Mercado

Receio da FAO com preço dos alimentos não é infundado

Ao longo do segundo semestre deste ano, as commodities agrícolas apresentaram persistente alta que passou a incomodar os funcionários da FAO. No mercado de grãos, as causas para a alta foram choques de oferta. Uma severa seca afetou a produção na Rússia e países importadores passaram a buscar grãos em outras regiões produtoras. Tal movimento levou a uma primeira rodada de alta, intensificada pela depreciação do dólar.

A segunda rodada de alta deve-se às perspectivas de produção, especialmente na América Latina, onde estão localizados dois grandes produtores mundiais, a Argentina e o Brasil. Em função do clima seco, o desenvolvimento das culturas pode ser prejudicado através da menor produtividade. Mas a alta de preços não se limitou aos grãos. O preço do açúcar atingiu níveis recordes.

A par das principais causas da alta das commodities agrícolas, seria justificável o receio da FAO com relação aos preços dos alimentos no ano que vem? Para responder a esta questão, devemos avaliar três fatores-chaves no mercado de commodities, que seriam a demanda por ração, alimentos e biocombustível (ou de maneira mais simples, os 3 F’s – feed, food and fuel).

A produção de ração tende a se elevar em 2011 por conta da alta da produção de aves e suínos. As projeções do Departamento de Agricultura de 2011 apontam para uma alta de 2,4% da produção global de carne de frango e 1,9% para a produção de carne suína. A elevação da oferta se deve a um consumo maior, estimulada pelo aumento da renda, principalmente nos países emergentes, onde haverá maior contribuição para expansão econômica mundial.

A procura por alimentos também deve subir em 2011. De um lado, puxado pelos países emergentes, onde cada vez mais uma parcela da população deve integrar a classe média. Nos países desenvolvidos, a gradual recupe ração melhora a situação no mercado de trabalho, levando o consumo para níveis anteriores à crise. Por fim, avalia-se que a demanda por biocombustível não deve se reduzir, muito pelo contrário.

Entretanto, até agora se olhou somente pela ótica da economia real. Com os juros nos países desenvolvidos em baixos patamares, espera-se que instituições financeiras busquem ativos de maiores risco e com potencial de valorização, como as commodities agrícolas.

Portanto, o receio da FAO com os preços dos alimentos não é infundado. Os estoques mundiais de milho estão em níveis baixos, o que manteria os preços nos atuais patamares. Porém, um eventual choque na produção poderia provocar novos repiques, já que o balanço entre oferta e demanda é apertado.

É ANALISTA DE INTELIGÊNCIA ESTRATÉGICA

DA BRASIL FOODS

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