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Rio vai produzir biodiesel

O Rio de Janeiro, estado que consome dois bilhões de litros de diesel por ano, está começando a engatinhar no caminho para a fabricação de um combustível mais sustentável, com a instalação da sua primeira fábrica de biodiesel.

Com inauguração prevista para daqui a dois meses, a Gran Valle Indústrias Químicas, no município de Porto Real, é resultado de dez anos de pesquisas da Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado do Rio de Janeiro, em parceria com a Coppe/ UFRJ, no programa Rio Biodiesel. Mas o apoio à produção de biodiesel em larga escala no estado ainda não é consenso, mesmo dentro da própria secretaria.

Idealizador do programa Rio Biodiesel, o engenheiro e pesquisador do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas Nelson Furtado é o personagem principal da corrente dentro da Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado em prol da produção de biocombustíveis no estado. Furtado, que teve o apoio do pesquisador Donato Aranda durante esses anos, vem acompanhando o processo em outras regiões do país e acredita no potencial produtivo do Rio para que o estado se torne autosuficiente na utilização de diesel.

— Quando comecei a falar em biodiesel, chamavam-me de maluco. Na época, o barril de petróleo custava US$ 10.

Hoje o barril chega a US$ 140, muito acima dos US$ 50 que já fazem do biodiesel um combustível viável economicamente.

Ou seja, trata-se de uma necessidade de mudarmos nossa matriz energética.

E é importante que o Rio de Janeiro, um dos principais consumidores do combustível no país, participe desse processo — disse Furtado.

No Brasil, há 110 fábricas de biodiesel atualmente. A principal oleaginosa utilizada para a produção do biocombustível é a soja, que responde por cerca de 85% da produção, na qual o Rio de Janeiro ainda não tem participação alguma. No entanto, o estado vai entrar nessa conta, com a inauguração da Gran Valle Química, que será responsável pela produção de 100 milhões de litros de biodiesel ao ano. O volume é equivalente aos 5% de consumo mínimo de biodiesel por estado (regra válida para todo o país), e, portanto, tornará o Rio autosuficiente no que se refere à quantia obrigatória.

Além disso, também por conta de uma obrigatoriedade do governo federal, ao menos 30% da matéria-prima da fábrica serão provenientes de agricultura familiar. De acordo com Furtado, a fábrica desenvolverá projetos para que famílias possam trabalhar com o Pinhão Manso, uma oleaginosa que vem sendo estudada como matéria-prima para o biodiesel.

Para o pesquisador, a instalação da fábrica é apenas uma vitória no início de uma trajetória para elevar a produção em larga escala em alguns anos. A opinião não é compartilhada, porém, por alguns especialistas, como o vice-secretário da própria Secretaria de Ciência e Tecnologia Luiz Edmundo Costa, que ressalta os riscos de se incentivar a monocultura no Rio: — A produção de biocombustível é benéfica, pois tratase de um combustível limpo e renovável. Além disso, podese utilizar áreas que já estão sem cobertura vegetal para produzir, gerando renda por meio da agricultura familiar. O problema é destinar grandes quantidades de terra para esse fim. O estado não pode virar uma monocultura, tem que se diversificar — disse Costa, ressaltando que temos outros pontos em que pensar: — Precisamos reduzir a demanda.

Mesmo os combustíveis renováveis trarão problemas, se a sociedade continuar elevando níveis de uso de combustível.

Furtado rebate. Segundo ele, para se tornar autosuficiente, o Rio de Janeiro não precisaria acabar com outras culturas: — Temos espaço de sobra, áreas que já estão sem cobertura vegetal. E, para ampliar a produção por área, podemos modificar geneticamente as plantas. Os biocombustíveis correspondem a um movimento mundial. Não vai haver monocultura, nem elevação dos preços de alimentos.

Furtado lembra que o Brasil consome cerca de cinco bilhões de litros de biodiesel por ano, tendo que importar três deles para complementar a necessidade interna. Além disso, o pesquisador aponta a elevação do preço do barril do petróleo como um fator importantíssimo para o incentivo aos biocombustíveis.

Mas, como no resto do mundo, ainda há um longo debate pela frente, para que haja uma rede sustentável de produção do combustível.

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