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Rodrigues sai após série de desgastes

Luis Carlos Guedes Pinto, ex-presidente da Conab, assume o ministério num primeiro momento. Um dos tripés da política de comércio exterior do governo Lula, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, anunciou ontem sua saída do cargo. O pedido de demissão foi formalizado em jantar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na noite de terça-feira no Palácio da Alvorada. Na conversa com Lula, Rodrigues se emocionou ao considerar “cumprida” sua missão no governo, logo depois de avisar que a demissão era um caminho sem volta.

Num primeiro momento, Rodrigues deve ser substituído pelo atual secretário-executivo, Luis Carlos Guedes Pinto. A transição deve ser concluída até o final da semana quando Rodrigues deixará oficialmente o posto. O gabinete e secretários devem ser mantidos.

Embora as primeiras versões do governo dessem conta de que a demissão teria sido motivada por problemas de saúde de sua mulher, em entrevista no início da tarde de ontem Rodrigues negou sob o argumento de que a doença já existia quando ele assumiu o ministério, no início do governo Lula, em 2003. Ainda na entrevista, deixou transparecer insatisfação com os limites impostos pela área econômica ao setor agrícola.

“Há uma crise profundíssima e o governo tem seus instrumentos, mas muitos temas transcendem a agricultura”, disse o ministro, ao comentar que existem questões, como a possível redução de carga tributária para insumos, que dependem de “medidas macroeconômicas”.O ministro teve a gestão à frente da Agricultura marcada pelos enfrentamentos com a equipe econômica do governo, cujo apogeu foi o surgimento de focos da febre aftosa no Mato Grosso do Sul em setembro do ano passado – o qual Rodrigues atribuiu à falta de recursos para a defesa sanitária.

Rodrigues já manifestava o desejo de deixar a pasta no final deste ano. Ontem, em conversa com pessoas próximas, alegou estar numa “situação desconfortável” por não ter conseguido domar a crise. Reclamou da falta dos instrumentos necessários, a despeito dos reiterados apelos feitos pelo ministério.

“Fiz o possível e o impossível, mas sinto (a crise) na pele porque já vivi o outro lado”, justificou Rodrigues, agrônomo de profissão e agricultor.

Reconheceu os obstáculos colocados pela equipe econômica, a quem acusa de discriminar o ministério da Agricultura ao mesmo tempo em que favorece o ministério do Desenvolvimento Agrário na distribuição de verbas, e falou sobre a demora do governo em implantar políticas para socorrer os produtores, face à perda de renda da agricultura brasileira, no ano passado, próxima de R$ 20 bilhões. Atribuiu a perda a uma série de fatores como a subida dos custos, a queda dos preços, a diminuição da produção e o aumento do endividamento, agravado pela questão cambial.

Rodrigues tinha sob sua batuta o agronegócio, setor da economia responsável por 31% do PIB nacional e principal item da pauta de exportações do Brasil. Deixa o governo para retomar os negócios como produtor rural, terminar de escrever três livros e ficar mais perto da mulher, dos quatro filhos e sete netos.

O ministro da Agricultura era um dos poucos que estava no cargo desde o início do governo Lula. Além dele, permanecem no governo desde 2003 Luiz Fernando Furlan (Indústria e Comércio), Luiz Dulci (Secretaria-Geral da Presidência), Márcio Thomaz Bastos (Justiça), Gilberto Gil (Cultura), Walfrido Mares Guia (Turismo), Celso Amorim (Relações Internacionais), Jorge Félix (Gabinete de Segurança Institucional) e Waldir Pires (Defesa).

“A saída do ministro é uma grande perda para o País e seguramente para a agricultura brasileira”, disse ontem o deputado Luiz Carlos Heinze (PP-RS), após uma reunião no gabinete do ministro da qual participaram integrantes da bancada ruralista no Congresso.

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