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Revolução energética

Uma recente revoada de dignatários estrangeiros por Brasília fez a capital lembrar a agitada rotina de cidades como Londres, Paris e Washington. Nesses centros da diplomacia mundial, dificilmente se passa uma semana sem que seus palácios se abram para conversas reservadas, jantares de gala, sessões de fotografia e outros salamaleques dispensados a chefes de Estado em visita oficial. A presença em Brasília, em meados de setembro, do presidente da África do Sul, Thabo Mbeki, e do primeiro-ministro da Índia, Manmohn Singh, movimentou os salões do Itamaraty, onde se sonha com uma liderança entre os países emergentes. Num mundo ávido por fontes alternativas de energia, o Brasil desponta como um centro inovador na produção de biocombustíveis – e um modelo a ser copiado. A revolução energética em andamento no país resulta de uma alquimia e tanto. Pode-se dizer, com licença pelo exagero, que os brasileiros estão convertendo as lavouras de cana-de-açúcar, de onde sempre extraíram açúcar, melado, rapadura e aguardente, numa espécie de campos de petróleo. Os canaviais produzem boa parte da energia que move a frota de mais de dois milhões de veículos bicombustível em circulação no país. Diante do preço salgado da gasolina, o etanol tem sido a escolha preferencial dos motoristas na hora de encher o tanque.

Nas conversas com as autoridades brasileiras, os dirigentes da Índia e da África do Sul repetiram um pedido que tem se tornado corriqueiro nos contatos de dirigentes estrangeiros com autoridades brasileiras: seu apoio à criação de programas de transferência de tecnologia na área energética. A Índia, uma das economias que mais crescem no mundo, assinou oito acordos de cooperação – voltados, sobretudo, para a produção de etanol e de outros combustíveis alternativos. O presidente Susilo Bambang Yudhoyono, da Indonésia – outro país que acompanha a experiência brasileira com interesse especial – já manifestou a intenção de visitar o Brasil em breve. Com 12 milhões de habitantes e um trânsito caótico, Jacarta, a capital do país, tem uma frota de 4,5 milhões de automóveis. Diariamente, três milhões de pessoas deixam as cidades-dormitórios e engrossam o trânsito da cidade com outros 600 mil veículos. A Indonésia, que estuda alternativas mirabolantes para diversificar suas fontes de energia, quer aproveitar o calor gerado pelos muitos vulcões em atividade no país.

O Japão constitui outro exemplo das oportunidades de expansão do setor sucroalcooleiro brasileiro. Até 2010, os japoneses terão de adicionar, gradualmente, 10% de etanol à gasolina de forma a atender às metas fixadas pelo Protocolo de Kyoto para reduzir as emissões de poluentes na atmosfera. Isso significa que, nos próximos quatro anos, o Japão terá de importar cerca de sete bilhões de litros de álcool combustível por ano – hoje a produção brasileira anual gira em torno de 17 bilhões de litros. As oportunidades são enormes, mas os desafios não ficam atrás. A Transpetro, subsidiária de transportes da Petrobras, vai investir 600 milhões de dólares na construção de dutos e terminais em estados do Sul e do Sudeste para garantir o suprimento de etanol para o mercado externo. A rápida expansão dos canaviais e a implantação de novas usinas de álcool pelo país afora são importantes para evitar interrupções no abastecimento, mas trazem inquietações ambientais. Questões como essas têm de ser levadas em consideração se o Brasil, até recentemente tão dependente em matéria energética, quiser firmar-se como um país que soube dar a virada e acabou se convertendo num modelo inovador nessa área.

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