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Reta Final

Estamos na reta final das eleições. O processo eleitoral ainda terá seus contornos fixados pelos resultados das urnas, mas existem fatores que merecem desde já a nossa atenção. Depois de anos sob ditadura, a nossa “curta” vivência democrática já começa a apresentar resultados significativos no processo eleitoral, não só no modo de fazer campanha, mas, principalmente, nos parâmetros que levam as pessoas a escolher seus candidatos. E quem não se adequar a esta nova realidade, corre o risco de se surpreender com a rejeição do eleitor.

Quero registrar a minha satisfação de ver uma campanha que dispõe de menos recursos materiais. Considero este fato importante, porque permite que o debate adquira sua verdadeira importância, ao questionar o conteúdo das propostas, as idéias dos candidatos, e não fique mais restrito às embalagens e estratégias de marketing.

Essa mudança de comportamento foi constatada em recente pesquisa do Instituto Datafolha, que comparou os brasileiros que foram às urnas em 2000 com o atual eleitorado. Nela, encolheu de 40% para 33% as pessoas que dizem votar baseadas principalmente na “pessoa do candidato”. Em compensação, aumentou de 44% para 54% a fatia de eleitores que só fazem a opção depois de avaliar a proposta de governo. Ou seja, as campanhas deixaram de ter um caráter personalista para dar lugar a uma discussão pautada por propostas exeqüíveis para os problemas de cada município. E quem ganha com isso? O eleitor, claro.

O eleitor brasileiro está muito mais consciente e bem informado neste pleito. As pesquisas de opinião sobre os critérios que orientam a escolha demonstram que chavões como “rouba, mas faz”, que no passado ainda rendiam dividendos eleitoreiros, deram lugar à retidão no trato com o erário público.

Segundo o instituto Vox Populi, em pesquisa realizada na cidade de São Paulo, em uma lista de treze qualidades, 46% do eleitorado prioriza atributos associados à honestidade, como “ter palavra” e “ser sincero”. Ou seja, o eleitor tem levado muito mais em conta a firmeza dos princípios éticos que orientam a vida, ou o comportamento dos candidatos.

Ao lado de debates de idéias, os compromissos assumidos durante as eleições passam a ter um peso importante, pois estão sendo cobrados. Afinal, os brasileiros não só estão deixando de ter memória curta, como também estão preferindo os candidatos que apresentem propostas realistas, deixando de lado projetos popularescos e vazios. Além disso, a pesquisa também evidenciou que a idéia de eficiência administrativa está, agora, diretamente ligada à confiabilidade, e não mais ao número de obras tocadas por determinada administração.

Tenho percorrido dezenas de cidades, visitado aos bairros mais distantes da cidade de São Paulo, comparecendo a debates em diferentes entidades, discutindo estratégias eleitorais e festejo a maturidade e a exigência do eleitor como a boa nova desta campanha.

Estes pontos de perfis que cito são algo que não identificam necessariamente um ou outro partido. Afinal, alguns partidos estão surpreendendo nestas eleições por estarem se comportando do modo que sempre condenaram. Portanto, não se trata de uma ou outra agremiação ser detentora da verdade, ou ser portadora dessas qualificações: isso transcende às estruturas partidárias.

Percebo também que, neste processo eleitoral, o voto está se definindo mais ao final, em uma demonstração que o eleitor está pensando muito antes de tomar a sua decisão. Concluo que neste acontecimento cívico, neste espetáculo democrático das eleições, o astro principal é, sem sombra de dúvida, o cidadão, que vem demonstrando sua crescente capacidade de ter uma vivência política que não se limita ao momento eleitoral. Nossa democracia agradece.

Arnaldo Jardim é deputado estadual e líder do PPS na Assembléia Legislativa de São Paulo – e-mail: arnaldojardim@uol.com.br.

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