, avalia o assessor técnico da Emater, Alencar Rugeri.

Se dependesse dos resultados das pesquisas realizadas por entidades gaúchas, o Rio Grande do Sul já estaria entre os principais plantadores de cana do País. Desde 2006, a Fepagro se debruça sobre mudas trazidas de São Paulo, do Paraná e do Mato Grosso, que foram implantadas experimentalmente e tiveram seu potencial examinado. “A meta era alcançar 80 toneladas por hectare e conseguimos esse resultado com 23 espécies, cultivadas em 150 hectares em São Luiz Gonzaga”, afirma o coordenador do Programa de Cana-de-Açúcar para o Rio Grande do Sul da Fepagro, Wilson Caetano. Segundo ele, as plantas passaram por diversas adversidades climáticas, inclusive geadas, sem que fossem danificadas. Para Caetano, as restrições alegadas anteriormente como entraves para o Estado cultivar cana – clima, solo e produtividade – foram superadas. “O problema agora é o período de chuvas que coincide com o da colheita. Mas isso se resolve alterando a época de plantio.”

Na opinião do pesquisador da Embrapa Clima Temperado, Sérgio dos Anjos, não há dúvida de que muitas regiões do Rio Grande do Sul apresentam potencial bastante elevado para a produção de cana-de-açúcar. O que deve ser considerado é o manejo adequado para cada situação, sendo a época de plantio um fator muito importante.

O pesquisador acrescenta que a cana, quando cultivada com o objetivo comercial, tem apresentado produtividade nas regiões tradicionais, como no Litoral Norte, na região Noroeste, além da região mais central, como o Salto do Jacuí.

Segundo a Embrapa e a Emater, uma característica importante a ser introduzida através de cultivares é uma maior tolerância à geada na fase de maturação, com período de industrialização mais longo possível, o que permitiria um maior período útil de industrialização. Nas décadas de 1980 e 1990, época do Pró-Álcool, a Embrapa Clima Temperado já trabalhava com cana-de-açúcar e obteve bons resultados em termos de adaptação e rendimento de cultivares, inclusive acima da média nacional.

“Algumas cultivares chegaram a apresentar rendimento superior a 180 toneladas por hectare.” O pesquisador diz que na safra 2007/2008 foram introduzidas cinco variedades de ciclo precoce, 12 de ciclo médio-tardio, 91 clones de ciclo precoce e 112 de ciclo médio-tardio. A partir da avaliação dos resultados de produtividade do colmo e brix, além da resistência a pragas e doenças, foram selecionados 110 materiais que irão compor o Ensaio Preliminar de Cultivares de Cana para a Safra 2008/2009, a ser conduzido em cinco regiões do Rio Grande do Sul. Entre os materiais selecionados, obteve-se brix médio em torno de 20 e produtividades variando entre 150 a 330 toneladas de colmo por hectare.

Após encaminhar ao ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, estudos técnicos comprovando a viabilidade do plantio de cana-de-açúcar no Estado e de realizar uma reunião em Campinas, representantes do setor aguardam agora pelo posicionamento final do governo. Na avaliação do deputado estadual Heitor Schuch (PSB), que no ano passado foi relator da Subcomissão de Cana-de-açúcar, Álcool e Etanol da Assembléia Legislativa, o ministério reconhece que a falta de variedades adaptadas ao solo e clima gaúchos não é mais um problema. “Ainda há a disputa comercial e o temor dos paulistas de serem suplantados pelo Rio Grande do Sul, o que não vai acontecer, pois a cana-de-açúcar será uma alternativa para as pequenas propriedades”, afirma Schuch.

Coopercana prevê facilidade de crédito com entrada dos gaúchos

A possibilidade de inclusão do Rio Grande do Sul entre os plantadores de cana do País tem gerado boas expectativas entre as usinas de etanol já instaladas em solo gaúcho. É o caso da Coopercana, que atua desde 1999 nos municípios de Porto Xavier, Roque Gonzales e Porto Lucena.

Para o engenheiro agrônomo responsável pelo Departamento Agrícola da cooperativa, Ricardo Hammacher, entre os principais benefícios do zoneamento estão a inclusão de seguro agrícola, mais facilidades de crédito de longo prazo para investimentos e maior incentivo dos órgãos de pesquisas para aprofundamento de estudos na cultura.

A cooperativa que trabalha hoje com uma área plantada de 2,4 mil hectares e uma produção de 6,5 a 7 milhões de litros de álcool hidratado carburante, não se posicionou sobre a possibilidade de aumento de área caso seja liberado o plantio, mas afirma que com bom planejamento é possível obter bom retorno financeiro. “O álcool é uma commodity, ou seja, somos tomadores de preço e isso quer dizer que ficamos muito suscetíveis às volatilidades de safra. Mas tendo um bom planejamento financeiro e um sistema de autogestão da cooperativa se consegue um retorno financeiro razoável.”

Segundo Hammacher os propósitos da cooperativa são vários, especialmente o de promover o desenvolvimento da região e melhorar a qualidade de vida dos associados, em sua maioria agricultores familiares. Sobre os entraves para o cultivo da cana no Estado, ele acredita que os estudos apontarão para microclimas localizados, onde será possível o cultivo em uma escala menor.

Braskem aposta na vocação do Rio Grande do Sul em produzir etanol

Desde que anunciou o projeto para a produção do polímero verde – desenvolvido a partir do etanol para a composição de polietileno – a Braskem é uma das empresas que está na torcida para que o Rio Grande do Sul seja incluído no zoneamento agrícola da cana-de-açúcar. “Não há dúvidas de que o Estado têm condições técnicas de produzir, mesmo com clima mais frio. Basta ter manejo correto”, ratifica o líder comercial do projeto de polietileno verde da Braskem, Luiz Nitschke.

A expectativa de retorno com o novo produto é tanta que o especialista prevê que seja dobrado o consumo de etanol no Estado. “A demanda de área será ainda maior do que a prevista para auto-suficiência, cerca de 300 mil hectares”, avalia. Para dar a largada no processo de desenvolvimento do projeto, a empresa está trazendo etanol de São Paulo e do Paraná, mas aponta as desvantagens da importação do produto. Segundo ele, além do custo de logística, há o custo ambiental. “Ao transportarmos o álcool emitimos CO² para o meio ambiente, prática que justamente queremos evitar produzindo o polímero verde. Isso reduz a nossa vantagem ambiental”, explica.

O projeto já vem sendo desenvolvido em caráter experimental, com a criação de pilotos, como no caso do jogo Banco Imobiliário Sustentável. A demanda pelo polímero verde é crescente no mundo em função do seu apelo de sustentabilidade. O apresentado pela Braskem é o primeiro do mundo com 100% de matéria-prima renovável e por ser produzido a partir da cana-de-açúcar, possibilitará a criação de uma resina que não seja suscetível às oscilações no preço do petróleo e seus derivados.

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