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Raudi cria metanol ecológico, a partir da palha da cana

O combustível será produzido no norte do PR e vai competir com o produto fóssil, hoje importado. A Raudi, especializada no aproveitamento industrial de subprodutos ou excedentes da atividade sucroalcooleira, se prepara para lançar no mercado brasileiro o “metanol verde”, produzido a partir do bagaço e da palha da cana-de-açúcar. Trata-se de um projeto pioneiro no País (e no mundo), patenteado e desenvolvido pela empresa em parceira com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT), segundo afirma Adriano Fiaschi, consultor e coordenador do projeto de gaseificação de biomassa e síntese da empresa. “O metanol produzido com subprodutos da cana será idêntico ao feito a partir de materiais fósseis, com a diferença que o nosso produto será totalmente ecológico, 100% renovável”, diz Fiaschi.

O Brasil é importador de metanol derivado de petróleo. Em 2005, foram gastos US$ 67 milhões com a compra do produto importado e a tendência é de que essa dependência do mercado externo cresça nos próximos anos, puxada sobretudo pela avanço acelerado da produção de biodiesel – combustível feito da mistura de óleo vegetal (de soja, mamona, sebo bovino, entre outros) e um reagente, que pode ser o álcool etílico (de cana) ou metílico (do petróleo). Apesar da oferta abundante de álcool no Brasil, a maioria dos fabricantes de biodiesel prefere utilizar o material fóssil na composição do combustível, pois ele oferece maior rendimento e custo inferior ao valor gasto com a utilização do produto derivado da cana.

Segundo Fiaschi, a Raudi pretende investir mais de R$ 10 milhões na fábrica de metanol ecológico, que está prevista para entrar em operação dentro de três anos. Parte dos recursos investidos na unidade industrial, diz o consultor, virá da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), a agência de fomento do Ministério da Ciência e Tecnologia. “A idéia inicial é produzir de 200 mil a 250 mil metros cúbicos por dia”, afirma o consultor da empresa, que espera abocanhar parte do mercado que hoje é abastecido pelo produto importado. “Nosso metanol será bastante competitivo”, garante Fiaschi.

Por questões estratégicas, a Raudi, com sede na capital paulista, optou por começar a produzir o metanol no município de São Carlos do Avaí, a 30 quilômetros de Maringá, no norte do Paraná. A empresa já mantém nesse local uma unidade produtora de bicarbonato de sódio – também feito de maneira totalmente ecológica, por meio da utilização de gás carbono (CO) residual do processo de fermentação da cana. Além de ser uma grande produtora de cana-de-açúcar, a região paranaense, de acordo com o consultor, é uma das maiores consumidoras de metanol do País, por abrigar um pólo moveleiro, um dos segmentos que mais utilizam o combustível. Ainda segundo o consultor, o projeto da Raudi, que começou a ser desenvolvido há cerca de dez anos, ganhou fôlego a partir da explosão, este ano, de projetos no País ligados ao biodiesel, com a participação de empresas de peso, como a Petrobras, o grupo Bertim e a esmagadora de soja Caramuru.

De acordo com o consultor, a parceria com a Cooperativa Agrícola Regional de Produtos da Cana (Coopcana), também instalada em São Carlos do Ivaí, será fundamental para o sucesso do projeto. Desde 2003, quando foi erguida a fábrica de bicarbonato, a Coopcana fornece o CO renovável para a planta da Raudi, material que antes tinha como único destino a atmosfera. Agora, a destilaria da cooperativa se compromete a alimentar o novo projeto da empresa paulista, vendendo, a preços baixos, os restos da cana – palha e bagaço -, não aproveitados pela usina. “Atualmente, a maioria da palha das plantações de cana da região é queimada no campo, gerando problemas ambientais”, diz o consultor. Ainda de acordo com Fiaschi, o uso do bagaço para projetos de cogeração não é habitual na região, pois o Paraná é auto-suficiente e até exportador de energia elétrica. Assim, a Raudi, continua o consultor, cria oportunidades para que os produtores da região consigam agregar valor à produção, ao mesmo tempo que é beneficiada com a entrega de matérias-primas de baixo custo, o que vai tornar o produto final (metanol) altamente competitivo em relação ao combustível concorrente, de origem fóssil.

Além disso, a proposta de reaproveitar os subprodutos da cana para produzir combustível vai gerar créditos de carbono para a empresa paulista. “O mercado de carbono, com certeza, será uma das nossas fontes de receita”, afirma Fiaschi. Já o IPT de São Paulo, parceiro no projeto, terá participação nos royalties que serão gerados pela utilização da tecnologia.

Processo de gaseificação

O metanol verde é obtido por meio do processos de gaseificação da biomassa da cana, que geram gases de síntese, como o monóxido de carbono e o hidrogênio. O gás de síntese é comprimido a pressões elevadas e passa por um reator catalítico, produzindo o combustível líquido.

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